Uma reflexão sobre como as inseguranças diárias têm impactado as relações, os papéis e funções dentro da família
As dúvidas como adoecimento, um transtorno moderno nas relações familiares. Talvez essa frase cause certo estranhamento, afinal, ter inseguranças diante de decisões, principalmente em relação aos filhos, é normal.
Por isso já é tão conhecida a frase “filhos não vem com manual de instrução”, por tanto, não saber exatamente o que fazer, faz parte do processo de criação e educação. Mas, quando isso se tornou uma espécie de adoecimento, transtorno?
Segundo alguns pesquisadores, como Tania Zagury, essa mudança pode ter começado a ocorrer em meados do final da década de 60 em diante. Onde antes alguns conceitos e valores nunca questionados começaram a ser discutidos. Principalmente em relação a criação dos filhos.
Antigamente, o modelo de educação familiar era pautado no respeito e na ordem, através de punições, muitas vezes físicas, e posturas ameaçadoras. Quem nunca ouviu a frase “bastava meu pai me olhar…”.
Havia muito pouca informação disponível sobre o desenvolvimento infantojuvenil, estudos sobre a relação de criação e traumas, etc. Porém, se constatava que a ordem, o respeito e a funcionalidade existiam.
Hoje em dia, através de muitas fontes de pesquisas feitas, temos o conhecimento que: bater nos filhos é prejudicial, validar os sentimentos e desejos deles é positivo, diálogos abertos são mais recomendados, estimular a criatividade e socialização auxilia na formação de adultos saudáveis. Entre outras.
As dúvidas como adoecimento
Porém, a percepção é que mesmo aplicando todas essas técnicas, as crianças e adolescentes estão cada vez mais adoecidos na saúde mental e os pais sem o controle.
Ficando a sensação que os pais de antigamente, sem tantas informações sobre o desenvolvimento infantojuvenil, conseguiam ter mais autoridade e respeito de seus filhos.
Então, o que está acontecendo? Parece que em uma época quando não se tinha tanto conhecimento havia mais ordem, e, quando temos acesso a tantas informações e orientações o caos familiar parece dominar?
Uma das respostas está justamente nesses questionamentos, e traz uma contradição bem interessante. O excesso de conhecimento e informação parecem gerar não dúvidas normais, mas quase patológicas.
Para analisarmos melhor, devemos entender que as informações atuais vieram através de pesquisas e de seus respectivos especialistas.
Diversas áreas do conhecimento, como: psicologia, pedagogia, sociologia, medicina, etc., buscaram ao longo de décadas aprender mais sobre o desenvolvimento e comportamento infantojuvenil.
Os resultados dessas pesquisas, trouxeram muita luz sobre o assunto, com contribuições incríveis.
Porém, essas informações passaram do âmbito profissional para toda a população leiga, que em alguns casos são mal interpretadas, ou explicadas de forma tão contundente que colocam os pais em uma posição de insegurança em relação ao que fazer.
Afinal, todos os pais, dentro de uma normalidade, querem acertar. Proporcionar o melhor aos seus filhos. Porém, a condição humana impede a perfeição. Assim, erros serão cometidos nesse processo.
Porém, atualmente, esses erros estão com uma carga muito pesada. Afinal, através de tantas informações, errar pode significar traumas, disfuncionalidade, diagnósticos difíceis, recriminações, etc.
Assim, muitos pais diante da dúvida sobre o que fazer, ou, decidir, temem o erro e buscam os especialistas que parecem ter a certeza absoluta sobre como agir.
Terminam por terceirizar sua função, aliviando a sensação de culpa. Pois, nenhum pai ou mãe quer ser o responsável por traumatizar seus filhos.
Antigamente, não que a educação era a ideal. Porém, os pais se sentiam mais empoderados de sua função.
Acreditavam que sabiam o que seria melhor para os filhos. Haviam dúvidas, mas, a certeza de que sabiam disso, os faziam agir e assumir as consequências de suas escolhas.
Os filhos percebem esse movimento, a diferença entre ter pais seguros do que fazem e dizem, e, de pais que parecem sempre reféns de suas inseguranças. Essa percepção impacta o relacionamento familiar.
O excesso de informação despejada, de especialistas, parece sinalizar aos pais que eles não sabem o que fazem. Que para cada decisão, existe uma fórmula correta, um jeito infalível de acertar.
Parece até em alguns momentos, que enfim o manual para a criação dos filhos foi concretizado. Porém, as instruções nele não são claras.
Se antigamente bastava aos pais receberem recomendações mais objetivas como: amamentar de tantas e tantas horas, evitar tal alimento, etc. Hoje em dia, além dessas orientações, entram outras mais subjetivas, complexas.
Você deve dar espaço ao seu filho, mas também não muito. Seu filho deve participar das decisões da casa, mas nem tanto. E por aí vai.
Assim, as dúvidas só aumentam. Paralisam os pais, retiram deles a autoridade. Afinal, se enxergam ignorantes diante de tantas pesquisas e especialistas.
É importante afinarmos essa comunicação. Estudos e pesquisas são importantes, especialistas também. Porém, estes não podem se colocar no lugar único de saber. Devem ser apenas uma ponte, facilitadores do resgate dos pais em seus papéis.
Os pais devem voltar a entender a importância de seu papel, insubstituível, acreditarem em sua intuição, observação, discernimento e bom senso para educarem seus filhos. Sobre isso, não há que se ter dúvidas.
Porém, se ainda sim você pai ou mãe, precisarem de ajuda em alguma questão, convido a participar de um processo terapêutico comigo.
Construiremos juntos esse processo, irei ajudar nesse resgate, sendo até especialista, mas nunca dona do saber.
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