Devemos cuidar da nossa “Criança Interior
Crianças reais versus adultos desesperados: vivemos num mundo desesperado por dinheiro e sermos notados e lembrados. Final, o que ganhamos?
Posso arriscar a dizer que o ganho seria: ansiedade, estresse, depressão, milhões de transtornos! Tendo a impressão de que a minha verdade é absoluta! Depois se perguntam: – meu Deus o que está acontecendo com o mundo?
Não é o mundo, mas nós seres humanos que estamos perdendo o senso de empatia, humildade e respeito.
Onde hoje tudo “virou normal”. Normal é a criança ficar horas e horas em frente a uma tela de celular para que os adultos possam ficar tranquilos; normal é um adolescente ficar na frente da tela de um computador num mundo virtual 24 horas por dia durante 365 dias do ano.
O que na realidade seria normal, é viver no mundo real apreendendo a lidar com todos tipos de emoções.
Minha avó Ana Maria dizia na minha infância o seguinte jargão:
“Piccolo (menina), vai chegar um dia em que o poste irá mijar no cachorro”,
Confesso que não entendia, mas hoje isso se tornou tão claro e verdadeiro, tudo faz o maior sentindo.
Os valores estão sendo trocados. Hoje em vez dos pais serem a hierarquia da casa é o filho que muitas vezes dita as regras. Há inversão de papeis.
Não quero dizer, que não devemos viver na atualidade, o que aqui expresso é um olhar para nós seres humanos, em quem estamos nos tornados!
Quando um adulto não tem tempo para ficar 30 minutos brincando com seu filho, quando dentro de casa a criança vê, escuta e sente um ambiente hostil, com gritos pais sem paciência, agressões físicas e psicológicas, neste momento eu me pergunto:
Qual a imagem que os adultos, pais e responsáveis estão passando para as crianças e adolescentes? Lembrando sempre que nós adultos somos espelhos para esses infantes. Eles repetirão tudo o que fizemos, nossos comportamentos e atitudes. Pensem nisso.
Vou relatar aqui uma cena que presenciei voltado de viagem:
“Era um final de domingo voltando da casa de minha mãe, depois de ter percorrido 380 quilômetros, numa cidade próxima da minha. Dirigindo tranquila, quando avisto uma lombada com faixa de pedestre, e por ela, estava passando uma família, a mãe com um bebê no colo, à frente o pai no celular, e ao lado uma criança de no máximo 4 anos.
Diminuído a velocidade (obvio), percebo que a criança estava atrás do pai. Quando o pai percebe aproximação, ele para de usar o celular, pega a criança, puxa como se dissesse: – Você não sabe que tem que atravessar de pressa?
O mais surpreendente e dolorido de tudo, foi assistir quando a criança chega na calçada, levar um tapa na cabeça dado pela mãe.”
Essa cena me dói até hoje, sempre que relato, levando a me questionar:
Quem são os adultos da história?
Há uma regra simples:
“Só damos ao outro aquilo que sabemos ou tivemos”.
Falo isso porque é de responsabilidade dos pais ensinar, e acima de tudo demostrar comportamento saudável, disciplina, diálogo e atitudes esclarecedoras, sendo além de pai, o melhor amigo de seu filho.
Isso é “bom comportamento”.
Todas as emoções não resolvidas, que não foram atendidas, situações dolorosas na infância do indivíduo, quando nos sentimos assustados, violados a dignidade no seu processo de desenvolvimento, sujeitados a ações de natureza disciplinar somente punitiva com uso de força física, não desapareceram, simplesmente da noite para o dia.
Eles seguiram dentro de nós, criando uma lente, através da qual, passamos a enxergar o futuro.
Será o adulto de hoje, como foram os adultos que os criou.
A criança busca “ser amada”, no entanto, esse ideal de amor não foi possível, pois os pais, cuidadores, também possuem “sua criança ferida” e estão no mundo com a ideia, na maioria das vezes, com as melhores intenções.
Erram em alguns comportamentos, em nome do amor. Não se trata de apontar culpados ou inocentes, pois neste círculo de “amor negativo”, todos nós, diria que isso, também, faz parte da condição humana.
Olhar para essa dimensão ferida em nós, é poder acolher e começar a cuidar, agora, do lugar do adulto que estamos.
Os padrões familiares, as circunstâncias da época, as vivências traumáticas, os significados que demos conforme nosso temperamento… são muitos os elementos que estão presentes em toda a nossa estruturação desde que fomos concebidos.
Se existiu uma criança em nós que idealizou o amor perfeito, e por não ser possível, acabou gerando algumas feridas, podemos agora, através do arquétipo da “Criança Divina”, olhar, acolher e integrar a nossa história, exatamente como foi, pois, foi ela que nos trouxe até aqui.
Cuidar da nossa “Criança Interior” é poder cuidar daquelas partes responsáveis pela nossa leveza, curiosidade, criatividade, espontaneidade e tantas outras virtudes próprias de uma criança.