A sensação de desamparo do homem é inevitável.
Tempo é história. Através da história percebemos um mundo acelerado num processo de transformações, lidando com o desamparo frente ao Destino.
Ao longo da historicidade humana, mudanças de valores, conceitos sexuais, familiares, religiosos, papéis sociais, morais, e tantos outros, revelam diversos modos de organização subjetiva e mudam constantemente.
Tais situações nos leva a reflexão sobre a repercussão do comportamento humano e suas significações simbólicas relacionadas às condições de amparo e apego do homem moderno.
No século passado, com a invenção da Psicanálise, Freud (1927), descreveu em “Futuro de uma Ilusão” alguns comportamentos relacionados à natureza humana, moldados pela civilização.
Contudo, para essa primeira fase de nosso autor, preserva a luta entre as barreiras impostas pela moldura social e forças de um Destino impessoal.
Certo que Freud se refere a uma espécie de caráter instintivo humano, ele esclarece ao longo de seu ensaio que este instinto preserva tendências filogenéticas destrutivas e antissociais, mais visíveis em algumas pessoas e influenciado pela cultura.
Para o fundador da Psicanálise, essas condições que estão sujeitas às regras sociais humanas, impõem certa quantidade de privação, e a alguns, traz tanto sofrimento que os leva a “resistir” as regras impostas para a ordem social.
A questão decisiva, se encontra então, no saber como e, até que ponto, seria possível distinguir e diminuir os sacrifícios impostos aos homens e compensa-los por isso.
As forças coercivas sempre foram rédeas à livre indisciplina.
Mas, para o filósofo, essa coerção só é funcional a algumas classes sociais, o que pode ainda, reforçar a hostilidade dos menos privilegiados. Entretanto, a tendência destrutiva contempla todos os homens.
A Origem dos Desejos Destrutivos
De acordo com a Psicanálise Freudiana, os desejos instintivos destrutivos renascem em cada criança. Algumas parecem mais predispostas que outras à comportamentos associais.
Por conta desta proposição, ao Estado implicaria a sanção coerciva para manutenção da ordem social, e a educação, seria o processo fundamental para a internalização de uma mente “transformada em um ser moralmente social”.
Tal como, para a humanidade em geral, e, para um indivíduo, a vida não é facilmente suportável. Logo, frente a pseudo ordem humana, se impõe certa quantidade de privação, e, a alguns trará demanda de sofrimento e adoecimento psíquico.
Em termos pavlovianos, o comportamento estímulo-resposta, reforça nossa linha de reflexão. Ante as aflições constantes, supomos respostas de permanentes estados de ansiedade, podendo se agravar em estados de maior hostilidade.
Quando se trata de uma raison d’être real humano, como o homem se defende das intempéries do Destino? E ao que não está condicionado, como reage?
Resposta Humana Frente as Intempéries do Destino
Instinto ou Fatalidade?
Frente às intempéries do Destino, o homem se depara com uma realidade um tanto cruel. Fatores naturais, e, mesmo criados pelos homens, a partir de acidentes e atitudes sádico-terroristas, levam muitos a um estado de terror e hostilidade.
Se o Estado, a sociedade de um modo em geral, o uso ético das tecnologias e conquistas humanas não se alinharem na tarefa de defender o homem contra a natureza impulsiva e destrutiva, ficará difícil se criar mecanismos futuros para o controle do caos.
Sob esta condição, o desamparo se instala, e nesse lugar a necessidade de isso uma força maior. É aí que surge e se alinha a ideia e o anseio pelo “Pai” enquanto arquétipo da Lei e da proteção.
A ideia de deuses, ou mesmo um Deus frente as intempéries humanas, têm a missão de exorcizar os terrores da natureza, reconciliar os homens com a crueldade do Destino, principalmente no que se diz respeito ao medo da morte.
Além do mais, compensar os homens pelas suas privações e sofrimentos, conota em uma espécie de justiça divina.
Como as Civilizações mais Antigas Percebiam as Intempéries do Destino?
De acordo com os tratados antropológicos, as civilizações mais primitivas, percebiam os fenômenos da natureza relacionados a necessidades internas. Como exemplo, citamos os gregos que associavam seus deuses aos estados temperamentais.
Não demorou muito para associarem os fenômenos naturais aos deuses específicos e instituí-los como “senhores” daquelas situações e ansiedades.
Sendo os deuses senhores do Destino, este, estaria subjugado aos seus caprichos e temperamentos.
Mas com o estabelecimento da razão pratica entre os primeiros pensadores clássicos, a questão do Destino parece ser revista inúmeras vezes. Se os deuses criaram o Destino, seus desígnios não deveriam estar submissos a eles?
Como poderiam até mesmo os deuses serem submetidos a sua própria criação, o seja, ao Destino?
Pensamento Protocristão Sobre o Destino e as Intempéries
No mito da Gênese Humana, o cenário do medo e culpa já se instala logo nos primeiros capítulos, referindo-os como consequência do “Pecado Original”.
Nossos pais, criados do barro, não foram aprovados no “Teste da Árvore”, e procuraram a partir de suas escolhas, uma emancipação (ascensão da vida) de espíritos a espíritos humanizados.
A escolha do Casal do Édem, caracterizada por uma espécie de “desobediência”, parece ser perpetuada a toda criação. Em Salmos 51:5, Davi descreve:
“Eis que fui nascido em iniquidade, E em pecado me concebeu minha mãe”.
A consciência primitiva existencial, que pode aqui, ser relacionada a uma experiência da memória de uma realidade remota, permite acesso às lembranças, que a psicanálise descreve como inconsciente.
Para Carl Jung, esse revival coletivo, é denominado Arquétipos ou Inconsciente Coletivo, e é perpetuado filogeneticamente.
Compreendendo a Angústia Frente ao Destino
Um sujeito, tem como companheiro inevitável em sua vida fática, a angústia.
Compreender essa ideia é de grande valia e acesso real desse ser-no-mundo. Principalmente quando se mergulha no percurso histórico.
A liberdade da existência consiste na pura possibilidade de incerteza. Desta forma, demanda tomadas de decisões constantes. Frente ao risco de escolher, a consciência dos limites, sejam pessoais ou impostos pela civilização, nos coloca na mira do Destino.
Arriscar-se livremente frente a ele, nos faz dar conta que, mesmo estando em suas mãos, somos impelidos a ação que nos força a sair da inércia e pormos fim ao estado da incerteza.
Em tempos de pandemia, tal qual o COVID-19, essa realidade nos afeta de tal maneira que o medo se instala ocasionando maiores danos individuais e coletivos.
Fomos convidados a compreender esse processo de forma racional e reflexiva a partir deste texto.
Espero que frente toda este infortúnio, você faça a escolha de contribuir para que esta angústia cesse, e logo venhamos a reconstruir nossa história de forma mais verdadeira e humana.
Toda coerção está sendo necessária para um fim muito maior. Por fim, compreendemos que o Destino, até nos prega peças, mas qual seria então a nossa escolha frente a uma grande possibilidade de golpe nesse mesmo Destino?
Com vocês, sempre!
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