Hikikomori (ひきこもり ou 引き篭もり, lit. isolado em casa) é um termo de origem japonesa que designa um comportamento de extremo isolamento doméstico
Quando o isolamento social transpassa os muros, uma sequência de eventos pode levar o ser a um lugar de não ideação. O suicídio passa a ser uma suposta resposta para si e outros.
O vazio existencial é a marca do ser para a promoção de uma ressignificação. Contudo muitas pessoas, não suportando a ideia de um vazio, ou algo que vá contra aquilo que lhes dá sentido, veem a morte como última alternativa.
O assunto da morte sempre me atraiu. Não porque este seja atraente. Mas, ao fato de não compreender para além das especulações religiosas ou filosóficas, sua real função. Ainda assim, a morte continua sendo um mistério.
Como uma psicoterapeuta comportamental de visão de homem existencialista, vejo a vida como uma verdade baseada naquilo a qual se baseia o sentido. Construo a cada instante, a partir dos meus sentidos e condicionamentos, aquilo que me apraz.
O que não quer dizer que estou livre de intempéries ou angústias das existências. Pelo contrário, minha forma de ver o mundo e o ser, me leva, muitas vezes, a um lugar de solidão.
Não em mim mesma, mas em relação ao outro, que nem sempre tem o mesmo sentido e razão. Eis aqui meu esforço em escrever.
Sendo nossas relações sociais um espaço que nos remonta como sociedade, viver nossa singularidade e respeitar o que faz sentido ao outro, é um exercício contínuo de fraternidade.
Encontrar o ponto em comum que nos permite o ser em si, e o ser no outro, é coexistir como essência humana.
Mas existe aqui uma caminhada. Não por acaso, que isso foi possível a mim. A vida fática promoveu na minha historicidade, um lugar na existência.
Seja ao lado de bilhões de humanos, seja sentada em minha mesa, escrevendo. O eternizar a vida, trouxe sentido para tratar desse assunto.
Construí ao longo de minha existência um lugar ao sol, antes mesmo que houvesse um lugar à lua. É nessa razão que me descubro e me reinvento, até que a morte torne escura a visão e eternize as palavras.
Compreender o sentido da vida, permite o aceitar a morte, mas cada coisa a seu tempo!
Eternizar as palavras. Foi aqui que o caminho se encontrou com o sentido que me motiva a compreender o porquê de muitos não encontrarem esse lugar e irromper precocemente com a oportunidade do ser.
É por isso que estamos aqui, para falar um pouquinho daquilo que insiste em se manter ofuscado e sem sentido. Ao ressignificarmos a existência, criamos novas alternativas para que ela faça sentido e continue. Mas isso requer esforço!
Conhecer a dinâmica que move algumas pessoas ao isolamento social, me ocupa este espaço. À luz do existencialismo heideggeriano eu encontro um esboço para explicar parte desse comportamento.
Para Heidegger, “ser-no-mundo” é um traço fundamental do ser homem e se apresenta como uma unidade, “embora em sua unidade possa ser interpretado sob vários aspectos” (Heidegger, 1987/2009, p. 179).
Para esse filósofo a função “ser-aí“ como “ser-no-mundo” revela que ele é ao mesmo tempo junto das coisas (objetos) e junto dos outros e consigo mesmo.
Ser-no-mundo significa preliminarmente “morar, habitar, ser familiar a”, ou seja, com o que se apresenta, por sua vez, a familiaridade com algo do mundo emerge em virtude de um projeto de realização do ser-aí.
Portanto, nessa perspectiva, o existir humano é compreendido como uma totalidade significativa, uma vez que a compreensão de si mesmo e do que se apresenta do mundo é impregnada por uma trama significativa e orientada por um projeto de realização.
Mas então, qual seria o significado do isolamento social?
Podemos considerar o isolamento social como um dado comportamento ocorre em um grupo ou um indivíduo, seja de forma involuntária ou voluntária, levando-os a afastar-se das demais pessoas, seja no contato ou a interação, e ainda, é privado pelos demais de ter contato ou de manter relações com esse grupo, sendo excluído do ambiente comum.
Esse comportamento é atípico à essência social do ser humano. O isolamento social pode levar a diversas ações prejudiciais à saúde física e mental, tais como: alterações de humor, de pressão, baixa estima, comportamento antissociais, agressividade, desenvolvimento de psicopatologias, dentre outros.
Além disso, enquanto em alguns países de extrema miséria, crianças e jovens morrem aos milhares por fome, doenças, violência, etc. O isolamento social parece competir com esses dados de morte precoce em jovens entre 16 e 24 anos.
Essa não é uma situação determinante para o suicídio, mas pode interagir e contribuir para a sua ocorrência quando existe sofrimento intenso.
O isolamento social feta principalmente adolescentes e adultos jovens do sexo masculino, os quais vivem espontaneamente reclusos em seus quartos por pelo menos seis meses.
As principais características de personalidade são: solitárias, tímidas, com um suporte social deficiente e que, frequentemente, tiveram alguma experiência traumática na infância.
A maioria dos indivíduos apresenta algum transtorno psiquiátrico associado.
Esse fenômeno acarreta terríveis prejuízos para o indivíduo, familiares e para a sociedade como um todo. Foi observado primeiramente como uma manifestação comum em jovens nipônicos.
No Japão, esse comportamento é chamado de Hikikomori, e foi descrito inicialmente sendo considerado uma síndrome. Nos últimos anos foi descrito em diversos países, inclusive no ocidente.
Entretanto, é desconhecido por muitos profissionais da saúde e pela recusa dos portadores em buscar ajuda.
O fenômeno ainda não foi incluído numa categoria de diagnóstico psiquiátrico, o que dificulta a padronização e a realização de pesquisas e tratamentos mais eficazes ao redor do mundo.
Como reconhecer o comportamento de Isolamento Social ou Hikikomori
Se você conhece alguém que vive em grave isolamento social voluntário, são em geral adolescentes, adultos jovens, e passam pelo menos seis meses nesse comportamento, você já identificou esse problema ou essa pessoa.
O que tem chamado a atenção de pesquisadores, é a proliferação do fenômeno. Ele parece agravar nos últimos anos, silenciosamente, tal qual uma epidemia, afeta mais de 1 milhão de jovens japoneses, os quais se fecham em seus quartos, geralmente na casa dos pais, na companhia de um computador ou videogame.
O pesquisador que popularizou o termo “Hikikomori” foi Saito, em 1998, ao publicar um livro que continha a palavra no título. Em 2003, o governo japonês publicou um guidelines estabelecendo os critérios para diagnóstico de hikikomori:
- Estilo de vida centrado na casa;
- Ausência de interesse ou disposição para comparecer à escola ou ao trabalho;
- Persistência dos sintomas por pelo menos seis meses;
- Ausência de esquizofrenia, retardo mental ou outro transtorno psiquiátrico;
- Entre aqueles sem interesse ou disposição para comparecer à escola e ao trabalho, devem ser excluídos os que mantêm relacionamentos pessoais.
Um pesquisador revelou dados que merecem atenção. O estudo de Teo et al. (2015), apud Castro et al (2018), realizado com 36 indivíduos com Hikikomori, evidenciou como características desses sujeitos, um “alto índice de solidão com suporte social deficiente, provavelmente pela incapacidade de manutenção de laços afetivos significativos”.
Essa prevalência maior entre os homens estaria relacionada à pressão da sociedade para serem se tornarem responsáveis, trabalharem pesado e ganharem dinheiro.
A má notícia parece não parar por aí. Como se já não bastassem os problemas em si, os sujeitos com Hikikomori, estão se matando pela internet.
Dados da BBC americana revelam que entre abril de 2016 e março de 2017, 250 estudantes da entre 13 a 20 anos tiraram suas vidas, no Japão, condicionados a pressões da internet.
O suicídio está se tornando um grande problema nos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos é a segunda causa de morte entre adolescentes nas escolas. No mundo quase 5 mil jovens de idade compreendida entre os 15 e os 24 anos matam-se todo o ano.
Dados do Mapa da Violência, do Ministério da Saúde, revelam que ele existe no Brasil de forma alarmante e está crescendo.
De 2002 a 2012 houve um crescimento de 40% da taxa de suicídio entre crianças e pré-adolescentes com idade entre 10 e 14 anos. Na faixa etária de 15 a 19 anos, o aumento foi de 33,5%”. (MS- Brasil, 2017).
Esse alerta procede às famílias, profissionais de saúde mental e saúde pública. Afinal, a depressão é uma doença psíquica, real e atinge a muitos de forma silenciosa, levando alguns à morte, ao suicídio.
Com mesmos problemas em comum, muitos adolescentes se encontram em meio de isolamento social, moldado pela Internet.
Nesse local de anonimato, angústia e fuga, marcam programas para a morte. No intuito de não morrerem sozinhos o suicídio coletivo tem se proliferado na web.
No entanto, faltam programas que venham atrair para a “na companhia da vida, ao lado de alguém”. A falta de companhias reais, sentido para a vida e equilíbrio emocional, relações de afeto saudáveis dentre outras variáveis, permitem que o isolamento social, levem muitos a ilusão de que a morte é o fim de um sofrimento na alma.
Para o tratamento, a orientação deverá ser baseada na severidade de cada caso. Combinação de psicoterapia individual e aconselhamento familiar e/ou psicoterapia familiar, às vezes, associada a programas de reabilitação profissional, ajudam o paciente a reativar os contatos sociais e os relacionamentos com outros indivíduos.
Além do tratamento farmacológico, a psicoterapia cognitiva comportamental é bem indicada e necessária para promover exposição gradual e aumentar o repertório social, e para trabalhar os traumas da infância, além desta, sessões de Logoterapia (abordagem humanista existencial) é altamente eficaz na promoção do sentido da vida.
“A infelicidade com a solidão se deriva em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada) dos outros, em celebrações cheias de risos… Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira”. Rubens Alves