Uma história sobre mães, esposas, tradições familiares, a luta pela sobrevivência.
Uma mãe, seus filhos e as alegrias da maternidade, que descreve a cultura do povo nigeriano; assustadora e reveladora, tão distante da nossa realidade.
Um povo e seus costumes. Uma família de Iduza, da etnia igbo, a esposa mais velha, a esposa mais nova, seus filhos. Nnu Ego (filha de Ona e de Agbadi), uma mulher atormentada, seu pai Agbadi que era um grande líder tribal, seu segundo marido Nanife.
Uma história sobre mães, esposas, tradições familiares, a luta pela sobrevivência.
Há alguns anos atrás, me deparei com esse livro, o livro foi escrito em 1979, porem só foi lançado no Brasil (pela TAG – clube de livros) em 2017.
Eu já fui assinante da Tag curadoria, e mesmo depois de não participar mais como assinante sempre segui a TAG nas redes sociais, quando vi que a curadora desse livro era ninguém menos que Chimamanda Adichie (escritora nigeriana, super-reconhecida por seus livros hibisco roxo, meio sol amarelo, sejamos todos feministas, no seu pescoço, americanah, entre outros, fiquei super intrigada pelo livro).
Porém tentei comprar, emprestar, baixar, sem sucesso.
Somente agora, quase dois anos depois foi que eu consegui ter acesso ao livro.
Claro, que como sempre, tento manter as expectativas baixas, mesmo lendo muitas resenhas positivas sobre o livro, depois de tantos livros lidos, nem sempre é fácil um livro me surpreender, ainda mais um escrito em 1979, e somente agora lançado no Brasil, digo que fiquei um pouco com pé atrás. Mas, como tudo tem seu tempo certo, o timing do livro não poderia ser mais perfeito.
E foi avassalador, que experiência, meus amigos, que livro é esse…
Só posso dizer que a personagem principal Nnu Ego, não parou de me surpreender, sua resiliência, sua força, uma guerreira.
Que história, que choque cultural, que maravilha ter um livro que faz você enxergar a sua própria vida de outra forma, as alegrias da maternidade é um livro que te toca profundamente.
A nós mães e mulheres muito mais. Foi um tapa na minha cara, na cara das minhas reclamações cotidianas, meus questionamentos de vida, meus anseios, tudo mudou de sentido, tudo se transformou.
Quando você para… e analisa a maneira como os personagens deste livro vivem, é um choque muito grande, não só, mas seu marido seus filhos, suas outras esposas, pois simmmm, uma mulher naquele cenário foi feita para procriar, e de preferência filhos homens, para passar adiante as tradições e origens do patriarca da tribo, gerar descendentes.
E simmm ter que aceitar que quando você não esta sendo procriadora o suficiente, você tem que receber de bom grado a esposa mais nova, e se contentar em ser a esposa mais velha, e ainda quando o patriarca da família perde o irmão tem que aceitar também as esposas do irmão, e sustentar essas esposas e seus filhos…
São tantos choques culturais que muitas vezes a compreensão esbarra em nossa realidade, e você pode superficialmente imaginar como seria se isso acontecesse com você.
A dedicação dessa mulher para dar sustento e estudo aos filhos (claro, a prioridade era o filho homem e o mais velho), mas tamanha luta, tamanha coragem, tantos obstáculos a serem vencidos.
Além da mistura espiritual, a fé em seu “chi” que a mantem seguindo em frente.
Esse livro é para ser devorado, mastigado, lido e relido, absorvido de tal forma, que possamos compreender a nossa posição no mundo, nossa posição como mulheres, nosso papel social, cultural, vital.
Eu só posso agradecer de ter nascido aqui, neste país, mesmo com tantos obstáculos que nós mulheres ainda vivenciamos no Brasil, eu jamais conseguiria sobreviver naquela cultura.
Um mundo opressor, de tanta pobreza, onde a mulher não passa de um ventre, por onde passam tantos filhos. No caso dela nove, sendo que apenas sete sobreviveram.
A trajetória de Nnu Ego me toca a alma, me desestabiliza, e ao mesmo tempo me tira do eixo, me faz ter esse novo olhar sobre tudo a minha volta especialmente a maternidade e o que esperar (ou não esperar) dos meus filhos.
Chorei e ainda choro por essas paginas escritas pela Buchi Emecheta, com uma historia de vida também nada fácil, e que com palavras claras, simples, e profundas, me tocou profundamente.
Gratidão por mais um livro avassalador em minha vida.
Um romance que me deixou marcas, uma personagem que para mim será sempre inesquecível.
Boa leitura
Entrevistas da Buchi Emecheta:
Florence Onyebuchi “Buchi” Emecheta
- Nascimento: 21 de julho de 1944, Lagos, Nigéria
- Falecimento: 25 de janeiro de 2017, Londres, Reino Unido