Le Petit Prince, ou O Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry, é do tipo de coisa que se instalou no mundo, na cultura humana, na vida. Pode haver quem nunca o tenha lido, mas duvido que haja quem nunca ouviu falar desse livro.
É uma leitura obrigatória e isso é indiscutível!
Em suas menos de 100 páginas, destrincha com poucas palavras o amor, a decepção, a fuga, a amizade, o medo, os defeitos, o suicídio, a morte etc… Com frases belíssimas e constatações tão óbvias, porém tão únicas o narrador nos emociona, a ponto de chorar.
Essa reflexão comparativa que o narrador faz entre as pessoas grandes e as crianças mostra como ambas habitam mundos diferentes, mundos que não se tocam. E o quão difícil é manter a criança viva no coração de um adulto.
Esse livro é de fácil entendimento para uma criança, mas um adulto, com sua pragmaticidade, não o compreende bem, porque infelizmente o homem adulto tende a caminhar apenas para frente e como diz o principezinho: “quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe…”.
Para encontrar o verdadeiro caminho há que se dar voltas, fazer curvas e, às vezes, voltar uma parte do caminho percorrido, mas isso os adultos não fazem bem mesmo. Retornar nos parece um ato de incompetência, de extrema incompetência.
príncipe transmite sua visão consistente e simples da vida ao longo de diálogos com o narrador. Ele fala do planeta dele como quem fala de seu espaço pessoal, todo o mundo dele se resumia à sua casa e, especialmente, à sua rosa.
Ele fala sobre a fazer toalete diária do seu planeta, vigiando os baobás [1] para que não crescessem muito, porque se crescessem em excesso destruiriam o seu planeta. Esses baobás são as coisas que deixamos crescer em nós e nos destroem, nos destroem de dentro para fora, começam com raízes.
A lição é que devemos fazer a toalete diária de nós mesmos, limpar as coisas que crescem dentro de nós para nos destruir, ir podando-as aos poucos, porque não se deve amputá-las de uma vez, já que não sabemos que efeito positivo ou negativo elas podem ter, mas ir aparando-as, pouco a pouco.
Ele fala sobre a tristeza e como gostamos do pôr-do-sol nestas horas. É a mais pura verdade. Além de sua beleza, ele indica o fim do dia e a passagem do tempo.
O que mais para curar nossas dores que um dia após o outro? Não há nada que possa curar nossas dores, como a passagem do tempo, enquanto o mar revolto dentro de nós volta à sua velha calmaria.
Então, ele finalmente fala de sua flor. Flor que nada mais é que a representação da mulher amada.
Ela chegou assim, vindo sabe se lá de onde, era apenas uma semente, despretensiosa, mas por ser diferente, deixou-o curioso. E ele a vigiou, a cada segundo, enquanto ela brotava muito lentamente.
Enquanto falava de sua flor, o narrador encontrava-se ocupado e preocupado com algo que julgava mais sério: o conserto de sua aeronave, antes que a água potável que tinha acabasse. Era uma preocupação séria, afinal estavam no deserto, longe de tudo.
Assim é o amor, só interessa àquele que ama. O amor transforma o vulgar em único. Na história do príncipe e sua flor podemos ver a descrição mais singela e simples do que o amor nos faz.
A flor, tão arrogante e mesquinha, na partida do príncipe, nos dá uma bela lição: “É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.” E é a mais pura e exata verdade.
É preciso lidar com o feio, o asqueroso, antes de se deparar com a beleza restauradora das borboletas, com suas cores e balanços ao vento.
Em suas andanças, o príncipe encontra muitas personagens, mas de todas elas é a raposa quem mais comove. Ele deseja brincar com ela, mas ela se nega porque afirma que “não a cativaram ainda”.
Cativar pode aqui ter dois significados, baseados na etimologia e na sua função poética. Cativar pode significar perder sua liberdade, mas em sentido figurado e pode também significar seduzir.
Quando a raposa diz que ainda não a cativaram, penso em mesclar os dois significados, o que quer dizer que ainda não prenderam seus sentimentos.
A amizade é um pouco isso, ficamos aprisionados ao outro pelo que sentimos, não se pode mais viver sem o amigo. A raposa explica que cativar é criar laços, é uma forma bonita de dizer que se está preso a alguém.
A raposa ensina que para se cativar alguém é preciso ter paciência e ir aproximando-se aos pouquinhos e não de supetão; e há que ser constante, vir à mesma hora para que a expectativa seja criada, se ele vier a qualquer hora a expectativa jamais existirá.
Foi assim também que o principezinho compreendeu que as 500 rosas que viu não poderiam tirar a singularidade da sua, pois apesar de fisicamente iguais, a sua rosa era única para ele, afinal foi dela que ele cuidou. E como diz a raposa:
Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”.
Esse é o segredo da raposa: o amor implica tempo, investimento, dedicação e paciência. Não há que se falar em amor desmedido e abrupto, amor é uma escolha que se faz.
Como lição final, o principezinho fala de morte e mostra de maneira simples que a morte nada mais é que retornar para casa, que para os que ficam parece que há um enorme sofrimento, mas que para ele é apenas uma etapa para ir para casa.
Apesar de sua linguagem pura e sutil, é um texto requintado e obrigatório a todos os públicos. É a profundidade desse livro que o torna eterno e único, que o mantém como um dos topos de venda.
Diversas versões do livro: O Pequeno Príncipe
[1] O Baobá foi imortalizado pelo desenho do escritor Antoine Saint-Exupery em sua obra “Le Petit Prince”, conhecido como “O Pequeno Príncipe” (Brasil). O livro de Antoine de Saint-Exupery publicado de 1943.
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