A sociedade está sendo esmagada pelo conceito de normalidade. Rebelar-se contra esse conceito é se permitir viver para além da mediocridade
Mediocridade – A etimologia da palavra medíocre foi baseada no original do latim “mediocris”. Na língua portuguesa, este termo pode caracterizar medíocre como “o que fica ao meio da rocha ou montanha”, que está meio caminho para cima. Indeciso. Sem opinião própria.
Esse adjetivo surgiu entre os anos 1580 e 1590 na Europa, para caracterizar os indoutos que não participavam do processo do renascimento cultural, pós-era das trevas.
Na leitura de “O pobre homem” (1930), descobri em Ingenieros, seu autor, que uma pessoa incapaz de usar sua imaginação para extrair ideias que o propõe a lutar por um futuro de acordo com sua concepção, é uma pessoa medíocre.
Sem iniciativa própria, pensamento crítico e altruísta, a pessoa medíocre se torna submissa aos preconceitos, cúmplice de interesses de outros, vive de acordo com as conveniências, modismos, achismos, e acaba por não questionar a veracidade, a autenticidade das informações.
Nessa relação de passividade com o que lhe é definido pelo “outro”, acaba por agir cegamente o que lhes têm imposto pela tradição ou moda.
A normalidade, o contentamento e a procrastinação, leva qualquer sociedade à mediocridade. Estar além deste contentamento é contrariar a ideia do comodismo e generalização do que é dito pelo senso comum.
Ser original é ter singularidade e se opor à mediocridade. Paollo, (2013) diz:
“A mediocridade sempre representa o contrário da ideia que todo homem em toda sociedade tem de si mesmo”.
Para vencer a mediocridade o homem precisa de visão para além do óbvio, do fixo e do fútil. Para tal, será preciso um pensamento claro, determinação, ultrapassar a barreira da preguiça e indiferença.
Esses estágios permitem ao homem a formação de uma unidade a partir de elementos básicos de um existir autêntico. Ser singular em mundo de mesmice, tédio e futilidade. Mas que estágios são esses?
Para Jung, a possibilidade em tornar-se uma pessoa inteira seria possível a partir de um processo a qual ele denominou individuação. Carl Jung (1991), diz que:
“A individuação, em geral, é o processo de formação e particularização do ser individual e, em especial, é o desenvolvimento do indivíduo psicológico como ser distinto do conjunto, da psicologia coletiva. É, portanto, um processo de diferenciação que objetiva o desenvolvimento da personalidade individual”.
É preciso enxergar para além das circunstâncias. A visão é um elemento essencial para ser original em uma época de cópias e reproduções passivas de modismos.
Nós enxergamos o que compreendemos! Nós compreendemos o que desejamos. Nossa intenção faz toda a diferença!
Para que nossa visão não seja obsoleta, elementos tais como: atitude, fé, capacidade, determinação e entusiasmo, precisam acompanhar nossa visão. Não basta apenas “ver”. É preciso enxergar. Dar sentido à coisa. Ter um propósito.
Estávamos no último jogo da Copa do Mundo. Todos ao meu redor, frustrados com os resultados cada vez mais decadentes do time brasileiro em relação aos demais times. Eu estava tão tranquila que incomodava o grupo.
Desde o início, ainda nos amistosos, sendo eu esposa de jogador e analista de comportamento, dediquei algum tempo à uma análise pessoal sobre os times que fariam a diferença nesta tão esperada oportunidade do Hexa.
Por experiência e critério investigativo, anunciei desde a primeira partida que a França alcançaria o mérito do bicampeonato. Todos zombaram de mim.
Na partida de decisão, o resultado revelou que minha visão não estava tão obsoleta, apesar de ser contrária a uma multidão.
Acima dos limites impostos pelo modismo, eu percebo o autoconhecimento e contribuo ativamente para o processo de transformação.
Muitas situações revelaram esses processos nesta Copa. Alguns exemplos de altruísmo e transformação podem inclusive nos servir de referência nesta reflexão.
A Croácia, país marcado pelo estigma das rivalidades culturais e interesses políticos, apresentou-se tímida, mais determinada.
O objetivo de ascender a nacionalidade a um patamar único este ano, levou os croatas a uma estratégia continua: a formação da unidade a partir da estratégia baseada na determinação da vitória.
Como exemplo, tomamos o craque Luka Modrić, que mesmo alcançando o Globo de Ouro, título este entregue ao melhor jogador da Copa, demonstrou gratidão, contudo ressaltou sua preferência pelo título do mundial, e não do pessoal.
Modrić é um exemplo clássico de vida para além da mediocridade. Sua visão era 100% coletiva. Altruísta e determinante para que seu time chegasse onde chegou.
Singular em suas decisões, contribuiu para o equilíbrio dos jovens guerreiros da bola. Em entrevista disse:
“Não era o título de melhor jogador do mundo que eu aspirava, mas a taça para meu país!”
Grato, determinado e vitorioso, mas sem vaidades. Seu legado não era como muitos aspiravam ser estrelas, o centro das atenções, capazes de mil malabarismos e memes para serem “favorites”.
Aspirava o legado de todos, onde não um nome qualquer, mas os nomes de seus conterrâneos croatas fossem louvados. A representação de sua líder política só ratifica nossos elogios.
Viver para além da mediocridade é possível quando há disposição. Interesse!
“Pessoa” deveria ser um elogio, e realmente, é muita responsabilidade Ser. (Clarice Lispector)
Já considerou a perspectiva de voar mais alto?
Seja excelente em tudo. Viva além do medíocre!
Com vocês, sempre.