Cyberbullying – Violência psicológica e seus agravantes
Cyberbullying, quando mencionado, imediatamente associamos às crianças e adolescentes, porém você sabia que adultos também são vítimas dessa prática?
Um estudo realizado no ano de 2017 nos EUA pela Pew Research Center conforme link abaixo, constatou que aproximadamente quatro em cada dez adultos norte-americanos sofreram algum tipo de assédio virtual.
https://www.pewresearch.org/internet/2017/07/11/online-harassment-2017/
Uma vítima de 59 anos que participou do estudo diz:
“os agressores cibernéticos anônimos são implacáveis. Eles encontram uma fraqueza e insistem em usá-la para te perturbar repetidamente”.
A prática do bullying, dentro ou fora da internet, é classificada por oito características:
- Verbal (insultar, xingar e apelidar pejorativamente);
- Moral (difamar, caluniar, disseminar rumores);
- Sexual (assediar, induzir e/ou abusar);
- Social (ignorar, isolar e excluir);
- Psicológica (perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e infernizar);
- Físico (socar, chutar, bater);
- Material (furtar, roubar, destruir pertences de outrem);
- Virtual (cyberbullying) considerada por “depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social”.
Outro fator que é implacável na “arte” de destruir pessoas quanto o cyberbullying seja em esfera nacional ou internacional é a violência psicológica que está lado a lado do cyberbullying e que faz tantas vítimas quanto.
A violência psicológica está cada vez mais presente nas vítimas e infelizmente ocorre com mais frequência quanto imaginamos.
O que diz a Lei Maria da Penha:
“A lei define a violência psicológica como qualquer conduta que cause dano emocional, diminuição da autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher. Ou, ainda, que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação. Quanto à violência moral, ela é entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.”
Lei 11.340/06
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.
Seu artigo 5º define que violência doméstica e familiar contra a mulher é qualquer ação que resulte em sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial da vítima. Apesar de estar explícita no texto, uma das formas de agressão mais comuns ainda é minimizada: a violência psicológica.
Cyberbullying – Violência Psicológica
Dentro das temáticas abordadas, podemos mencionar o exemplo de duas grandes mulheres que foram vítimas tanto de cyberbullying quanto violência psicológica.
Vamos usar o exemplo de 2 mulheres, porém, poderíamos trazer 1 milhão de outros exemplos e tenho certeza que inúmeras mulheres que passaram por essas experiências se identificarão com os relatos a seguir.
Leila é formada em engenharia de produção, mãe de 2 filhos, separada e empreendedora, onde divide seu tempo entre o trabalho de costura com a rotina dos filhos e os afazeres domésticos.
Leila atuava em sua formação (engenharia) numa renomada montadora de veículo, onde era composta quase que 90% de homens.
Em seu antigo ambiente de trabalho ela relata que sofria pressão por parte dos seus superiores e colegas próximos.
Além disso, teve um enorme desafio onde foi coordenadora de aproximadamente 70 homens dos quais nenhum deles tinham até então uma supervisora do sexo feminino. Ela e suas colegas mulheres trabalhavam mais horas que os homens e ganhavam menos que todos eles.
Por diversas vezes era desafiada a executar tarefas sem mínimo de prazo, saíam tarde do trabalho, eram menosprezados com frases: “isso é trabalho para homens; o que vocês estão fazendo aqui; não basta ser mandada por mulher em casa teremos que ser mandados no trabalho” e assim consequente. Sem contar que teve que ouvir de seu superior que mulher só poderia trabalhar de cabelo preso e jalecos compridos para não “mostrar os quadris”, pois só assim evitariam que os homens olhassem.
Fátima é formada em Direito, advogada atuante no mercado, mãe de 2 filhos, esposa, empreendedora e assim como Leila também sofreu com seus colegas de trabalho.
Fátima trabalhou num grande escritório de advocacia no início de sua carreira e infelizmente ela era a única pessoa do sexo feminino atuante naquele grande escritório.
Como seu ambiente de trabalho era dominado por homens, Fátima passou a ser motivo de comentários maldosos entre os colegas de trabalho inclusive por e-mails trocado dentro do escritório.
Assim que passou no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Fátima encontrou um e-mail trocado entre 2 colegas do escritório onde dizia:
“Agora aguente a anta, ela passou no exame da OAB”.
Como se não bastasse ter descoberto esse insulto via e-mail, ainda era assediada dentro da sala de arquivos que tinha no escritório onde eram guardados os processos, a qual seu colega passava os braços nos seios de Fátima.
Ambos os casos citados, as vítimas sofreram tanto cyberbullying quanto violência psicológica, pois foram por vezes acuadas, ameaçadas dentro das suas funções, insultadas, chantageadas, perseguidas, exploradas e porque não mencionar também isoladas.
O cyberbullying é considerado quanto a violência psicológica e ambos são crimes e você sabendo que foi vítima, deve coletar as provas e ir até o órgão responsável relacionado a crimes cibernéticos para fazer a denúncia e a polícia iniciar uma investigação.
Mas se eu quiser evitar recorrer à polícia e deixar esse como último recurso?
As plataformas sociais como Facebook, Instagram e Twitter, possuem ferramentas para lidar com qualquer tipo de assédio virtual. No Facebook, você pode denunciar comentários, postagens e perfis ofensivos; o último também pode ser bloqueado.
- Facebook também oferece páginas dedicadas a ajudar em casos de comportamentos abusivos e bullying ou assédio na plataforma.
- Instagram também incentiva os usuários a denunciar quaisquer casos de bullying e assédio e oferece recursos para ajudar aqueles que passaram por alguma situação desse tipo.
- Twitter também oferece dicas sobre como lidar com os assédios virtuais em sua plataforma.
O cyberbullying nunca é culpa da vítima: ninguém deve ser tratado com crueldade, não importa quem eles sejam. Se algo desse tipo acontecer com você, não esconda a situação; em vez disso, procure ajuda. Converse com seus amigos, familiares, funcionários de Recursos Humanos da empresa onde você trabalha.
Também é importante manter as evidências do cyberbullying quanto a violência psicológica, para que você possa provar que aconteceu, caso decida denunciá-lo. Mantenha cópias das mensagens, postagens em blogs, redes sociais, e-mails, fotos ou qualquer outra coisa que tenha sido usada.
Também é possível procurar por ajuda e orientação em serviços especializados de combate ao bullying e cyberbullying. No Instituto Abrace e no SaferNet, por exemplo, você pode denunciar e ser orientado sobre como agir e como manter-se seguro.
E lembre-se de que você não está sozinha! Compartilhe com alguém de confiança os fatos ocorridos.
Procure ajuda!
* Leila não está exercendo mais a função de engenheira, trocou os números e fórmulas por trabalho manual e de acordo com palavras dela hoje é muito feliz e não se arrepende nenhum pouco da troca de profissão que fez.
* Fátima após adoecer com crises de ansiedade, depressão e pânico, uniu forças com seu marido e ambos lutaram e venceram juntos esses traumas do passado e ela continua atuando na área do Direito com seu escritório próprio.
Obs.: Ambos os nomes foram trocados para preservar a verdadeira identidade das vítimas.