Adultos, responsáveis por crianças e adolescentes, geralmente, demonstram preocupações quanto aos comportamentos dos jovens em relação aos aprendizados positivos na vida. Os pais mais atentos desejam que seus filhos aprendam hábitos saudáveis, desenvolvam atitudes de bom relacionamento e que adquiram conhecimentos que acrescentem valor a sua vida.
Vamos conversar, aqui, sobre conhecimento, e para isso, vou buscar na área da nutrição e culinária algumas analogias para melhor explicar os conceitos envolvidos no assunto.
Conceito é sempre uma representação mental de conhecimento que fazemos da realidade, a partir de generalização. A analogia é também uma representação mental do conhecimento que faz uma comparação unindo todos os significados com o uso de áreas de conhecimento diferentes.
A capacidade analógica parece ser inata na cognição humana. Segundo Howard Gardner*, o autor da teoria das inteligências múltiplas, pode-se observar que os bebês, nos primeiros meses de vida, já possuem a capacidade de associar, por exemplo, ritmos a estímulos visuais.
Posto esse comentário preliminar que julguei necessário, prossigo com o assunto principal. Os aprendizados positivos, desejados por todos educadores, sejam pais, professores e familiares que convivem com os mais jovens, têm sua base em conhecimento assimilado e vivenciado de algum modo pela pessoa.
O conhecimento deverá ser válido, relevante e significativo. Esses são os critérios geralmente aceitos para que ocorra um aprendizado positivo na prática da vida, desde a infância.
Desde o início de sua existência, a criança se forma como um sujeito que aprende, segundo a modalidade de aprendizagem de seus pais. Alguns estudiosos afirmam que esse processo é iniciado até antes do nascimento, ampliando o conceito de aprendizagem para a fase pré-natal. Eu concordo com essa concepção e creio que muitos de vocês também aceitam essa premissa.
Após a descoberta e divulgação desse princípio, mães e pais futuros começaram a falar e a cantar para seus filhos antes do nascimento, o que fortaleceu o relacionamento entre eles, até no gosto musical das crianças, segundo depoimentos diversos.
Uma pessoa, em qualquer idade, relaciona-se com quem ensina e com o objeto a ser aprendido – um tipo qualquer de conhecimento – de um modo bem peculiar que é chamado de modalidade de aprendizagem. Essa conversa entre os pais e os filhos ainda não nascidos pode ser considerada como a primeira modalidade de aprendizagem.
A modalidade de aprendizagem é como se fosse um recipiente que mudasse de tamanho, de forma, de profundidade, de material… para se fazer um bolo bem alto, um pão retangular, ou, um sonho fofinho, no forno. Eis uma analogia usando a área de conhecimento da Culinária:
A modalidade de aprendizagem possui o poder de ajustar-se, modificar-se ou repetir-se, sempre se relacionando e dependendo do que estiver contido no recipiente (ingredientes), do objeto de conhecimento previsto (o tipo de alimento desejado) e do vínculo com quem ensina (a cozinheira / o cozinheiro que oferece a receita). O objetivo é de que a informação (receita) se torne um conhecimento (bolo, pão ou sonho) que possa nutrir a vida de quem aprende.
Nutrir-se na vida é adquirir e vivenciar os aprendizados em todos os planos: no físico pelo alimento, exercício, Sol e respiração; no mental pela apropriação do conhecimento, de crenças e de habilidades; no psicológico pelas emoções e atitudes consigo mesmo de amor e de relacionamento com as coisas e com os outros; no espiritual pelos valores transcendentes e expansão da consciência. Essa, resumidamente, é a base do viver do ser humano, com suas competências pessoais**. É a busca de sua singularidade e da síntese de unidade com os demais seres vivos.
Nessa busca, estão as tentativas, os erros e a superação deles pelo ciclo de aprendizagem. São os momentos de renascer, abrir-se ao novo, representado, simbolicamente, pelo Ovo, que é lembrado na Páscoa em seu significado. Não desistir, não morrer em vida, é uma atitude a ser desenvolvida, seja qual for nossa religião ou nossa filosofia.
Para criarmos projetos, alimentamos sonhos que poderão ser realizados por nós, nunca de forma isolada, pois sempre precisaremos da ajuda de outros. O conhecimento é construído coletivamente, em suas diversas áreas.
Novamente, usando a Culinária e a Nutrição, podemos fazer a analogia com este outro Sonho, que nos alimenta e que deve ser nutritivo, integrar-se a outros alimentos numa mesa de café mais completa, além de saboroso.
Os critérios do conhecimento de um aprendizado positivo e o Sonho retirado do forno: a validade do conhecimento pode ser representada pelo aspecto nutritivo do alimento. Para isso, os ingredientes devem ser de qualidade com a data de uso válida, antes de expirar.
A validade do conhecimento é o uso e o reconhecimento de sua utilidade, segundo o previsto e divulgado por uma área do conhecimento humano, enquanto não ficar obsoleto e superado por outro conhecimento que o sucede.
A relevância ou a pertinência do conhecimento é a expressão de sua integração e transdisciplinaridade, assim como o alimento integrado na refeição mais completa, numa mesa, com outros alimentos diferentes e que fazem parte de um todo. No caso do Sonho fofinho, ele é parte da totalidade de uma mesa de café, junto com outros quitutes feitos com outras receitas. Assim é o conhecimento contextualizado, explicado em suas relações, a partir de diversas áreas de conhecimento.
E se o Sonho é nutritivo, faz parte de toda mesa de café, ele deve ser saboroso… Tal aspecto é avaliado pelo paladar diferenciado de cada pessoa que prová-lo. Assim é o aspecto da significação do conhecimento. Cada conhecimento pode ser expressivo para uma pessoa e não para outra, e, também pode ser aplicado numa fase de sua vida e não em outra. Pode ainda ser superado por outra informação mais atual que o substitui.
Na área da Nutrição, podemos encontrar mais uma ilustração, bem conhecida por nós, mulheres que acompanhamos as novidades do fitness e das dietas para emagrecimento.
Ontem, o ovo era um veneno quando comido mais de um, ao dia. Hoje, encontramos sites de especialistas em nutrição e em fitness que afirmam que a quantidade poderá ser superior a 5 ou 6 por dia e que isso pode fazer parte de um esquema de emagrecimento. O ovo continua sendo o mesmo, com gema e clara, e a galinha e o galo são ainda seus produtores, mas mudou a informação divulgada como objeto potencial de apropriação pelo ser humano que poderá fazer dela um conhecimento. A partir de pesquisas e de estudos, a informação anterior foi alterada e o conhecimento anterior de inúmeras pessoas foi superado.
Algumas aceitam e outras rejeitam a nova informação por continuar acreditando no conhecimento anterior vivenciado em seu cotidiano de que o ovo em excesso é prejudicial à saúde.
Quem aceita essa nova informação, sem desconfiança, e não a rejeita, se apropria dela e a transforma em conhecimento, aplicando-a em sua vida porque tem a percepção de que é um conhecimento válido, pois é atual e muitas pessoas, pelas pesquisas apresentadas e pelos depoimentos relatados, emagreceram comendo mais do que um ovo por dia, com benefícios a sua saúde. É relevante e pertinente porque a área de emagrecimento traz outras informações sobre outros alimentos e esclarece seu uso dentro da dieta. O conhecimento não é isolado. Integra-se a outros, faz parte de um todo maior. Pode ser compreendido com o uso das áreas de biologia, nutrição, fitness, emagrecimento, avicultura, história, etc…
É significativo para a pessoa ao aceitá-lo e adotá-lo em seu repertório pessoal, pois o novo conhecimento atende a sua motivação, que poderá ser a de perder peso, ou, de conseguir massa magra pela ingestão de proteínas, ou ainda participar de um concurso de fisiculturismo, entre outros objetivos.
E se o conhecimento para uma pessoa é significativo, relevante e válido, segundo suas crenças e apreciações pessoais, ela poderá repassá-lo aos outros como ensinante. E a rede de aprendizagem se efetiva e se amplia. O Ovo vai gerar novos adeptos e novos aprendizados positivos e significativos, até que surja outra informação que altere a atual. E o ciclo se repete com novas modalidades de aprendizagem. Surgem novos Sonhos, projetos e aprendizados de novos conhecimentos…
À medida que nós, seres humanos, aprendemos, adquirindo conhecimentos em qualquer fase da vida, vamos reconstituindo nossa modalidade de aprendizagem, sempre renovada pela forma que nos vinculamos ao ensinante e à maneira que o conhecimento circula no meio onde estamos.
Assim, a partir de um aprendizado antes de nascer, a criança evolui em seu ambiente familiar e repete a modalidade de aprendizagem de seus pais para os diversos tipos de conhecimento. O tempo passa, ela entra na escola onde, por meio de professores e colegas, vivencia novas modalidades de aprendizagem em que adquire conhecimento e distribui conhecimento.
Cada vez mais, nesse processo de crescimento, o jovem desenvolve sua vontade de tornar-se competente para tocar a sua vida, com tentativas, erros e descobertas na criação e reconstrução de novas modalidades de aprendizagem que vivenciará com seus filhos mais tarde.
Referências:
* GARDNER, H. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. P.A. Artmed, 1995
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