Teoria universo 25

Teoria do Universo 25

A neurociência do colapso humano silencioso

A Teoria do Universo 25 é, antes de tudo, um alerta silencioso sobre o destino das sociedades que confundem abundância com evolução.

Ela nos mostra que a ruína coletiva não começa com guerras, mas com a perda gradual de propósito, vínculos e identidade. O colapso não soa como uma explosão — ele ecoa como um suspiro indiferente. E talvez, mais do que nunca, estejamos vivendo exatamente isso.

John B Calhoun
Teoria do Universo 25 -John B Calhoun

Na década de 1970, o etólogo John B. Calhoun criou aquilo que chamou de “Universo 25”, um ambiente utópico para ratos: comida abundante, abrigo confortável, ausência total de predadores. Um verdadeiro paraíso roedor. Ainda assim, o que se observou foi uma lenta, progressiva e irreversível decadência comportamental que culminou na extinção da colônia.

A metáfora não apenas persiste. Ela pulsa. O Universo 25 não é um experimento do passado — é um espelho do presente. O que Calhoun registrou nos roedores, hoje, neurociência, psicologia social e criminologia registram nos humanos. O colapso não começa com a falta, mas com o excesso sem propósito.

No início, os ratos exploravam, interagiam e reproduziam-se. Mas à medida que o ambiente se estabilizava e não havia mais necessidade de “lutar para existir”, começaram a surgir os primeiros sinais de disfunção.

Na neurociência, isso é chamado de “apatia hedônica” — um estado em que o excesso de estímulo desregula os centros de recompensa do cérebro. O indivíduo para de reagir ao que antes dava prazer. Nada mais entusiasma. Nada mais mobiliza.

Na criminologia, isso pode ser observado no aumento de condutas impulsivas, hedonistas e autodestrutivas, mesmo em contextos de aparente estabilidade socioeconômica. Não se trata de carência. Trata-se de desorientação identitária.

A estrutura social dos ratos começou a ruir quando os papéis sociais perderam sentido. Fêmeas deixaram de proteger os filhotes. Machos deixaram de disputar território. Surgiram os “ratos belos”: criaturas narcisicamente autocentradas que se isolavam e viviam apenas para comer, limpar-se e dormir.

No humano, chamamos isso de colapso funcional do self social. Não há mais integração entre identidade e propósito. O indivíduo existe biologicamente, mas não socialmente.

E a ausência de papel social — seja como pai, cidadã, profissional ou membro ativo de um grupo — é o combustível perfeito para comportamentos disruptivos, autodestrutivos ou mesmo antissociais.

É nesse vácuo que o crime emerge. A violência não é sempre fruto da maldade, mas muitas vezes do vazio.

No Universo 25, os ratos estavam fisicamente próximos, mas emocionalmente isolados. Hoje, estamos digitalmente interligados, mas psiquicamente fragmentados.

O córtex pré-frontal — área do cérebro associada ao raciocínio moral, empatia e tomada de decisão — é altamente sensível ao excesso de estímulos e multitarefas. O resultado é claro: exaustão executiva, impulsividade e dificuldade de manter vínculos profundos.

A taxa de suicídios, automutilações, crimes passionais e violências sem motivo aparente acompanha esse fenômeno. Não é coincidência: é sintoma de uma sociedade em agonia afetiva.

Os ratos deixaram de copular. De proteger. De cuidar. Viviam apenas por viver.

Hoje, vemos uma sociedade exausta: produtividade sem alma, obrigações sem significado, rotinas que mais se parecem punições.

O chamado “burnout existencial” já é reconhecido em diversas literaturas da psicologia do trabalho.

E, enquanto isso, o prazer se transformou em anestesia: consumo desenfreado, uso de substâncias, vício em redes, compulsões. Tudo para não sentir. Tudo para silenciar o que grita por dentro.

O fim do Universo 25 não foi um apocalipse. Foi uma apatia. Ninguém lutou. Ninguém resistiu. Eles apenas… pararam.

E é isso que mais assusta: o colapso não vem com explosões, mas com silêncios. Não é o caos que mata a sociedade — é a indiferença.

O fim do Universo 25 não foi um apocalipse. Foi uma apatia. Ninguém lutou. Ninguém resistiu. Eles apenas… pararam.

E é isso que mais assusta: o colapso não vem com explosões, mas com silêncios. Não é o caos que mata a sociedade — é a indiferença.

Nos tribunais, vemos crimes cada vez mais banais, fúteis e cruéis. No cotidiano, a empatia se esvai, e o sofrimento alheio se torna entretenimento. O humano continua existindo biologicamente. Mas já não sente, não se importa, não pertence.

A explosão de canais digitais voltados para crimes reais, com milhões de seguidores, tornou o horror um produto de fácil digestão. Casos de feminicídio, tortura e assassinato são narrados com edição cinematográfica, trilha sonora e comentários “especializados” — supostamente educativos, mas frequentemente desprovidos de qualquer cuidado ético ou noção de impacto social.

Esses conteúdos, que deveriam informar com responsabilidade, acabam alimentando mentes fragilizadas, transtornadas ou em estado latente de violência. Em nome da audiência, disseminam técnicas, detalhes mórbidos e estratégias de ocultação de crime — ensinando, ainda que indiretamente, como fazer.

Casos como o da jovem Vitória, em Cajamar, são um exemplo inquietante. O autor do crime utilizou informações amplamente divulgadas pela mídia para executar a violência e tentar ocultar o corpo. A fronteira entre a informação e a incitação tornou-se tênue — e perigosamente ignorada.

Não se trata apenas de falta de empatia. É uma soberba alimentada por views, cliques e monetização. O “eu informo” cedeu lugar ao “eu performo”. O “eu explico” virou “eu exploro”. E se o outro sofrer, azar o dele.

Esse narcisismo digital, disfarçado de jornalismo ou educação, contribui ativamente para o colapso moral. Estamos ensinando o crime enquanto aplaudimos a barbárie.

Reflexões urgentes para não repetirmos o Universo 25

Ressignificar o papel social: mais que uma função, cada indivíduo precisa de um lugar de pertencimento e valor.

Reconstruir vínculos reais: conexões humanas profundas são fator de proteção contra colapsos psíquicos e morais.

Valorizar o trabalho com propósito: produtividade sem sentido é desgaste — não evolução.

Reconhecer o sofrimento emocional como legítimo: saúde mental é uma questão coletiva, não apenas individual.

Resgatar o sentido da coletividade: sem o “nós”, o “eu” adoece.

O Universo 25 não é um experimento sobre ratos. É um aviso sobre humanos.

O colapso já começou. A pergunta é: teremos coragem de reagir?

Escritora científica pelo ORCID (Open Researcher and Contributor ID)
Identificação Internacional, 0009-0001-2462-8682

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