História de ensino e arte modela a vida da arquiteta - Korina Costa

História de ensino e arte modela a vida da arquiteta

O tempo como fator de equilíbrio entre as várias funções da mulher empreendedora

História de ensino inesperado na vida!  Momentos que nos surpreendem positivamente. Podemos chamá-los  de ‘serendipities’ ou  felizes acasos.

O que esperar de uma corrida de Blá-blá-car onde desconhecidos ocupam o mesmo veículo, a partir do oferecimento de uma pessoa que gosta de servir como motorista e outra que aceita compartilhar a ocasião de uma viagem num mesmo trajeto de poucas horas?

Foi assim que conheci Korina Costa. E mais um detalhe pitoresco e surpreendente mesmo.  Para quem não se recorda do meu nome de colunista na revista aEmpreendedora: Corina Costa, presente!

Realmente foi um presente que ganhei com a amizade dessa xará na arte de mais um acaso feliz graças aos batismos de anos atrás. E mais coincidências descobertas num animado bate-papo: ambas professoras com mudança programada para a mesma cidade onde já moraram anteriormente.

Estão curiosos sobre Korina com K? Vamos conhecer suas conquistas e o modo de lidar com a vida como mulher, professora, designer de joias, arquiteta, ceramista e empreendedora. Todas essas facetas descortinadas na nossa viagem e aprofundadas através de uma entrevista que deu base ao artigo..

Quanto à professora, soube que a oportunidade para entrar na sala de aula no magistério surgiu quando assumiu como substituta a Disciplina de Artes no currículo do ensino fundamental, séries finais e no ensino médio, no interior do Paraná.

 “Foi uma escola para mim de aprender a dar aula mesmo, porque na graduação a gente não tem esse direcionamento num curso de bacharelado, como  Arquitetura pois não recebemos qualquer noção de licenciatura” 

Sua experiência inicial abriu novas oportunidades na carreira de professora junto a curso técnico profissionalizante em Edificações, e, mais adiante em Universidade no Curso de Arquitetura e Urbanismo.

Comenta nossa protagonista que, como estudante, ao escolher Arquitetura e Urbanismo,  não tinha qualquer intenção de ir para a área de magistério e acadêmica. Porém, ao se mergulhar na infância de Korina, descobrimos que uma de suas brincadeiras era de professora, como tantas outras meninas.

 “Mesmo eu gostando bastante de brincar de ser professora, com o passar do tempo isso foi se distanciando de mim.”  Será mesmo que se distanciou? Vejam um depoimento dela quando cursava a faculdade e concluam.  

Durante o curso na faculdade eu fui me envolvendo com várias coisas: gostava de explicar aos meus colegas, tinha facilidade na apresentação de trabalhos, então eu percebi que gostava de falar, de me comunicar, de explicar, e decidi que eu queria ser professora.”

Nas memórias de criança, ela relata ainda que teve a infância dividida entre morar em um apartamento em Londrina com a mãe e finais de semana e férias com o pai e primos numa cidade pequena, solta na rua e brincando no meio do mato, livre, explorando possibilidades em todo o sítio.

Acrescenta: “gostava de falar, gostava de estar no meio das crianças e adultos  e andava muito atrás do meu pai. Entre as minhas primeiras brincadeiras, aquelas que eu me lembro mais, que eu acho que me marcaram mais, era quando eu brincava de casinha, mas, principalmente de ser professora.”

Vejam a confidência num momento de conversa sem filtro (coisa que ela deve usar muito pouco pois se comunica com autenticidade)

“Eu gostava de ser professora de brincadeira desde criança e acho que hoje ainda é algo que eu consigo fazer: continuar brincando.  Acho que é por isso que eu gosto tanto…”

Já na outra forma de viver a infância – duas faces de um disco – ela se ouve em outra melodia. Enquanto sua mãe trabalhava o dia todo, sem conhecer os moradores, Korina circulava, papeava no elevador e conquistou muitas amigas, no prédio onde brincava de boneca nos corredores e em suas casas.

Foi nessa ocasião que a menina percebeu ter afinidade com  trabalhos manuais dando margem a sua vocação empreendedora. Aprendeu com a mãe de uma amiga a fazer roupinhas para Barbie – a boneca da época – que vendia na escola para as colegas de sua mãe que as achavam “uma graça”.

Podemos relacionar, positivamente, sua característica de personalidade: muito falante, comunicativa (aspecto que percebi em nosso trajeto de Florianópolis a Curitiba) às oportunidades colhidas em sua vida e também aos momentos de desafios enfrentados com sucesso.

‘Quem não se comunica, se trumbica,’ já dizia o velho guerreiro Chacrinha. Comunicar-se  vai além de trocar informações. É realmente cultivar a arte da escuta e se envolver ativamente e afetivamente na troca de significados de forma autêntica com o outro.

A comunicação, considerada dessa forma, assegura ao professor que sua mensagem seja recebida, interpretada e aplicada pelo estudante em sua vida, mesmo após sair da escola. É o que assegura ao professor sua presença, através dos tempos, mesmo com o florescer, hoje, da Inteligência Artificial.

Ao mencionar a IA me vem à mente: tempo, pesquisa e aperfeiçoamento contínuo. Assim, na conexão entre os tês aspectos, foi possível acontecer a grande evolução que estamos acompanhando das diversas ferramentas e recursos em todas as áreas de atuação humana.

É preciso para a pessoa que se dedica ao magistério, em qualquer nível de ensino, e, principalmente na vida acadêmica universitária, a harmonização entre esses três aspectos que mencionei. Korina sabe muito bem equilibrar estes atributos: tempo e pesquisa para aperfeiçoamento contínuo.

Vejam o que ela mesmo diz: Mesmo lá na faculdade já fui me envolvendo com pesquisa, pensando já no mestrado, aí eu me formei, e antes mesmo de fazer uma especialização, eu já fui fazer o mestrado.” Formou-se em 2000 e após três anos já cursava o mestrado na UFSC

Antes de iniciar no magistério, trabalhou numa Prefeitura, montou seu escritório com atendimento a projetos residenciais e comerciais, reformas em igrejas e outros locais, enquanto na Prefeitura os projetos eram institucionais. Mesmo com sucesso não abandonou seu propósito de ser docente na Universidade.

Refletindo sobre “propósito”, a partir de sua experiência,  Korina traz um belo conselho: “Então, se conecte com o seu propósito, com aquilo que é importante para você, com o modo de vida que você deseja trazer para sua vida e se esforce para transformar esse sonho em metas atingíveis.”

E continua: “ tudo aquilo que é grande demais parece difícil de alcançar, então quando a gente tem esse grande sonho que é lindo de viver do que a gente gosta, do que se quer, é preciso pensar em ações distribuídas no tempo para desenvolver e promover, trazendo o sonho abstrato, inatingível, à realidade.”

E quando falamos em propósitos, a pessoa pode acalentar e acolher vários propósitos em sua vida em diferentes momentos, ou, todos de uma vez. De repente surge um outro propósito na vida de Korina Costa que é trazer beleza por meio das mãos com sua sensibilidade de artista ceramista..

 

Korina Costa, ceramista, com algumas de suas criações
Korina Costa, ceramista, com algumas de suas criações

“A cerâmica entrou na minha vida quando eu já estava há vários anos na universidade, muitos anos de arquiteta, uma vida muito corrida e precisando cuidar um pouco de mim no meio de tudo isso. Eu fui pesquisando atividades, passei por várias coisas e um belo dia eu me encontrei com a cerâmica.”

 E pode-se concluir, pelo entusiasmo que ela fala e pela expressão de sensibilidade e da qualidade de orientação que revela em seus stories na página do Instagram onde oferece cursos como professora e mentora, que foi um encontro de paixão e de pura redenção aos encantos dessa arte.

“Ela chegou na minha vida, foi um encontro mesmo, eu me apaixonei assim, e aí eu digo que ela é do mal, porque ela chega, ela não sai mais, a gente se encanta e cada dia ela vai tomando mais espaço. Eu já fazia cerâmica há um bom tempo, muito nesse caminho de aprender por minha conta.”

Com curiosidade em aprender, assistia aulas online, vídeos diversos e declara ter experimentado a arte com muita liberdade pois não tinha pretensão de viver da cerâmica, como veio a acontecer. O que era um hobby, quase terapia ocupacional, transformou-se com o tempo em seu empreendimento.

Cultivada, junto com o magistério, como segunda vocação, Korina nos revela: que:

“na verdade, eu fui aprendendo, aprendendo e essa coisa do ser professora, de gostar de pesquisa, me levou a ler muita coisa, a aprender muita coisa e fui experimentando para ver como aquilo acontecia.”

Ao acolhermos uma atividade para somar com a anterior, descobre-se uma outra vocação?  Segundo o pensamento de Ligia Fagundes Telles: ‘vocação é o exercício do ofício da paixão’, portanto as pessoas podem ter várias paixões na vida. (A autoria da frase seria de Paulo Coelho, conforme outras fontes )

Eu sempre me pergunto o que vem antes: se a competência como soma de várias capacidades resultantes das aptidões inatas, ou, se o exercício do ofício, com reflexão sobre a prática singular criada com paixão e organizada no tempo, é o que modela  a  competência em seu aperfeiçoamento contínuo.

A ceramista Korina Costa assumiu a cerâmica com sua singularidade, modelando sua marca e a trajetória de artista empreendedora.. Cada um pode aplicar a mesma técnica mas é a forma autêntica de criação e de entrega que transforma um amador em profissional que pode se assumir empreendedor.

“Eu fui desenvolvendo uma forma muito minha de fazer as peças, as minhas joias. O modo de executar fui eu que desenvolvi. Hoje há bastante gente fazendo, mas eu arrisquei em fazer as peças finas, pesquisar como deixa-las mais resistentes sem que perdessem a leveza. Falo de brincos, por exemplo”.

Através de suas pesquisas, Korina foi encontrando os materiais que eram mais adequados, assim como o melhor processo de queima, inclusive a mufla, que surge como uma opção para quem está começando, uma vez que o custo é bem menor comparado a um forno tradicional de cerâmica.

Ela conta que hoje tem três muflas que podem ir no micro-ondas, junto com um refratário e um forno elétrico, equipamento convencional em queimas de cerâmica.

“Antes mesmo de ter o primeiro forno, eu já fazia muita coisa e na verdade eu nem me entendia direito como ceramista.”

Como professora universitária, os convites surgiram para aulas em diversos cursos: Arquitetura, Design e Artes Visuais,  na disciplina de Cerâmica. Outra habilidade agrega-se à competência da professora quando descobre que gosta do mundo digital e desenvolve  cursos online na universidade e no Instagram.

Na época em que os cursos se tornaram online, e, devido à escassez de material disponível, Korina gravou a disciplina de Cerâmica para o currículo de Artes Visuais, .apresentando todas as modelagens disponíveis, inclusive o uso do torno, produzindo todo o material para o curso com apoio de equipe técnica.

O empreendedorismo surgido na infância floresce e ela decide criar seus próprios cursos mesmo sem apoio técnico. E o que essa mulher decide, realiza sem medo de aprender o novo, experimentando, errando e descobrindo as melhores condições para atingir suas metas.

“Comecei a fazer meus cursos e hoje faço tudo sozinha. Aprendi a editar vídeo, a melhor forma de gravar com escolha dos equipamentos para que as luzes destaquem a mão e a mim, de modo simultâneo, sem ficar algo tosco”. 

As vocações de artista professora ao valorizar o aperfeiçoamento contínuo se revela:

“eu me esforço para ficar bacana também, sei que se eu tivesse uma equipe toda poderia ser muito melhor.” Seu indicador de sucesso é o feedback das alunas que vem apreciando positivamente conteúdos e formas dos cursos.

A conexão entre ensino e arte, através da Cerâmica, surgiu por um feliz acaso com a  aposentadoria de professora na Unoeste em Presidente Prudente, onde Korina residia e trabalhava. Recebeu o convite da coordenadora, colega do curso de Arquitetura que já conhecia seus trabalhos de ceramista.

“No momento me surpreendi e falei será que eu sei ensinar cerâmica.  Então fizemos algumas oficinas práticas para me testar que deram super certo. Mais adiante a gravação das aulas aconteceu e foi como professora de cerâmica que eu me descobri sendo ceramista.” A convivência entre duas vocações! .

Em nossa entrevista que deu origem ao artigo,  perguntei quais habilidades e atitudes  que a formação dupla de arquiteta e professora contribuem para a arte da mulher ceramista, e, vice-versa, o que a cerâmica proporciona para ser uma melhor professora e uma excelente arquiteta.

Ela me encantou com sua resposta :

Dentro da cerâmica, a questão da modelagem, da expressão criativa é uma forma de fazer muito diferente do que é a arte na arquitetura, mas eu me percebo muito como alguém que gosta do design para joias e utilitários ou outra peça que eu faça, até minhas luminárias “

“Então, assim, eu percebo que é a arquiteta que faz cerâmica. O olhar da arquiteta é o conhecimento das formas, dos volumes, da proporção, da hierarquia, da identidade do belo. Eu aprecio Teoria e História da Arte e Arquitetura, disciplinas relevantes no curso, que me inspiram na cerâmica.” 

Korina conclui:

“é uma forma de expressão minha que agrega todo o conhecimento que eu carreguei nesses 25 anos como arquiteta e a cerâmica vem para suprir uma necessidade de expressão diferente, mais livre, mais intuitiva, sem deixar de lado um propósito em cada coisa que eu desenvolvo.”

 No caso das joias, fortalecer a beleza de cada pessoa, de acordo com o formato do rosto, valorizando e reforçando o brilho de características personalizadas que vêm de dentro e expressam uma essência singular. As peças, segundo ela, devem fazer a mulher se sentir feliz.

“E a pessoa ficando feliz com a forma com que ela se vê, ela se torna mais bonita também. Isso é o que eu mais gosto quando divulgo e comercializo as minhas peças. Ver o brilho no olho das pessoas, elas se olhando e se gostando é o ponto que tem mais importância e mais valor para mim mesma.”

 O recado para as novas empreendedoras que gostam de ler os artigos da Revista revela mais uma vez a personalidade dessa mulher artista, professora e arquiteta que atende tantas frentes de trabalho com a mesma dedicação.

“Eu que faço muitas coisas diárias, diferentes, preciso organizar muito bem a minha rotina para não me perder no meio de tudo. Inclusive quando eu estou trabalhando em casa é que eu tenho de me policiar mais, porque outras coisas distraem a atenção, tiram a gente do momento de trabalho, do fazer de fato”

“Entender que é um horário seu de trabalho exclusivo, eu acho que é um ponto importante para a pessoa que quer começar, quer empreender, quer se organizar, então ter rotina, organização, metas atingíveis”

“Eu precisei aprender muitas coisas e antes de tudo eu precisei me permitir sonhar, me entregar para algo que eu acredito como empreendedora. Sentir-se bem é sair daquele lugar onde a gente acha que é sempre devedora a alguém e ganhar espaço de ser você. Não fazer nada às vezes faz bem para a mente.”

“Manter condição de fazer aquilo que você precisa na hora que precisa, então uma coisa de cada vez, cada uma no seu horário, da sua maneira para que a gente consiga assim chegar aos resultados e é isso, trabalhando, fazendo e tendo metas para atingir.”

 A organização de Korina é admirável, e, sem dúvida é devido a essa característica, junto com gosto por aprender, atitude de pesquisadora e uso do tempo de forma habilidosa, que conquista o sucesso em tudo a que se dedica. Seus propósitos surgem do encontro dela consigo mesma e com os outros..

Com a segurança da experiência de sucesso refletida, conclui:

é a partir das pequenas ações que a gente vai construindo a possibilidade de chegar em grandes resultados. Então, distribuir o sonho em metas e as metas em ações divididas no tempo, faz como que se consiga dar um passo por vez.”

“Organize o dia para que você use bem o tempo, em trabalho paralelo, transição de carreira ou iniciando algo novo. Não deixe outras atividades tomarem o espaço dos horários previstos por você para se dedicar. Ponha metas e ações em prática, dia a dia, um pouco de cada vez..

 Isso eu acho que vale a pena!”

 Valeu a pena  trazer a tua experiência e recomendações para nós. Continua a modelar tua vida no tempo, com arte e ensino! Obrigada por compartilhar tua vida com tanta autenticidade e generosidade.

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Corina Ramos

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