Série – Para aprender: Aprendizagem pelo olhar da facilitação de grupos
Espaços Seguros promovem aprendizado colaborativo e inovação. Aqui, todos se sentem à vontade para explorar ideias e compartilhar desafios.
Para aprender, precisamos de espaços seguros. Espaços projetados intencionalmente para que as pessoas possam experimentar, duvidar, comemorar, sem medo de serem julgadas, repreendidas ou ridicularizadas.
O olhar para aprendizagem através da facilitação é um convite para essa ação.
Tente lembrar do dia que participou de uma aula, ou interação com um grupo, onde você estava livre para perguntar, para colocar suas ideias e estava ali presente, fazendo parte de tudo que estava acontecendo.
Se ainda não viveu essa experiência, eu sinto muito por isso.
Se você já experimentou estar em grupos assim, me conta:
- O que você sentiu?
- Como aquele momento foi projetado para que isso acontecesse?
- Você conhecia as pessoas que estavam ali presentes?
Quais foram os comportamentos observados?
Quem já viveu essa experiência entende que aquele grupo aprendeu em algum momento a se ouvir, tiveram coragem de dialogar sobre assuntos difíceis, todos tinham seu espaço de fala, estavam interessados a lidar com o que é diferente e a colaborarem.
Dentro desse grupo existiu alguém que mostrou o caminho, que facilitou essa interação e contribuiu para que esse sentimento fosse real.
Normalmente é ele que primeiro teve a coragem de contar os problemas, suas dores, amores, histórias e caminhos.
Esta pessoa chamamos de facilitador, ele desejou curiosamente conhecer as pessoas que estavam ali, o objetivo dele era conquistar um espaço seguro para que essa troca no grupo fosse genuína.
A aprendizagem pelo olhar da facilitação de grupos é acreditar na inteligência coletiva, é soltar o controle e confiar que serão capazes de chegar na resposta que eles precisam, aproveitando a diversidade do grupo como uma estratégia de conexão e uma forma de aprender a solucionar problemas juntos.
Entendam aprendizagem como aquilo que se leva de uma experiência vivida e aquilo que se leva, transforma sua visão de mundo e te convida a praticar um novo jeito de fazer as coisas.
Vamos entender também o que é facilitação.
Michael Wilkinson (2004) definiu da seguinte forma:
“Uma reunião altamente estruturada em que o líder (a pessoa facilitadora) orienta os participantes por uma série de etapas predefinidas para chegar a um resultado que seja criado, compreendido e aceito por todos.” (1)
Quando a pessoa facilitadora exerce seu papel de despertar uma mentalidade colaborativa no grupo, criar as conexões entre as pessoas, estimular a comunicação, fazendo boas perguntas, se mostra vulnerável e aberta, ela cria um campo seguro para as pessoas aprenderem.
Desenhar uma aula, uma facilitação, uma reunião ou um encontro como esse é: (aqui eu dou uma pausa para usar uma fala de Gustavo Caldas Brito – Chief Learning Officer da Afferolab):
“Desenhar uma aula é como arquitetar um prédio, é preciso escolher ótimos materiais, do contrário ela não se manterá em pé.”
Como arquitetar uma facilitação de grupo?
O desenho da facilitação inicia-se abrindo mão do controle e entendendo que tudo pode acontecer, inclusive nada.
E isso é um fato, quando estamos falando de pessoas e suas relações, quando estamos falando de um ambiente corporativo que está em funcionamento e que qualquer intervenção neste ambiente resultará em reações.
Partindo desse ponto, o facilitador deve estar alinhado com os propósitos e valores do ambiente, assim como, estar alinhado, aos fatores sistêmicos como regras, políticas e dinâmicas sociais.
E por último entender que o ambiente também causa o comportamento do grupo, com isso a forma como enxergamos as relações no ambiente corporativo muda de contexto e forma, a cada facilitação.
Neste ponto eu cito um trecho do livro: A arte da facilitação de Diogo Riker e Vinicius Silva.
“Essa consciência reforça cada vez mais a importância de destacar que o melhor ativo de uma organização são as pessoas e fortalecer as relações entre elas é essencial para que a facilitação seja potencializada. Em outras palavras, a pessoa facilitadora deixa de ser apenas uma condutora de reuniões para se tornar uma agente de mudanças organizacionais …” (2)
Quando falamos sobre arquitetar espaços, estamos falando de um desenho intencional, assim como um prédio, vamos imaginar como podemos construir essa “aula prédio” comentada por Gustavo Caldas Brito.
- O desenho da planta baixa: se refere a todo planejamento dessa facilitação, é o nível estratégico, o momento de projetar: o objetivo, o formato, quem é público, qual o tema e levantar dados;
- Mão na massa: é hora de construir o conteúdo dessa facilitação, pensando em alinhar os dados levantados com o objetivo de aprendizagem;
- O acabamento: é hora de refinar a estrutura e testar o projeto, lembrando sempre de deixar que o grupo escolha se “irão de elevador ou de escada”, experimentando os caminhos para chegar onde precisam;
Como a facilitação pode criar espaços seguros para aprender?
O desenho de espaços seguros para facilitação começa com o facilitador, ele precisa ser o primeiro a se colocar no papel vulnerável, para se conectar com as pessoas e ganhar a confiança necessária para sustentar as conversas.
“A disciplina da aprendizagem em equipe começa pelo “diálogo”, a capacidade dos membros de deixarem de lado as ideias preconcebidas e participarem de um verdadeiro, pensar em conjunto”. (3) Peter Senge.
Esse “pensar em conjunto” que Peter Senge relata em seu livro têm relação com a habilidade de comunicação e vamos confessar? nós não somos tão bons em se comunicar.
Temos a necessidade de aprimorar nossa fala, nossa escuta e as nossas relações, reconhecer que precisamos nos comunicar melhor é um passo essencial para criar espaços seguros para aprender.
A ideia de comunicação mais comum dentro das organizações é: “eu não comunico os problemas, todos acham que está tudo bem, agem como se estivesse tudo bem e ninguém aprende como resolve-los.”
Outra ideia muito comum: “eu comunico o problema de uma forma incoerente, causo alvoroço, as pessoas desmotivam e o problema nunca é resolvido e ninguém aprende nada.”
E existe ideia de comunicação, que para mim, está entre as mais doloridas: “existe um problema, ele é comunicado, mas o silêncio paira no ar, temos pessoas que sabem e podem resolver, mas elas não possuem espaço de fala”
O mais comum quando isso acontece é ouvirmos a fala quase universal:
“Não adianta falar, aqui as coisas sempre são feitas dessa forma, nada vai mudar, ninguém aprende.”
Ou ainda: “Tenho medo do que vão pensar se eu expor minha opinião”, “Percebo olhares de julgamento quando compartilho alguma ideia”, “Nunca pedem a nossa opinião e quando pedem, precisamos sempre concordar senão podemos ser repreendidos”
A arte de facilitar espaços seguros entra profundamente na necessidade de ter conversas difíceis para se construir espaços mais seguros de escuta e fala, onde todos têm corresponsabilidade sobre o que acontece no ambiente corporativo, dessa forma, todos têm uma contribuição significativa para dar.
No livro A organização sem medo, de Amy C. Edmondson ela cita a seguinte frase:
“Para que falar abertamente se torne uma rotina, a segurança psicológica – e as expectativas de se falar abertamente – deve se tornar institucionalizadas e sistematizada.”(4)
Criar rituais de facilitação em grupo é um caminho para institucionalizar na cultura da organização, o ouvir e o falar abertamente.
Aqui estão 3 principais passos para criar espaços mais seguros, onde as pessoas possam aprender:
- 1º passo: Para de ler listas de 3 passos;
- Olhe criticamente para os dados, cultura, seu sistema organizacional, como sua estrutura está facilitando ou impedindo as pessoas de falarem e aprenderem juntas;
- Explore, experimente, facilite e espere com paciência, porque pode levar anos para que algo mude;
Problemas complexos de comunicação, de relacionamento e falta de espaços seguros, precisam de soluções complexas também.
Nenhuma lista X, pode superar a compreensão e a ação dentro do seu contexto.
A facilitação de grupo é o caminho mais próximo que hoje eu encontro de conectar pessoas, seus saberes, experiências e multiplicar a potência que existe nessa relação, transformando ambientes corporativos em máquinas de aprender.
A criação de espaços seguros é o meio. O fim são grupos que aprendem continuamente e empresas mais produtivas, sustentáveis e que abraçam ideias que podem revolucionar seus negócios.
Referências:
- WILKINSON. Michel. The Secrets of Facilitation: The S.M.A.R.T Guide to Getting Results With Groups. 1ª ed. São Francisco: Jossey Bass, 2004.
- RIKER, Diogo; SILVA, Vinicius. A arte da facilitação. O poder da facilitação e seu verdadeiro impacto na cultura das organizações. 1ª ed. Rio de Janeiro : Editora Caroli, 2022.
- SENGE,PETER. A quinta disciplina: A arte a prática da organização que aprende.BestSeller,p.43.
- EDMONDSON,Amy. A organização sem medo: Criando Segurança Psicológica no local de trabalho para aprendizado, inovação e crescimento. Harvard Business School,p.86.
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