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Projeto premiado - natureza e cultura com abelhas cultivadas - aE

Projeto premiado: natureza e cultura com abelhas cultivadas

A admiração curiosa do observador no jardim da escola cria um projeto de sucesso

Projeto premiado de natureza e cultura sempre desperta nossa curiosidade. Onde e quando? Qual o prêmio recebido? E  as abelhas? É de meio ambiente, então, pode-se concluir rapidamente.

Sim, o leitor que pensa em meio ambiente está certo. Meio ambiente, a grosso modo, está relacionado com tudo o que nos cerca como contexto para possibilitar  a preservação de todos os seres vivos.

De acordo com a Política Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pela lei 6.938 de 31 de agosto de 1981, meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Portanto, pode-se pensar em todo aquele espaço onde estão inseridos os seres vivos que habitam o planeta e as relações que estabelecem entre si, sob influência de diversos fatores. Há uma cadeia que mantém o equilíbrio da vida na Terra e todos nós participamos disso, direta ou indiretamente.

O que poucas pessoas sabem é que existem diversos tipos de meio-ambiente. Em minha pesquisa para fundamentar este artigo, descobri que há cinco tipos de meio-ambiente: o natural (mais conhecido), o cultural, o artificial, o do trabalho e o do patrimônio genético. Todos eles constituem bem jurídicos tutelados e formam prismas diferenciados do que seja o meio ambiente.

Brevemente, vamos caracterizar cada tipo sob seu prisma peculiar. O meio ambiente natural envolve a natureza e ambientes preservados naturalmente, que fazem parte da flora e fauna. É tudo que existe, independente da criação humana, é o mundo verde e vivo. A flora e fauna são elementos bióticos, pois possuem vida e metabolismos próprios.

Ainda no meio ambiente natural, encontramos os  elementos abióticos, como o solo, o ar, a água, o clima, bem como recursos e fenômenos físicos, tais como energia, radiação e magnetismo.

O meio ambiente cultural se caracteriza por não ser físico em sua essência, com elementos palpáveis ou táteis, mas o que comumente denominamos patrimônios imateriais culturais de um povo ou grupo social.

Pode-se sentir e entender de forma abstrata este tipo de meio ambiente, que compreende manifestações artísticas, de arquitetura, arqueológicas, turísticas, paisagísticas e mesmo naturais.

O  meio ambiente artificial integra o que o ser humano constrói e deixa de ser natural, como edifícios, espaços públicos, sejam urbanos ou rurais. O trabalho, por sua vez, visto como meio ambiente, é todo o espaço que é usado para realizar atividades profissionais.

O meio ambiente do património genético é o mais novo tipo categorizado e engloba o desenvolvimento de pesquisas, tais como os transgênicos (organismos geneticamente modificados), células-tronco, fertilização in vitro. Pode-se concluir que está relacionado às pesquisas como um banco de dados das informações e procedimentos referentes à área, descobertos e aplicados aos seres vivos.

Considerado nesta amplitude e totalidade, percebe-se que a consciência humana atribui a todos nós, uma grande responsabilidade, como usuários e construtores, quanto à preservação do meio ambiente em todas as suas dimensões que possibilitam, abrigam e regem as mais diversas formas para assegurar o equilíbrio da vida na Terra.

E  é graças à uma iniciativa de assumir a consciência de sua responsabilidade, que podemos encontrar o protagonista deste artigo. Celson Fernando Pertille Ramos com sua esposa Maria Rosa Kodama Pertille Ramos residindo, temporariamente, durante a pandemia, na Aliança Francesa na cidade de Foz do Iguaçu no Paraná, onde já atuam, ele como administrador há 15 anos, ela, como coordenadora de ensino e professora há mais de 25 anos.

Projeto premiado
Foto do espaço do Projeto Le Jardin des Abeilles antes da Pandemia

A curiosidade de Celson, a partir da observação de abelhas sem ferrão, no ambiente do jardim de seu local de trabalho e moradia temporária, e, pelo isolamento social, com maior tempo disponível para admirar a natureza e pesquisar na internet, começa a fundamentar um projeto de Meliponicultura, denominação própria do cultivo iniciado.

É possível que o leitor questione o local e o momento desse projeto. Como é possível cultivar e reproduzir as abelhas num espaço de cultura e educação em plena pandemia? O quanto este projeto se adequou e foi viável no tempo e espaço disponível? Celson nos conta, agora:

A Aliança francesa de Foz do Iguaçu está instalada em uma casa no centro da cidade e possuía pouquíssimas plantas. Com o estudo das Abelhas sem ferrão (ASFs) vi a necessidade de preparar um jardim para alimenta-las. Uma coisa puxou a outra… Antes de uma abelha, uma flor….. não se pode criar abelha se não criarmos uma estrutura adequada quanto a local protegido, caixas com a devida proteção térmica e principalmente pasto melífero para auxiliar no sustento dos enxames.      O terreno, antes, todo calçado foi preparado para receber plantas nativas brasileiras que são muito procuradas pelas abelhas sem ferrão. O estudo das ASFs e a adequação do Jardim me envolveram durante todo o período de reclusão devido à pandemia e quando o isolamento terminou eu já estava totalmente apaixonado pelas minhas pequenas operárias. As pesquisas e adequações não pararam mais…

A partir de 2022, na pós-pandemia e fora do isolamento social, aquele trabalho amplia-se e há uma ação empreendedora em torno do projeto Le Jardin des Abeilles que vem a receber o reconhecimento da UNESCO ao ser premiado em concurso internacional.

Essa premiação se originou de uma reunião de trabalho das 37 unidades da Aliança Francesa existentes no Brasil, ocorrida no Rio de Janeiro no final de junho de 2022. Entre os diversos ateliês realizados um era sobre Ecorresponsabilidade.  A pergunta colocada aos participantes: O que a sua Aliança esta fazendo pelo meio ambiente? 

Ao relatar o projeto de Foz do Iguaçu, que já contava naquela data com seis enxames de abelhas Jataís, Celson conta que foi incentivado pela coordenação brasileira a inscrever o projeto no concurso mundial de Ecorresponsabilidade, com o patrocínio da UNESCO, envolvendo as mais de 1.500 Alianças do mundo.

O prazo para a inscrição era apertado, faltavam nove dias, mas como eu já estava com a ideia em implantação formatei o material, anexei fotos e consegui enviar no último dia do prazo.  Uma semana depois recebi um pedido de Paris para enviar mais fotos do que estávamos fazendo. Fiquei satisfeito (pelo menos meu projeto tinha sido apreciado e despertado algum interesse) …Mais uma semana, e, recebo a notícia que tínhamos ficado em segundo lugar no concurso mundial. Fantástico para algo que começou como um hobby despretensioso…

Projeto Premiado
Foto do espaço do Projeto Le Jardin des Abeilles enviado para a UNESCO

O projeto além de ter sido “apreciado e ter despertado algum interesse”,foi reconhecido, com diploma, e, tudo o mais que a gente pensa ao falar em premiação. Isso mesmo, teve até prêmio em dinheiro: 1000 euros que foram investidos totalmente na ampliação do Projeto Le Jardin des Abeilles.

Projeto premiado
Diploma – Projeto Le Jardin des Abeilles

 

O protagonista empreendedor premiado, continua:

Durante os estudos e pesquisas, localizei outras pessoas em Foz do Iguaçu que tinham interesse no tema e até mesmo cultivavam alguns enxames. Depois de alguns encontros e troca de ideias, criamos a Associação do Meliponicultores de Foz do Iguaçu (AMASF-Foz) com a ideia de nos apoiarmos e atuar em conjunto para a definição de políticas ambientais do município que ajudem na proteção de nossas pequenas abelhas. Hoje temos mais de 60 associados criando abelhas e montando pequenos Meliponários em suas residências.

Após a pandemia, além da criação da Associação, várias instituições da comunidade e novas pessoas interessadas se agregam ao projeto e começam a surgir novos Jardins do Mel em Foz do Iguaçú. A ideia é criar espaços que possam ser utilizados numa abordagem socioeducacional junto à população local, tanto escolar quanto em geral, e, esse foi o objetivo inicial e a motivação para a UNESCO reconhecer a iniciativa paranaense.

Projeto premiado
Espaço do Projeto Le Jardin des Abeilles seis meses depois

A ideia que começou com a criação de le jardin de abeilles, nome inspirado pelo berço inicial dos bichinhos voadores e produtores de mel, cresce muito a partir do olhar apaixonado de Celson em relação à natureza, com o apoio de sua esposa, e, hoje já conta com o cultivo de 10 espécies diferentes de abelhas sem ferrão.

O encantamento de Celson, a partir de um único enxame de abelha que escolheu, espontaneamente, um vão no batente de uma janela da Aliança Francesa, tendo sido observada desde o jardim da escola, cresceu durante a pandemia. 

Hoje, com a mesma admiração, ele segue capturando outras abelhas e continua a aprender, com outros cultivadores de abelhas sem ferrão, as melhores estratégias para assegurar o sucesso de seu projeto.

 

Vídeo do acervo pessoal do responsável pelo projeto na visita ao Jardin des Abeilles pelo Consul da França de São Paulo, coordenador das regiões Sul e Sudeste, M. Yves Teyssier d’Orfeuil, no momento em que Celson explica ao visitante aspectos do cultivo das abelhas sem ferrão.

 Assim, o número de abelhas continua se tornando mais expressivo no jardim que foi preparado com tanta dedicação, ampliado com a criação de enxames e  novos berçários para a reprodução desses bichinhos que recebem admiração de todos os visitantes, alunos, professores e outros meliponicultores da cidade e mesmo de fora dela.

Os dados do Jardin des Abeilles, hoje, são de mais de 50 enxames que compreendem mais de 3 mil abelhas por caixa de produção e todas integram o tempo e o espaço do projeto onde se reproduzem e voam livremente. Os estudantes já se acostumaram com a presença delas no intervalo das aulas quando vão ao pátio. Afinal, elas não possuem ferrão….

Estudantes e professores, bem como muitas pessoas da comunidade, reconhecem que as abelhinhas deram oportunidade para que a Aliança Francesa de Foz do Iguaçu fosse mais uma vez reconhecida por suas atividades criativas e empreendedoras desenvolvidas pelo Celson e pela Maria Rosa.

Destaco aqui outro projeto que já faz parte do roteiro cultural da cidade: a noite de vinhos com apresentações musicais e jantares temáticos regados a vinhos que são consonantes a cada prato. A conversa se desenrola em francês e português com a participação de chefs e somelliers que trazem as informações de gastronomia e harmonizações dos vinhos (prometo contar essa história em outro artigo, com certeza).

Desta vez, o projeto criativo e de educação para o meio ambiente, (recordando os cinco tipos já apresentados neste artigo), integra a preservação da natureza no zelo com um ser vivo tão específico e de tanta importância para a preservação dos alimentos da região, e com um potencial cultural para criar uma expressão de aspectos paisagísticos e de turismo no futuro, a partir da natureza.

Celson continua a aprender o nome dos mais variados tipos de abelhas sem ferrão e prossegue na pesquisa para descobrir a função específica de cada espécie relacionada ao trabalho que fazem na produção de alimentos através da polinização. Agrega, assim, cada vez mais informações e habilidades a seu repertório pessoal…

É o próprio idealizador do projeto e  promotor do empreendimento que traz informações curiosas para nós sobre o poder de polinização na agricultura.  Tudo que é produzido no setor agrícola, precisa de polinização e aí está o grande papel das abelhinhas.

Continua, ele, demonstrando a admiração que nutre pelas abelhas no ecossistema, e, exemplifica: maracujá é polinizado por uma abelha sem ferrão, o mesmo ocorre com a berinjela e também com o moranguinho, que é polinizado pela abelha jataí.  

Novas habilidades e atitudes do promotor da iniciativa demonstram ser exequível e relevante o projeto que apresenta um potencial para ser culturalmente expandido em larga escala entre as Alianças Francesas, conforme reconhecido e premiado pela UNESCO no evento realizado em Paris, na data de 18 de julho de 2022.

Alianças Francesas ao redor do mundo assim como do Brasil participaram do certame no qual o projeto recebeu o prêmio e um diploma de segundo lugar entre todas as Alianças Francesas que concorreram na categoria de Ecorresponsabilidade. Hoje, algumas outras Alianças já demonstram interesse em replicar a experiência do Paraná.

A expansão da proposta de Le Jardin des Abeilles, a partir do trabalho e da paixão do Celson é uma realidade em Foz do Iguaçu. O estado do Paraná já possui um projeto de incentivo à criação de abelhas sem ferrão em vários municípios. Foz não participava deste projeto maior e existe neste momento um trabalho conjunto neste sentido.

As instituições de Foz oferecem suporte ao projeto, por sua relevância. A área de Educação Ambiental o apoia, a defesa civil quando intervêm nas chamadas referentes a problemas de enxames já está ciente da existência das abelhas sem ferrão para proteger e preservá-las. A Prefeitura e outras instituições de Foz do Iguaçu estão dando o suporte para a divulgação do projeto.

 As abelhas sem ferrão já são orgulho da cidade e cada vez mais esta cultura vem crescendo e interessando mais pessoas. Um privilégio que traz a admiração da natureza e a responsabilidade em preservar este animalzinho que é tão importante para o ecossistema.

Nas palavras do idealizador do projeto e empreendedor, que expandiu a ideia e criou, junto a outros interessados, a Associação dos Meliponicultores, devem ser tomados alguns cuidados para ampliar em novos espaços a cultura de abelhas sem ferrão, com o mesmo zelo do projeto inicial.

Entre esses cuidados, temos:

  • Educar nossas crianças mostrando a importância das abelhas;
  • Evitar o desmatamento urbano;
  • Incentivar a plantação de árvores e flores nativas que ajudem na alimentação das abelhas;
  • Implantar Jardins do Mel em praças e escolas com 4 ou 5 enxames com a devida orientação sobre sua importância no ecossistema.

Conclui com uma reflexão, Celson Fernando Pertille Ramos, o protagonista deste artigo:

 A natureza é sábia.  Temos que procurar a sintonia com o que nos cerca e com certeza teremos uma melhor noção do quão pequenos somos e o quanto ainda temos que aprender.  Em vários momentos do dia, fujo das atribulações da vida de administrador de empresa e me refugio no meu pequeno Meliponário para receber a energia que as pequenas abelhas transmitem no seus constantes vai-e-vem …. isto me traz paz… isto é a vida fluindo plena ao meu redor.

Quando comentamos o autoconhecimento de um empreendedor e iniciativas como esta que relatei aqui, lembro de uma afirmação da escritora Lygia  Fagundes Telles: Vocação é a felicidade de exercer o ofício da paixão.

Inspirada nessa frase eu digo que a cada paixão que surge em nossas vidas, criamos um ofício relacionado a ela e isso nos traz felicidade ao exercemos nosso compromisso conosco mesmo e expressarmos nossa realização no coletivo. Esse movimento criador aumenta o autoconhecimento, ao trabalharmos nossos talentos, nossas fortalezas e fragilidades.  

Aproveito a ocasião para informar que venho sistematizando um método para autoconhecimento e melhor expressão na vida, a partir de competências intrapessoais e interpessoais, junto com uma equipe de colunistas da Revista e outras consultoras.

Num encontro de família, ao conversar com Celson, senti muita vontade de trazer a história desta paixão de uma vocação despertada durante a pandemia, no isolamento, que trouxe “paz e vida fluindo plena”.

A história aqui relatada evidencia que as crises sociais podem oferecer suporte de superação individual e de acolhimento aos desafios, podendo conduzir a belos empreendimentos com realização de projetos de sucesso. O uso do tempo como nosso aliado é um talento!

Referências para aprofundar os temas tratados no artigo:

 

  • Curso da Embrapa em vídeos sobre Abelhas sem ferrão:

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

 

  • Sobre meio ambiente e sua tipologia:

BRASIL, Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Política Nacional do Meio Ambiente. Brasília, DF, 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>

Ecoa Consultoria, 2020. Disponível em: <https://ecoaconsultoria.com.br/blog-da-ecoa/post/74544/voce-sabia-que-existem-5-tipos-de-meio-ambiente>.

GONÇALVES, Gabriel Borges. Tipos de Meio Ambiente. Minas Bio Consultoria. https://www.minasbioconsultoria.com/  e  muitos outros artigos sobre meio ambiente.

Pensamento Verde, 2018. Disponível em: <https://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/entenda-classificacao-dos-diferentes-tipos-de-meio-ambiente/>.

SILVA, Antônio Carlos. O que é patrimônio genético. Portal da Câmara dos Deputados, Agência Câmara de Notícias, 2002. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/noticias/21528-o-que-e-patrimonio-genetico/>.

  • Sobre a frase de Lygia Fagundes Telles mencionada no artigo:

Tiro de Letra : Grandes Entrevistas  Lygia Fagundes Telles.  Programa Roda Viva. TV Cultura. Disponível em:  https://www.tirodeletra.com.br/entrevistas/LygiafagundesTelles.htm

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Corina Ramos

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