A vida é uma ciranda de cabeças e corações entre o medo e a mudança

O sentido da vida se reflete no movimento das pessoas diante da mudança

A vida é uma ciranda que une pessoas, as mais diversas, mão com mão, desejosas de cantar e dançar para alegrar o movimento constante e espantar o medo.

As cirandas

Na tentativa de refletir sobre o medo, presente nas pessoas em sua relação com a mudança, entro nesta ciranda para a qual convido vocês.

Numa ciranda há som e movimento. Existe o mestre que dá o ritmo e a melodia. Com as mãos dadas, as pessoas circulam, giram, agitam os corpos, cantam, dançam, pensam, vivem emoções, avançam no espaço com seus passos.

Ao pensar sobre ciranda, celebro aqui Lia de Itamaracá, a cirandeira mais conhecida do Brasil e fora do país. Iniciou a atividade com 19 anos, e, hoje com mais de 70 continua mostrando seu dom ao mundo.

Me encantei com a personalidade cativante desta artista pernambucana e com seu Espaço Cultural em que atende à comunidade, desenvolvendo talentos. Conheça Lia e suas cirandas. (1)

Na ciranda da vida, o mestre cirandeiro é o tempo. O movimento de todos segue a sua direção e os ritmos, mas cada um tem sua experiência pessoal, vive de sua forma a dança. É gente de toda a idade, em folguedos ou em lições aprendidas.

“Os passos da dança variam com a própria dinâmica da manifestação. Geralmente começa com uma pequena roda de poucas pessoas, que vai aumentando à medida que outros chegam para juntar-se ao grupo.” (2)

Uns observam enquanto outros dançam e cantam. O ritmo é emocionante e deveria contagiar a todos. Em certos momentos, quem antes só observava, começa a dançar. Mas por alguma razão, alguns ficam de fora.

Ficar de fora é viver a exclusão. Excluir-se ou perceber-se excluído. Não ter acesso à ciranda ou não desejar arriscar a mudança para aprender novos passos. A decisão, portanto, é fugir, ou, entrar na roda, pois o movimento não cessa.

Há momentos em que se pode perder o compasso e desafinar. São fases a serem superadas no próximo passo dado e na variação que podemos criar. Mas há motivos que podem impedir a mudança e a alegria da dança e do canto. Têm a ver com o medo.

A mudança e o medo

Um dos aspectos que mais tem sentido, hoje, é saber como nos relacionamos com a mudança. Temos informações multiplicadas, redes sociais em conexão permanente, estímulos variados que nos bombardeiam e amigos não conhecidos que visitam nossas telas todos os dias, da manhã à madrugada.

Curto, compartilho, publico, envio carinhas de emoção, às vezes no automático, só para parecer presente e por dentro de tudo. Busco atualização, ou, intimidade virtual, conforme o meu desejo, mas o medo me envolve: notícias verdadeiras / fake news; afetividade / abuso; aceitação / bloqueio…

Perigos, ameaças e riscos existem na realidade virtual e local. Há violência doméstica, bullying entre colegas, abandonos inesperados. O medo nos alerta e cumpre sua função quando é passageiro. Ele deve se diluir ao darmos o próximo passo em nossa vida.

O medo que impede o movimento é aquele que permanece e se estende por mais tempo do que é preciso e saudável. Uma atitude que se instala e pode até ser identificada por outras pessoas através de nossos comportamentos.

Medo que sempre sinto ao abrir a porta de casa; ao chegar a um lugar desconhecido, em todos os dias; ao chamar qualquer motorista para transporte; ao ser abordada por um mendigo hoje ou amanhã, e, em tantas outras situações…. Os medos variam, mas todos eles são criados pela mente.

Como contadores de histórias que somos, fazemos suposições que nos parecem reais e podemos até adotar as crenças de outros como nossas, e, assim alimentar mais ainda o medo.

Uma história acontecida

Em 1965, quando era adolescente, um mendigo surgiu à porta de nosso apartamento. Minha avó e minha tia começaram a dar-lhe almoço. Ele não falava, parecia ser mudo. Todos os dias esperava, calmamente, no vão das escadas, seu prato.

De súbito, gesticulou pedindo papel para escrever e, em alguns dias, concluiu o relato de que era um homem do interior que se perdeu na vida pela bebida e abandonou a família. História triste, igual a muitas outras, mas era possível de ser mudada, pois ele indicou, ao escrever, o nome da filha e da sua cidade.

Porém não houve mudança da realidade, apesar do convívio diário que tivemos com ele, pois a suposição trazida por amigos foi ameaçadora. “Um homem forte e mal-intencionado pode atacar três mulheres bem-intencionadas e fracas.”

O medo se instalou e impediu qualquer movimento de ajuda. As dualidades assustadoras – forte/fraco; mal/bem; homem/mulher – pareceram ameaças reais e formaram a tela mental das três envolvidas na situação.

Aprendi com essa situação que o medo pode invadir nossas vidas e conduzir ao abandono de pessoas que poderiam ser ajudadas por nós.

Reflito, hoje, que até o momento em que o homem não tinha voz e era apenas um mendigo, sem história, não havia sido considerado ameaça. Somente quando iniciou a escrita e adquiriu uma identidade, transformou-se em ameaça. Qual a razão disso não sei dizer…

Assim como a situação que contei, cada leitor tem muitas outras. Elas ficam por um tempo e se diluem, assim como o medo que cerca cada uma delas deve se harmonizar e ceder lugar à mudança.

O movimento precisa fluir na vida

Criamos imagens mentais, adquirimos crenças, decretamos ideias, julgamos pessoas, classificamos situações. Quase sempre dentro de dualidades. Comparamos e fazemos narrações, mentalmente, o tempo todo.

Distinguir entre o que são suposições daquilo que são riscos e ameaças reais é entender a extensão e a profundidade dos nossos medos. Mesmo que a situação possa parecer ameaçadora, sabemos que a atitude emocional está na nossa mente e que afeta nossa energia, mas poderá ser harmonizada.

No artigo anterior, fiz uma introdução sobre Jin Shin Jyutsu® e como harmonizar atitudes emocionais que bloqueiam a energia. Nos campos físico, mental, emocional e espiritual, sabe-se que “a energia é o entusiasmo em movimento”(3)

Essa Arte ancestral indica modos para que o movimento possa fluir em nossa vida. Uma prática de autoaplicação com essa finalidade é mostrada aqui por Erika Ramos.(4)

A ciranda e o que simboliza

A dança folclórica de origem portuguesa desperta o desejo de cantar e dançar com alegria, junto com outras pessoas, sempre em movimento. Encontrei na pesquisa que “ciranda” também é o nome de uma peneira que separa farinha e se origina do espanhol: “zaranda”.(5)

Na cabeça e no coração somos autores da vida, vivendo as diversas situações e sendo aprendizes junto aos demais. Para que o movimento não seja interrompido e prossiga com ritmo é preciso peneirar separando o que nos fortalece do que nos bloqueia, como o medo.

Lia de Itamaracá é autora de sua vida: através do movimento fortaleceu o talento da voz com a alegria da dança tornando-se a Cirandeira mais famosa até hoje.

Notas de Referências

  • (1) https://www.youtube.com/watch?v=zmwwFB_FvY8 Sambas e Dissembas – Lia de Itamaracá no canal Samba Sampa, publicado em 22 de agosto de 2014 (localizado na internet em 16 de março de 2019)
  • (2) http://folclorenordestino.blogspot.com/2007/12/ciranda.html Folclore do Nordeste, publicado em 30 de novembro de 2007 (captado em blog na internet em 18 de março de 2019)
  • (3) Burmeister, M. in O que Mary diz…citada em https://aempreendedora.com.br/o-movimento-da-energia-e-fonte-de-entusiasmo-e-harmonia-na-vida/
  • (4) https://www.youtube.com/watch?v=zZ5sCNHXQhoI TSE 1 – Como Jin Shin Jyutsu pode trazer mais movimento para sua vida no canal do Youtube apresentado e publicado em por Erika Ramos em 30 de julho de 2018 (captado na internet em 15 de março de 2019)
  • (5) http://www.terrabrasileira.com.br/folclore2/e33cirand.html Terra Brasileira – Brasil Folclórico Nordeste Ciranda (captado em blog na internet em 16 de março de 2019)

Compartilhar

Facebook
Twitter
LinkedIn
Email
Telegram
Pular para o conteúdo