Todo o mês, na primeira noite de lua cheia, ela se transformava.
Trazendo aos seres viventes do interior de sua casa, um sono profundo, ela saia sorrateira e como num transe, após ficar horas fitando a lua, estática.
A lua magicamente se aproximava, agigantando-se a cada segundo até chegar bem pertinho dela, irradiando aquela luz peculiar, ofuscante com centelhas prateadas, não era quente e nem gelada.
Um frio morno, esfriando seu corpo à temperatura noturna.
Enquanto a lua se aproximava ela ria, abrindo um sorriso malicioso, a boca escancarada, mostrando todos os seus dentes perfeitos e brancos.
À medida da proximidade da lua, sua protetora, a majestade noturna, seus dentes iam-se afinando e alongando, transformando-se em pequenas lâminas pontiagudas, que poderia estraçalhar carnes de qualquer oponente.
O riso transformando em gargalhadas estridentes e esganiçadas, ganhando fôlego, à medida que a lua chegava mais perto, até ofusca-la com o seu brilho prateado que a cobria totalmente.
Repentinamente, o corpo dela se alonga, afina e os braços e pernas ganham elasticidade estranha, as roupas escorregam de seu corpo deixando-a nua de tão largas no seu corpo delgado que antes eram esguio e perfeito.
De um salto ela sobe no dorso de um cavalo imaginário aos olhos humanos, porém ao seu aguçado e perspicaz olhar violáceo, avista o cavalo branco de pelos sedosos e bem aparados, escovados e luzidio.
Ao sentir o peso dela sobre o seu dorso, o cavalo dá um salto no ar, percorrendo o caminho que os raios de prata indicam, indo diretamente no interior da lua que a buscou, sem parar a gargalhada aguda, parecendo a de uma bruxa de contos de fadas, ela segue seu destino.
Onde ia ninguém sabia, mas a lua parecia ser um portal para o outro mundo, um mundo paralelo onde buscava a fonte da juventude, da energia e da vitalidade, pois no avançado da idade, ela jamais poderia ser o que aparentava durante o dia.
Trazia intrigas na vizinhança que fofocava entre si, como poderia o casal ter a aparência tão jovem, com a idade que tinham.
Algumas comadres insones, ouviam barulhos estranhos, uma vez por mês, e comentavam amedrontadas, o que poderia ser. Ficavam acordadas sem saber ao certo o que iriam presenciar. Tinham curiosidade e medo ao mesmo tempo.
Ocorre que, ao se casarem já com idade avançada, a esposa não conseguia atender à necessidade carnal do esposo amado, temendo não o fazer feliz.
Todas as noites após verificar que ele dormia, saia para a varanda contemplar a lua, pensativa e admirada pela beleza pura e majestosa.
Às vezes, se pegava pedindo uma solução para o seu caso, um pedido silencioso, de trazer a ela mais vitalidade, mais energia para poder atender o seu amado. Algumas noites, ela percebia o brilho mais intenso vindo da lua, que parecia sorrir.
Ela percebia ser a primeira noite de lua cheia, e a oração se tornava fervorosa, até que um dia ouviu a lua sussurrar algo que de início não percebia, mas depois nitidamente, a cada lua cheia sentia arrepios pelo corpo, trazendo um prazer imenso, como se os raios de prata a acariciasse, a beijasse toda.
Aquele friozinho morno a deixava em êxtase, fazendo-a jovial e sensível, cheia de energia.
Depois dessa noite, a lua sussurrou mais forte, reivindicando-a, a cada primeira noite de lua cheia, quando enviaria o cavalo alado e ela teria que se apresentar ao além e cumprir a promessa feita. Em troca teria sua vida e a de seu amado, plena e imortal.
No dia seguinte, ela acordava na cama juntamente com o seu esposo, tudo não parecia ser senão um sonho, só as aparências físicas desmentiam.