Galinhas felizes

Galinhas felizes: argumento de venda ou puro desejo humano?

Atualmente tem chamado muito a atenção o tratamento dado às galinhas na busca de caminhos e formas de fazê-las felizes

Galinhas felizes em imagens que atestam o estado de ânimo estão nos posts digitais com chamadas para venda de ovos.

Os estudos anunciados:

Na mídia encontramos vários estudos que descrevem as principais características de galinhas felizes e que afirmam que elas têm uma vida emocional complexa e são capazes de sentir tristeza, medo e ciúmes e também de sentir empatia, altruísmo e felicidade. Também a liberdade de movimentos para poder ciscar, empoleirar e socializar torna as galinhas mais felizes.

Refletindo sobre o ser humano e a sociedade:

Interessante analisar este tema sob a ótica da sociedade em geral e traçar um paralelo entre as aves e os humanos. A mudança no tratamento das galinhas não ocorreu isoladamente, mas faz parte do todo da sociedade na qual vivemos.

A partir da industrialização, da necessidade de aumento da produção e de melhores resultados financeiros, tanto galinhas quanto humanos mudaram as formas de produção considerando valiosas e corretas as novas propostas.

Há não muito tempo as pessoas e as famílias moravam em casas com terreno, quintal e jardim e as galinhas ficavam soltas, às vezes delimitadas por um galinheiro ou numa área em que não pudessem atacar a horta da família.

Faziam parte do dia a dia das pessoas, tinham até nomes e acredita-se que fossem felizes à época.

Uma peraltice na chácara:

Lembro de uma situação em que as galinhas da casa começaram a botar ovos com a gema e clara misturadas, e, após muita observação, a dedução foi de que faltava algum componente na alimentação, talvez fosse falta de cálcio. A família providenciou o cálcio, enriqueceu a alimentação e nada mudou.

A pesquisa continuou e descobriu-se que havia uma competição organizada por uma das crianças da casa: as galinhas eram colocadas em cima do galinheiro e a alimentação era distribuída em distâncias diferentes e as que quisessem comer, teriam que pular muitas vezes porque a distância ia sendo aumentada, gradativamente, e, se não conseguissem alcançar o alimento ficariam com fome. Assim foi desvendado o mistério das personagens principais.

Prosseguindo na reflexão social:

Há uma profunda semelhança entre as galinhas e as sociedades nas quais vivemos, voltadas ao lucro, ao trabalho exaustivo e sem medida, ao acúmulo de bens e de dinheiro.

A pressão sobre instituições e pessoas é tão intensa que faz com que se perca a medida entre trabalho, família, lazer e sejam buscados cada vez mais os resultados impostos e exigidos.

As galinhas foram aprisionadas em enormes granjas, iluminadas durante vinte e quatro horas e com tempo previsto para a maior e melhor postura de ovos.  O banho de areia, a grama, os bichinhos da terra, o sol, o dia e a noite passaram a não existir, esse universo que era o delas desapareceu.

Mas com o aumento da produção, a qualidade dos produtos caiu, os ovos perderam parte das suas qualidades alimentares e as galinhas, após o tempo que para elas estava previsto, começaram a ser mortas e vendidas como galinhas de granja com preços bem menores do que das galinhas caipiras.

Com as pessoas aconteceu, e, ainda acontece o mesmo e isso fica expresso nas formas atuais de viver, nas exigências do mundo do conhecimento e do fazer. Há uma grande quantidade de trabalhadores afastados devido ao estresse, ao cansaço extremo, a mudança de funções sem preparo prévio.

Recentemente, o uso de tecnologias das quais ainda não tem domínio, leva também à queda de qualidade do trabalho que estão desempenhando e impacta fortemente na vida pessoal e familiar.

O que se pode concluir e questionar?

Então a busca por caminhos que façam as galinhas felizes seria também um sinal de que as pessoas também precisam ser felizes, precisam rever seu dia a dia, precisam valorizar a si mesmas?

No atendimento à felicidade das galinhas, observa-se que as mesmas são criadas livres e soltas, não enjauladas, podendo se empoleirar nas árvores, ciscar a terra, comer os verdes e receber ração balanceada.

Podem, assim, expressar seus comportamentos naturais e como consequência botar ovos com maiores qualidades alimentares. Vivem por longo tempo e quando deixam de botar são vendidas como uma carne especial:  a de galinha caipira, passando a ter um novo valor.

  • A busca por galinhas felizes e a volta à sua criação na natureza não constitui parte da busca ansiada por nós mesmos?
  • Não estaremos usando de subterfúgios para buscar o que foi se perdendo com as mudanças da sociedade na qual vivemos?
  • Estaremos transferindo para as galinhas o que nós mesmos queremos ser e ter com o direito de demonstrar nossas emoções, sentir alegria, tristeza, medo, coragem, amor?

Talvez, refletindo e mudando a vida das galinhas, nós estejamos querendo expressar para produzir o nosso melhor, sem exigências absurdas, apenas trabalhar e ter direito ao lazer, priorizar afetos familiares e de amigos.

Creio que se conseguirmos fazer as galinhas felizes e usando das diferentes formas com que buscamos devolve-las ao seu habitat natural, a nossa felicidade como humanos que somos, poderá ser resgatada, reconstruída e como resultado teremos uma sociedade melhor.

Esse é um grande desafio que merece estudos, pesquisas e acompanhamento para sabermos em que medida a felicidade com liberdade ocorrerá para os humanos a partir da mudança da vida das galinhas felizes.

Instagram: @cristinasurek

Clique aqui e acesse, curta e compartilhe minhas outras matérias

Foto de Cristina Czerwonka Surek

Cristina Czerwonka Surek

Compartilhar

Aproveite descontos exclusivos do clube aEmpreendedora

Faça seu pré-cadastro abaixo e receba no seu whatsapp e e-mail descontos imperdíveis.