Professora lança campanha para promover o acesso à leitura por pessoas cegas, de baixa visão e surdocegas
Campanha Linha Braille Acessível 2022 é a iniciativa que visa o desenvolvimento acadêmico e profissional de pessoas com deficiência visual.
Ler um livro sentindo suas páginas nas mãos é um prazer incomparável e um ótimo exercício para o cérebro. Mas um grupo significativo de pessoas enfrenta algumas barreiras para ter acesso à leitura impressa.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no Brasil existem 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual e 40 mil pessoas com surdocegueira. Muitas dessas pessoas utilizam o Sistema Braille para ler e escrever.
Livros em Braille são raros, além de ocuparem um espaço muito grande nas estantes, devido a que o texto em Braille é mais extenso e volumoso. Para compreender melhor o que isso significa basta saber que a Bíblia Sagrada completa em Braille possui 38 volumes e pesa aproximadamente 40 kg. Enquanto que uma Bíblia impressa comum mediana pode pesar bem menos de 1 kg e ocupar pouco espaço.
Daí a importância da Linha Braille. Um equipamento que permite a leitura de livros que estejam em formato digital, além do acesso ao texto da tela de computadores e celulares e a escrita de textos através do teclado Braille.
Ao sentir-se privilegiada por ter uma Linha Braille, a professora Cristiana Cerchiari, mestre em Letras, idealizou a Campanha Linha Braille Acessível que teve início no dia 8 de maio de 2021.
“Eu levava a Linha Braille para que os alunos pudessem utilizar para ler o dicionário. Ouvi histórias de pessoas que tentaram comprar e não conseguiram. Então durante a pandemia eu tive essa ideia para tentar ajudar as pessoas com deficiência visual que estavam isoladas em suas casas sem qualquer acesso à leitura”, comentou Cristiana.
A professora Solange Dalibera, integrante da equipe de apoio da Campanha Linha Braille Acessível 2022, comenta que a leitura é importante para desenvolver o senso crítico, enriquecer o vocabulário e facilitar a escrita.
“Crianças estão lendo menos e utilizando muitas palavras abreviadas. Sem o hábito de leitura, a escrita é prejudicada”, acrescentou Solange.
Este ano, a Campanha iniciou sua 2ª edição com oito pessoas inscritas. A ideia é que cada uma delas receba uma Linha Braille até dezembro. Mas para que isso aconteça será necessário arrecadar o valor de 88 mil reais, já que se trata de um equipamento de custo elevado.
O modelo de Linha Braille utilizado na Campanha é o “Braille One” com valor de mercado que varia entre os 13 e 15 mil reais. No entanto, para a Campanha, o equipamento é adquirido por 11 mil reais.
De acordo com Cristiana, a Linha Braille é leve, portátil, não usa papel, permite a edição de texto e leitura da tela do celular e computador.
O aparelho é capaz de armazenar quantos livros couberem em seus 32 Gb de memória interna, além de contar com entradas para pen-drive, cartão de memória e conexão por bluetooth.
Existem outras tecnologias chamadas assistivas que auxiliam no processo de leitura e escrita da pessoa cega ou com baixa visão.
A reglete e punção, por exemplo, inventada por Luis Braille no século XIX ainda é bastante utilizada, no entanto furar ponto por ponto durante muito tempo pode provocar tendinite além de ser um processo bastante lento.
A máquina Perkins, outro equipamento utilizado para a escrita em Braille permite apenas 1 cópia por vez, é pesada, difícil de transportar e faz muito barulho ao ser acionada, o que torna constrangedora sua utilização em uma sala de aula, por exemplo.
De acordo com Bianca de Oliveira Cyrino, graduanda em Engenharia Civil e integrante da equipe de apoio da Campanha, a Linha Braille de longe é a melhor tecnologia assistiva porque tem um software muito bom para acessar o que está na tela e permite ao usuário selecionar o que deseja ler.
“A Linha Braille é a chave para melhorar a acessibilidade à leitura e escrita da pessoa com deficiência visual”, afirmou Bianca.
De acordo com Ingrid Araújo, designer gráfico e integrante da equipe de apoio da Campanha, os leitores de tela e recursos em áudio causam cansaço e o uso prolongado de fones de ouvido pode gerar problemas auditivos a longo prazo.
“Pessoas cegas que não usam o Braille podem ficar com uma escrita empobrecida”, refletiu Ingrid.
Segundo Cristiana, a leitura em Braille abre portas de acesso profissional, pois fica muito mais fácil o acesso aos detalhes da ortografia.
O áudio limita a percepção dos erros ortográficos e a percepção do ambiente ao redor.
A professora ainda diz que tanto na Linha Braille quanto no papel vem o contato com o concreto que ajuda a compreender a localização das letras nas palavras, conceitos de antes e depois, esquerda e direita, inclusive o cursor do computador, que é um recurso totalmente visual e geralmente acessado com o uso do mouse pelas pessoas que enxergam.
As inscrições para a Campanha Linha Braille Acessível 2022 estão encerradas. Mas os interessados poderão se inscrever para a próxima edição de 2023. Podem participar pessoas cegas, de baixa visão ou surdocegas.
Para a participação de menores de idade é necessário que um responsável adulto se inscreva.
As doações para a Campanha podem ser feitas por transferência ou depósito bancário para:
- 033 – Banco Santander
- AG 0663
- Conta Corrente: 13005504-5
- CNPJ 07.467.811/0001-46
- Razão Social: Centro Brasileiro de Apoio Pedagógico Especializado à Pessoa com Deficiência Visual – Projeto Acesso.
Enviar o comprovante de depósito devidamente identificado para o e-mail: [email protected]
Você também pode ajudar acessando o perfil da Campanha no Instagram e compartilhando essas informações. @linhabrailleacessivel