Penso, Logo, falo. Logo, comunico-me. Certo? Não! Ao menos, não necessariamente.
Muitas vezes confundido com Pensamento, o Pensar apresenta significados como sendo o processo pelo qual a consciência apreende determinado conteúdo; reflete; forma conceitos; combina ideias; medita; raciocina; supõe; imagina; cogita; planeja. Mas também, por mais contraditórios que pareçam entre si, traz como sinônimos o cismar, considerar, discorrer, matutar, ruminar, ponderar.
A capacidade de pensar pressupõe, etimologicamente, avaliar o peso de algo. Daí a importância de colocar em prática expressões como “pensar antes de falar”, pois o aparentemente simples ato de falar pode trazer (e muitas vezes traz!) mal-entendidos com consequências severas.
Comunicar-se vai muito além de emitir sons, palavras, reverberar ideias. A essência da comunicação é a sobrevivência, pois encerra a necessidade de identificação com outros membros de dado grupo (atual ou no qual se pretende ingressar) para que este se fortaleça estabelecendo melhores estratégias de atuação e, consequentemente, atinja melhor e mais consistentemente seus objetivos, sejam estes de ataque, defesa ou sustentação do status quo.
Estar ciente e ter plena consciência dos aspectos e abrangências comunicacionais são passos fundamentais para definir e realinhar, sempre que preciso, o ato de transmitir ideias, conceitos e objetivos aos seus clientes internos e externos – também descritos como família, amigos, colegas de trabalho, gerente do banco, fornecedores, consumidores, enfim, todas as pessoas que entram, ficam e saem de nossas vidas.
Mecanicamente falando, o modelo comunicacional de Shannon-Weaver (1984) aponta elementos como a fonte de informação (emissor), a mensagem, o transmissor, o sinal (passível de influência de ruídos), o receptor e o destinatário. Contudo, bem sabemos que há muito mais elementos intimamente ligados a este processo. Assim, em 1954 o Dr. Schramm apresenta uma adaptação do modelo Shannon-Weaver que reconhece, além do codificador e decodificador, a necessidade de haver compartilhamento de um campo de experiência para que um possa emitir o feedback necessário para que ocorra a correta compreensão da mensagem ou, quando necessário, haja questionamentos adequados que auxiliem esta compreensão. Isto, em termos do dia-a-dia, é facilmente notado nas conversas que trazem expressões como “Então o que fulano esperava que acontecesse era…”, “Quer dizer que cicrano não entendeu nada do que você falou?”, “Não é nada disso!”, e o famoso “Ah, sim, agora entendi!”
Igualmente importante para compreender as razões de alguns processos comunicacionais serem tão tranquilos ou, por (muitas e muitas) vezes, serem tão complexos e até desgastantes, são as características pessoais e de comunicação dos participantes. Por exemplo, imagine-se com extrema dor de garganta na manhã daquela reunião absolutamente importante para o fechamento de um novo (e valioso) contrato. No mínimo ocorreu um “Xiiiii!” em sua mente. Claro que há diversas maneiras de lidar com isso, porém nosso foco aqui é perceber o quanto aspectos físicos interferem em uma comunicação. Agora, consideremos que se trata de uma pessoa que possui abrangências comunicacionais como gostar do processo de tomada de decisões, processo cognitivo analítico (observa atentamente todas as considerações que lhe são apresentadas), estilo comunicacional associativo (faz associações a fatos, elementos e consequências já vividas), possui dificuldades de adaptar-se a novos parâmetros e cuja forma de comunicação com seus pares e subalternos é de difusão (fala, mas não escuta). Consegue imaginar o provável repertório e o grau de fluidez da comunicação interna da empresa onde esta pessoa se encontra?
Certamente há muitas outras características – e suas diversas combinações – que desempenham papel fundamental nas escolhas e processos comunicacionais, tais como, personalidade, temperamento, caráter, intuição, opção por correr riscos, comunicação abstrata (ideias, conceitos), comunicação digital (que não reconhece nem usa metáforas e analogias), comunicação analógica (que compreende e usa adequadamente analogias e metáforas), aspectos físicos como fome, cansaço, rouquidão, estar adoentado ou com dor, e aspectos psicológicos como euforia, depressão, apatia, encantamento, descrença, etc., Da mesma forma temos as abrangências comunicacionais, tão fortemente influenciadas pelas características acima, que nos permitem compreender, aceitar, respeitar, rejeitar, estranhar produtos de comunicação como panfletos, vinhetas, comunicados, artigos, vídeos, textos, mensagens, campanhas promocionais, apresentações, reuniões, tendências e relacionamentos.
Dentre as abrangências temos a Estética – não a do participante, mas a linguística que consiste na boa escolha e combinação de palavras, no uso adequado da entonação, na beleza textual que uma escrita ou oralidade fluída traz, com boa sequência de parágrafos e argumentos bem sustentados.
Da Coreografia vem o ritmo textual trazido pelas palavras – com seus sinônimos e antônimos – e cadenciado pelo correto uso da pontuação. Na fala ela se revela no movimento dos interlocutores que, mesmo distantes um do outro, fazem uso de Gestos e Mímicas que reforçam ou, por vezes, deliberadamente contradizem a mensagem demonstrando desdém, incredulidade ou ironia. Demonstrações essas que podem ser acompanhadas de Sinalizações linguísticas como, por exemplo, “primeiro você …, depois …”, ou “com isso decidi …”, “resumindo …”, e outras tantas expressões que informam ao ouvinte em que fase do diálogo ambos se encontram.
Conceitos Educacionais permeiam e delineiam nossa comunicação demonstrando o que é, pode ser ou não é aceito como forma de expressão de opinião e pensamento – vocabulário, jargões, gírias, palavras chulas, vícios de linguagem. Eles também se fazem notar na expressão corporal que acompanha uma conversa, seja a forma de cumprimentar o outro, como toda a gesticulação durante o período de contato. São esses conceitos que determinarão os limites comunicacionais aceitos e praticados. Vale lembrar que estes limites não são completamente rígidos, pois o convívio com grupos culturais diversos, a experiência pessoal ou profissional, os padrões sociais vigentes na cultura local e nacional podem flexibilizar a compreensão e o aceite do que é possível e tolerável.
Outro fator que influencia fortemente as abrangências acima é a Globalização – não no sentido já desgastado pela mídia, mas de forma ampla uma vez que atualmente a informação é gratuita, está disponível na Internet, tornando as características, leis, costumes, tradições, crenças, culinária, cultura, religião, política, idioma e tantos outros aspectos plenamente disponíveis para quem deseja adquirir conhecimento e, consequentemente, ampliar sua visão e noção de mundo.
Mencionar a mídia não possui qualquer conotação negativa neste texto, aliás, ela nos traz grandes peças publicitárias, muito bem elaboradas em quesitos absolutamente importantes e relevantes para uma comunicação que deseja atingir plenamente seu objetivo. Outras, nem tanto.
Uma das grandes forças comunicacionais da mídia é o excelente estudo e uso que faz da Psicologia da Informação e da Teoria da Persuasão – lições muito bem aprendidas com nossos pais, mães, avós e demais parentes influentes em nossa infância. Explico. Quem nunca ouviu algo como “Se você não arrumar seu quarto, não vai sair hoje!”, “Você só sai da mesa depois de ter comido tudo!”. Ah, esses tão práticos e presentes exemplos de Psicologia da Comunicação e Persuasão em nossas vidas…. E quantas vezes já os reproduzimos sem sequer ponderar sobre sua eficácia.
Transferindo cada uma dessas abrangências e situações para o cotidiano corporativo, pergunto: Quantas vezes você já se perguntou se usava um idioma que seus pares ou subalternos não compreendem? Ou, simplesmente, “será que estou falando grego?”
Pensando bem, a própria expressão “falando grego” perpetua-se de forma mitológica em nossa comunicação, assim como tantas outras das quais fazemos uso, mas que, se cuidadosamente analisadas, deixaram de ter o sentido que possuíam na época de sua criação. A Mitologia comunicacional reflete padrões que procuram manter conceitos de “certo” e “errado” sem ponderar quantas coisas são tão somente diferentes e absolutamente isentas de julgamento de valor. Recentemente, por exemplo, houve uma postagem no Youtube de uma menininha que questionava a delimitação da cor rosa para meninas, sendo que ela pode ser atribuída a qualquer pessoa. Ora, tal questionamento já foi feito por milhares de pessoas, e quando estas emitem sua opinião, logo vem um juízo de valor querendo nos colocar de volta nos padrões pré-definidos. Outros exemplos são expressões como “Tinha que ser você!”, “Ah, isso é carro para mulher!”, “Ah, isso sim é coisa de homem!” e até mesmo o conceito de família, que nunca foi somente composta de pai, mãe e filho/a(s).
Considerando os elementos e aspectos acima, toda e qualquer suspeita de que comunicar-se é um processo complexo dada a sutileza de suas múltiplas facetas e limites tênues fica absolutamente comprovada – para o terror de muitos de nós.
Talvez durante a leitura deste texto você tenha considerado alguns aspectos de sua própria comunicação, talvez tenha se lembrado de situações de conflito comunicacional, talvez você venha a reler este artigo, talvez o guarde na gaveta ou, ainda, talvez você o esqueça. Mas uma coisa é certa: se você chegou até esta linha, é porque a comunicação é importante para você e talvez, somente talvez, ela o intrigue. Se assim for, será uma honra encontrá-lo no próximo artigo.
Fica a dica: muitas vezes (muito além das que gostaríamos) ocorrem distâncias abissais entre o simples ato de falar e o elaborado comunicar. Pense nisso.