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Aparências X Relacionamentos

Após a matéria da “Pornografia, pode?” Recebi alguns depoimentos de homens e mulheres a respeito do assunto, a maioria comparte da ideia de que a pornografia é algo que prejudica a si e ao casal, e muitos já o aboliram de suas vidas, porém em alguns dos depoimentos algo muito interessante me chamou a atenção, as pessoas relataram que se refugiavam na pornografia, pois encontraram nela uma busca por algo que não estava sendo franqueado por amor, respeito e companheirismo pela (o) parceira (o). Imediatamente a imagem de uma muleta me veio à mente, e sustentou ainda mais minha convicção de que a pornografia é utilizada por pessoas casadas ou com relacionamentos estáveis como um artifício, uma desculpa para manter algo que não está bom em pé, um sonho ou fantasia do que se espera da pessoa amada e não é dado de forma espontânea. Até onde chegaremos? Até onde somos capazes de ir apoiando nossas vidas nas aparências, na hipocrisia, mascarando a dor e sofrimento do abandono dentro do lar?

E o desabafo de uma das pessoas veio na frase “quem eu amo e desejo me priva do básico” e complementou dizendo que é humilhante não ser desejado por sua parceira, pois “quando esta o despreza, a busca pela pornografia supre, mesmo que superficial e indiretamente o papel que o homem espera da mulher…”, é claro que o vice-versa também acontece.

Então, me pus a recordar quantas pessoas já atendi e que manifestaram esta mesma insatisfação, mas por medo e, muitas vezes, comodidade, continuam a enfrentar a humilhação e o desprezo, que geralmente saem da cama e se estendem para o dia-a-dia da vida a dois.

Conversando com algumas pessoas que me deram seus depoimentos, manifestei que a intimidade sexual com seus parceiros precisava aumentar e que existem muitos tratamentos hoje em dia que tem o propósito de melhorar a vida sexual do casal, mas uma das respostas para esta minha afirmação foi taxativa “mesmo com tantos tratamentos propostos nos dias de hoje muitas mulheres não cedem e não permitem a intromissão de especialistas e tratamentos”.

Observo que muitas mulheres estão fechadas à intimidade sexual com seus parceiros, parece que seus corpos não precisam mais de sexo, para o lindo encontro entre dois corpos, para o despertar das energias íntimas geradas por ele e com isto acabam enfraquecendo suas vidas a dois e a família, deixando brechas e disfunções entrarem em seus lares. Isto quando não fazem sexo com seus parceiros para cumprir tabela. Imagino que instante de sofrimento e a grande torcida que muitas fazem para que a ejaculação do parceiro seja rápida, para que o tormento acabe de uma vez. Parece exagero? Mas é a realidade de muitos casais…

Que energia íntima uma pessoa que não gosta de ter seu corpo tocado, que reprime mudanças de posição durante o sexo, que afasta o corpo do outro durante a relação pode transmitir para o parceiro? Isto quando não os humilham, sexualmente falando, acabando com suas autoestimas. Quantas pessoas inseguras de sua sexualidade, de seus corpos, de suas vontades.

Já escutei muitos homens e mulheres arrumando desculpas para o comportamento sexual de seus parceiros, ou porque trabalham demais, ou estão estressados, ou a família (pai, mãe, irmãos) gera muitos problemas, ou porque a mulher tem muita TPM, ou os filhos tomam muito tempo e “atrapalham” a vida sexual, e por aí vai… Os casais estão se abandonando, se descuidando.

E no meio de tantas desculpas o tempo vai passando e o problema só piora, vejo as pessoas na terceira idade arrependidas por terem mantido relacionamentos findados durante sua juventude, as observo com a autoestima destruída e cada vez mais maltratados por seus parceiros, as mulheres parece que vão se transformando em mães dos maridos, que por sua vez se portam cada vez mais como crianças.

Já escutei pessoas que acreditavam que nos outros aspectos de suas vidas, tirando o sexo, tudo corre às mil maravilhas com seus parceiros, mas se mostram inseguros, “pisando em ovos”, submissos e mesmo que outras pessoas os alertem, não se dão conta e vão segurando cordas insuportáveis de serem mantidas, a juventude se esvai, o respeito por si mesmo acaba, a vida passa.

A realidade, meus caros, é que quando as coisas na cama não vão bem, nada vai bem, nem com desculpas, nem com pornografia, nem com garota de programa, nem com amantes, não dá para encobrir o “sol com a peneira” para sempre, as consequências sempre aparecerão.

E aí me pergunto, por que permitimos sexo sem intimidade e entrega com nosso parceiro, mas queremos manter o casamento?

Vejo que ainda hoje muitos casais estão juntos por causa dos filhos. Que fardo os inocentes carregam nas costas pelo resto de suas vidas, quantas crianças com déficit disto ou daquilo, com ansiedade, com problemas de aprendizagem, as crianças sentem quando o ambiente de casa não é saudável, sentem os conflitos que o pai e/ou a mãe passam e reflexamente se mostram crianças difíceis, rebeldes, doentes, pois quando o casal não está bem, a criança automaticamente se sente desprotegida e vulnerável, o trauma é muito maior do que a separação realmente causa na vida delas. E o que será que os filhos mais querem? Ver os pais felizes, juntos ou separados, mas felizes e satisfeitos com suas vidas, pois pais que vivem brigando ou estão frustrados em suas relações, estão tristes, descontentes e angustiados.

Há pessoas que acreditam que o amor tolera tudo, é perdão e compreensão, certamente o é, realmente penso que isto é uma realidade, mas até que ponto? Fomos ensinados a aguentar tudo em nome do amor, muitas pessoas são abnegadas e se anulam numa relação em nome do amor, a resiliência é outra característica de quem muito se doa, mas pouco recebe em troca, mas em nome do amor continuam a se doar, até parece a época das Cruzadas! Guerras e conflitos em nome de Deus. Hoje nos humilhamos e nos desvalorizamos em nome do amor… Mas tudo precisa ter limites, e quando os ultrapassamos caímos na tolice, na ingenuidade, na rigidez, no egoísmo e na teimosia. O amor não é suportar tudo e aguentar calado, não é cobrança, ele é desprendido, recíproco, espontâneo, ele faz a pessoa crescer e transbordar, para estender toda sua energia e contagiar a família, os filhos, os amigos e quem mais estiver em sua órbita, e como tudo, precisa evoluir e para o amor evoluir precisa de elementos de conhecimento, principalmente de si mesmo e do outro, para ir se transformando em algo superior e consiga ser o elemento de fixação das relações humanas.

A reciprocidade e o respeito são básicos numa relação, a espontaneidade é fundamental para que nos sintamos amados, desejados e cuidados. Já presenciei muitos casais onde o carinho entre eles inexistia, pessoas carentes, pessoas frágeis, cobrando amor e carinho do outro, até onde vamos com tanta frieza? Com tanta abnegação e desvalorização?

Por que admitimos ser tratados com tanto desamor e descuido pelos parceiros? Por que as aparências tomam conta de nossas vidas e nos mantém presos onde já não existe o necessário para a vida a dois?

Pode até parecer que sou a favor da separação, da dissolução da família e outras coisas, mas a realidade é que nossos conceitos de família, amor, casamento, relacionamentos estão ultrapassados, não são revistos há séculos, se transformaram em crenças, que nos mantém atados às aparências, a sofrimentos desnecessários que acontecem por falta de conhecimento. Na realidade sou a favor da felicidade, do completo, da realização e da satisfação na vida a dois.

Há quem imagina que a instituição monogâmica é uma hipocrisia, num dos depoimentos que recebi a pessoa manifestou sobre os relacionamentos extraconjugais, que existem para suprir a carência sexual e afetiva que existe nos relacionamentos e que os menos corajosos partem para a pornografia. Interessante e real ponto de vista, porém o casamento é outro conceito que vejo muito equivocado ainda nos dias de hoje, fomos ensinados a casar para a vida toda, e isto é uma dádiva quando é realidade e quando há companheirismo, cuidado, amor e muita intimidade sexual, mas quando não é assim e as coisas vão por caminhos difíceis, manter um casamento pode se tornar um fardo para um ou para ambos, mas nossa educação diz que é para aguentar… E então, o que fazer? Aí vai da disposição de cada um em recomeçar ou malhar ferro frio.

O que sei e percebo é que os erros, a hipocrisia e as aparências permanecerão em nossas vidas enquanto os conceitos da cultura decadente não forem revistos e trocados por conceitos embasados na verdade e na realidade, pois se continuarmos como estamos realmente a família humana estará se extinguindo, pois permanecerá fraca, doente e vazia, continuaremos vítimas de uma sociedade que mantém suas vítimas presas e sofrendo.

Que a alegria, a felicidade, o companheirismo, o carinho e o sexo com entrega e muita intimidade sejam seu Norte e que as aparências onde quer e com quem quer que estejam se esvaiam e a realidade se torne presença em sua vida.


Priscila Calil Hermann

Perfecto Sexualidade

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