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Medo de Escuro… Eu? Não tenho medo de escuro não…

A verdade é que Bella nunca saia sozinha nem durante o dia

Eu? Não tenho medo de escuro não. Que isso… Jamais.
Bella falava para todos que a caçoavam. Ela nunca iria admitir tal fraqueza.

A verdade é que ela realmente morria de medo de ambiente escuro, sem luz. Cinema, então? Sozinha jamais.

Andar pela noite só acompanhada. Sozinha, não ia nem até a esquina da casa.
Um dia, combinou com sua melhor amiga, de assistir ao filme que estava passando, A Cabana. Queria tanto assistir, todos comentavam, mas sozinha?

A amiga Milena disse que iria sem falta, disse que compraria o ingresso pela internet, se encontraria na entrada, pediu até que Bella comprasse pipoca grande, iria comer durante o filme todo.

Bella caprichou no saco de pipoca, comprou o maior, refrigerante, barras de cereais e lá estava ela, na fila. O filme já ia começar.

Olhou o relógio, perturbou-se, Milena estava atrasada.
Bem, ela que entre atrasada, vai perder o trailer de outros filmes, eu não iria esperar aqui fora, com tudo isso na mão…

Pensando assim, enfrentou a fila gigantesca, era o primeiro dia do feriado prolongado, parecia que a cidade toda resolvera assistir ao mesmo filme, no mesmo horário. Menos mal, pensou ela, não teria a sensação de estar sozinha dentro do ambiente fechado.

Olhou outra vez, e nada da amiga chegar. Entrou afinal, buscou a poltrona numerada e sentou-se. O lugar da amiga que comprou e disse o número para que ela comprasse o seguinte, para sentar-se juntas, estava vazio.

Ela vai chegar, pensou e sossegou. Colocou a pipoca, as barras e os refrigerantes na poltrona da amiga e se posicionou na sua, consultando mais uma vez o seu relógio.

O filme começou e nada dela chegar, bem ela iria comer a pipoca e levaria a sobra para casa, caso a amiga não chegasse. Era o jeito.

Teve momentos que ela precisava da amiga, o filme realmente era emocionante, alguns soluços eram ouvidos, Bella queria um ombro para soluçar também. Os olhos marejados, tentava secar como podia.

Num momento qualquer, foi engolir a pipoca junto com um soluço involuntário e engasgou, a tosse veio em seguida, estava quase sem fôlego e a pipoca não saia da garganta, sentiu uma mão batendo nas costas de leve e melhorou, conseguindo ao menos respirar.

Deixou que a mão a massageasse nas costas, que se tornou carícias.
Ela gostou, porém, estranhou. Milena havia comprado a poltrona da esquerda onde ela colocara os apetrechos comprados, a mão que a massageava e deu início às carícias vinha do lado oposto. Ela parecia grande demais para ser de sua amiga.

Olhou timidamente para o lado de onde a mão estava e deparou-se no escuro, com aqueles olhos lindos e brilhantes. Não deu para perceber a cor, porém tinha um brilho diferente, que a fitava fixamente, traduzindo um calafrio.

Não era medo, ela percebia, porém, mais que isso, era intenso. Um choque percorreu sua espinha, estremecendo sem querer.

Depois disso, não sei como, tudo ficou nublado. Já não sentia o seu próprio comando, seu corpo, como que adquirindo vida própria foi de encontro com os ombros másculos, curvando-se para o aconchego.

Ficou o filme todo assim, sendo abraçada por um desconhecido, dono de um braço acolhedor e forte. Trazendo um conforto, nunca sentido antes.

Bella, com seus 35 anos, nunca havia namorado ninguém, saia com as amigas e ultimamente tinha apenas Milena, sua melhor amiga, para quem contava todos os seus anseios, inseguranças, posições, aspirações, enfim tudo.

Outras garotas do trabalho apenas a caçoavam, não tinham nenhum senso de compreensão, trazendo tristeza para a garota solitária que queria amizade sincera, porém, toda vez que saiam juntas, ela mais se isolava, estava só na multidão.

Hoje, ela se sentiu assim, solitária, até sua melhor amiga a abandonara, combinando estar juntas para assistir ao filme, deixou-a na mão.

Mas, tudo mudou, a partir daquele momento. Bendita pipoca, deveria guardá-la numa caixinha de cristal e coloca-la num local de destaque.

Afinal se não fosse ela, não engasgaria e não teria aquela mão salvadora. Aquele ombro aconchegante, confortante. Não sei o nome, nem quem é, porém, os olhos brilhantes, o braço forte e o corpo rígido que a ampara durante o filme, era muito bom.

Que o filme não acabe, que dure por muitas horas, não quero sair dali, que esse sonho não acabe com as luzes acendendo.

Ela não prestou atenção, mais ao filme, o seu pensamento corria célere, seu coração solitário estava se deliciando com a situação.

Ela não sabia se isso teria algum futuro, se seria promissor, só queria que o momento durasse eternidade. Não tinha beijos nem carícias mais, somente o braço forte que a abraçava, tirando dela toda a insegurança de estar só, no escuro.

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Heloísa Kishi

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