Passamos a vida estabelecendo metas, elaborando projetos. Investimos em objetivos materiais. Mas para além da matéria, em que focamos nossa breve existência? Qual empreendimento pretendemos: temporal ou eterno?
[…] Lança teu pão sobre as águas, e depois de muitos dias acharás.” (Eclesiastes 11:1)
Desde os primórdios dos tempos o homem empreende. Com a descoberta do fogo e da roda, o homem primitivo deu a largada para o processo de evolução e inovação de sua trajetória.
Um salto para o que será séculos mais tarde caracterizado como revolução técnico científica.
Neurocientistas comprovaram que a evolução foi possível a partir do desenvolvimento do lobo temporal dos humanoides, onde ocasionou o processo de abstração de ideias e desenvolvimento intelectual nessas espécies de mamíferos mais evoluídas.
Sabe-se que é nesta mesma região cerebral, que envolve o hipocampo e a amígdala, que ocorre o processo denominado de “sincronização” por muitos cientistas, e inclusive citado por Jung em um de seus ensaios sobre o inconsciente coletivo.
Entendemos que a natureza colocou essas estruturas neurais à nossa disposição para que por meio delas, e de modo normal, pudéssemos ter acesso aos processos espirituais.
Mas qual seria então a relação entre esses processos neurais, empreendimento e avanços técnicos científicos?
Antes que as ciências naturais e exatas pudessem proporcionar uma explicação empírica acerca desses processos, da evolução intelectual do homo sapiens, todo saber e descobertas se atribuíam aos deuses (ou a D’us).
O fogo por exemplo, para os gregos antigos, era arquétipo de Prometeu, cocriador dos seres humanos ao lado de Epimeteu.
O fogo foi caracterizado ainda como totem para muitas culturas primitivas. Não compreendendo as manifestações e fenômenos naturais tais como as tempestades, enchentes, terremotos, deslizamentos de terra, vulcões, fogo, calor e frio, etc.; esses fenômenos eram então atribuídos aos gênios e às divindades.
Já a roda, na sua iconografia, tipificava a eternidade da sabedoria, e era utilizada como símbolo da deidade por muitas sociedades herméticas.
A possibilidade de compreender esses conceitos e processos, instigava uma série de questionamentos, que englobavam várias dimensões do saber, incluindo o estudo acerca da cosmogonia.
Para os antigos filósofos, o maior “investimento” da existência estava neste suposto saber. Esta era a razão.
O dilema da morte, fator conclusivo desta cosmogonia, revelava os resultados acerca desses investimentos.
Por exemplo, a perpetuação desse suposto saber, que ocasionaria a ideia da imortalidade, seria o fim que traria ou não este resultado.
O que ele poderia levar para o além? Se a matéria era finda, o que seria o imortal?
Encontramos a elaboração de um problema crítico, que veio a influenciar muitas religiões da antiguidade remota.
Na busca pela compreensão desse investimento/ resultado para além da vida material, restava o que se propagaria para além da matéria extinta: a alma, a razão a consciência.
As diferentes formas de conceituar esses processos emblemáticos da perpetuação da consciência através da alma passaram a ter caráter religioso.
Foge-nos o espaço descrever todo esse processo. Contudo, não podemos descartar a possibilidade que todo o investimento material seria feito a partir do sentido que se daria a existência, baseado na contextualização sócio histórico-cultural.
Entretanto, por mais divergente que sejam os dogmas das religiões, todas tendem a um ponto em comum: somos seres para a morte.
Mas seria a morte o fim?
A ideia da perpetuação da alma, da continuidade da existência para um além-túmulo passou a ter muitas significâncias. A intelectualização de um lugar de recompensa passou a ser difundido em muitas dessas religiões.
A lei da “semeadura” passaria a ter caráter universal.
Para Gautama Buda a ideia da eternidade seria: “todo momento contido em si mesmo”.
Essa crença de um possível eterno retorno, também é referido em outras escrituras, incluindo a Bíblia dos cristãos.
Para o apóstolo João (E.C), o “espírito (do homem) é quem vivifica, a carne (matéria) para nada se aproveita.”
Podemos a partir disto, elaborar uma assertiva:
“todo investimento material tem caráter temporal, mas os espirituais – caráter eterno”.
Talvez seja essa a razão de Cristo ter ensinado aos seus discípulos a maior visão de empreendimento encontrado nas Escrituras:
“Não acumuleis para vós outros tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde ladrões arrombam para roubar.
Mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde a traça nem a ferrugem podem destruir, e onde os ladrões não arrombam e roubam.
Porque, onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração.” (Mt. 6:19-21)
É certo que desejar, investir em uma a vida material confortável, tranquila, feliz também é mérito realista e de caráter cônsono.
Mas sendo a matéria transitória, e a alma sempiterna, em que de fato se tem investido?
Uma coisa sabemos:
“o que o homem plantar, isso colherá!”
Em nosso aqui agora, temos a oportunidade para esse investimento. Em vida é feita a escolha. Uma decisão de caráter pessoal.
Mas, para aqueles que tem visão futurista, um viés para a eternidade, é preciso estabelecer objetivos e executar ações que remontem a esta eternidade, e isso em vida.
Se tratando de criar chances e obter recompensas, nosso cérebro nos oferta a mesma oportunidade. Tal como o desenvolvimento material, o espiritual é possível.
A diferença que insiste é apenas uma:
“De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro, pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos leva. (NT – King James).
Contudo, nossas marcas ficam, como pegadas que poderão ser seguidas. Nossas conquistas podem até passar para outras mãos, mas nossas criações, nossas ações mais precisas, tem nossa patente.
Sempre restará a lembrança de uma boa ação, de algo que fizemos ou delegamos a alguém.
Cada gesto nobre, gera outra resposta nobre. E ainda que não sejamos gratificados, nossa memória será imortalizada por aqueles que foram atravessados por nossa benevolência.
Me lembro de um tempo, ainda como servidora pública em uma autarquia do governo, gastei algumas horas com uma colega, para ouvi-la em seus muitos dilemas e cristalizações espirituais.
Ao questioná-la sobre o que desejava realmente em meio a tantos dilemas, ela quase que em um ritual respondeu:
“Quero ter oportunidade de fazer o bem, amar e ser amada”.
Confesso, que ela foi quem me inspirou a escrever esse texto. Essa semana, ao me procurar em uma de nossas páginas na íntegra, postou uma narrativa acerca de seu sucesso nessa empreitada da vida.
Resumo: saiu da zona de conforto, descristalizou-se, passou a viver uma vida altruísta, voltado a prática do amor ao próximo.
Resultado: seu marido a qual ela amava profundamente, e era tão distante, aprendeu a lhe dar o valor devido, a resposta esperada, e juntos, cuidam de outros casais.
Esse processo de resiliência só foi possível, por conta de um investimento real e altruísta: Quando fazemos pelo outro, o universo se encarrega de nós.
Obrigada nobre amiga K.
Com carinho,
Da amiga Chris Viana.