Quando falamos em educação, nos vem à cabeça a ideia de ensino e de aprendizagem. E alguns pensam, imediatamente: – os adultos ensinam e as crianças aprendem.
Porém, adultos aprendem entre si, e, crianças ensinam umas às outras e aos adultos também, até durante as brincadeiras.
A ciência já provou que nossos neurônios são ativos em qualquer fase da vida. Todos somos aprendentes e ensinantes, do início do existir ao suspiro final.
Você já percebeu que ensinante e aprendente não tem a ver, somente, com professor e aluno. São também os pais e filhos, maridos e mulheres, irmãos, primos, avós e netos…. São desconhecidos que perguntam informações na rua, são conhecidos virtuais que trocam receitas de culinária…
Quando se estabelece uma relação entre dois seres humanos, independente de vínculos mais, ou menos, permanentes, que trocam algo que envolva um pensamento, acontece a ativação dos nossos neurônios, as células do sistema nervoso que se conectam entre si com imensa rapidez, podendo resultar em situações de ensino e também em eventos de aprendizagem.
Todo ato de ensinar requer uma intenção, um objeto para conhecimento, um sujeito organizador das condições para a realização da aprendizagem e um outro sujeito, denominado de aprendiz ou aprendente. Há, portanto, necessidade que exista um ensinante, oferecendo condições para a aprendizagem e estabelecendo vínculos com o ser que aprende.
O vínculo interpessoal é muito importante. Basta lembrarmos que aprendemos muito mais com aqueles e aquelas professoras que nos ensinaram e de quem gostávamos de forma mais sincera e profunda. Talvez os nomes estejam ainda na memória e possamos até ativar nossos neurônios neste momento.
A aprendizagem necessita de um motivo interno, de vínculos com pessoa ou com um recurso de informação, de um processo de aproveitamento suficiente dos estímulos presentes numa situação, e, da atenção focada num objeto. É preciso que haja um sujeito aprendente motivado, portanto.
A educação é sempre um ato de comunicação em que as pessoas sentem vontade de oferecer e adquirir, no decorrer do processo, algo (uma ideia, informação, exemplo…) relevante e significativo que seja de valor, de preferência, para ambas. Esta troca deveria sempre ocorrer entre os dois sujeitos ao se alternarem em ensinar e em aprender. Entretanto, pode ocorrer que os papéis fiquem fixos no processo.
Em muitas ocasiões, a importância e o quanto o objeto para conhecimento significa na vida do aprendente podem não ser suficientes para motivar a atenção necessária ao aprendizado, impedindo que o algo recebido se transforme num conhecimento valorizado e apropriado por ele ou por ela.
Vamos brincar um pouco em nosso playground: um pode ter falado “abobrinha” para o outro que, por sua vez, entendeu “abacaxi”. Não ocorreu, neste caso, comunicação/educação, nem aprendizagem porque o algo ficou sem significado e não se transformou em conhecimento. Restou, somente, a opção de repetir, muitas vezes, “abobrinha” quando perguntado sobre o que o ensinante falou, apesar de ele ou ela achar que aquilo é, e será sempre, um “abacaxi”.
A partir de nossa brincadeira, vemos que o ensino ficou apenas como uma tentativa, uma aposta que não atingiu seu alvo. Isso ocorre bastante nas escolas e em nossas casas. Caso o ensinante avaliasse o processo, orientado para o crescimento do aprendente, até com uma simples observação ou questionamento, saberia que não houve aprendizagem.
Por isso, avaliar é tão importante quando se está num processo de educação. É desejável que você avalie se seu filho aprendeu que é bom levar o celular carregado quando sair para a balada. Poderá ter oferecido a ele a informação completa, explicando que para falar com os pais, numa situação não prevista, ele estaria apto a fazer isso de forma bem rápida.
Mas se você não observar e perguntar, algumas vezes, se ele carregou o celular antes de sair, não terá como dizer se o jovem valorizou isso como conhecimento para sua vida. Ele só aprendeu o que foi ensinado se, verdadeiramente, sentiu a significação desta atitude e a importância na hora do uso do aparelho, seja numa madrugada em que precisou, ou, somente com a informação recebida.
Entretanto, a aprendizagem pode ser realizada sem que haja ensino. Pode-se descobrir um meio para chegar ao conhecimento, por conta própria, procurando estímulos, a partir de motivos pessoais, e, mantendo, sozinho, um grau de atenção suficiente para o aprendizado. Alguns chamam isso de autodidatismo. Diferente da educação à distância em que, além da motivação do aprendente há a intenção de ensinar.
Com a tecnologia, tipo Google, redes sociais e Youtube, essa forma de aprender está muito próxima dos jovens. As investigações e as descobertas para uma questão que os motiva podem resultar, muitas vezes, em educação contínua ou em aprendizados eventuais. A aprendizagem pode ocorrer ainda com a leitura de um livro massa, com uma peça de teatro maneira ou com um filme absurdo.
E a nossa aprendizagem dos novos usos de algumas palavras como adjetivos e outros significados, bem como a forma de abreviá-las, inventadas no Facebook, pelos jovens, para ganhar tempo na escrita, são aprendidas rapidamente por eles entre si, e, por nós, que não queremos ficar “outside”.
O recado é: ativar neurônios, tanto numa reunião de negócios quanto no playground, como ensinantes e aprendentes, sempre!