É preciso ter consciência da origem do que colocamos no prato.
A alimentação é um ato político (e não partidário) sim. Pode não parecer, mas quando escolhemos o que comemos estamos impactando positiva ou negativamente várias aspectos sociais, ambientais e emocionais.
Fazer essa escolha de maneira consciente e com responsabilidade nos empodera e liberta da prisão que nos é imposta pela indústria alimentícia e do agronegócio.
Cada vez mais a alimentação permeia nossas relações e dita nossos comportamentos perante a sociedade e por isso precisamos ter consciência sobre o modo de como a tratamos
Depois de chegar de uma palestra, um bate papo, na semana literária promovida pelo SESC e a UFPR, com a Bela Gil.
Achei muito pertinente suas colocações e abordagem sobre três pontos para a temática da alimentação mais saudável, ratificando minha opinião sobre autonomia alimentar e auto responsabilidade sobre isso.
Após a fala se abriu para algumas perguntas, e uma ouvinte solicitou a opinião sobre o uso excessivo e a aprovação da lei que libera o uso de mais agrotóxicos, além disso ressaltou que não consumia produtos orgânicos por questões financeiras (acha caro) e por não achar próximo de casa local onde comprar.
Vamos lá, acho necessário irmos contra a PL do Veneno, o Brasil é o maior mercado de agrotóxico do mundo, ultrapassando a marca de 1 milhão de toneladas ano, equivale a 5,2 kg por habitante, do ano 2000 a 2012 houve um aumento de 288% no uso de agrotóxicos e só neste ano já foram autorizados mais de 300 novos tipos, sendo dos 50 mais usados, 22 são proibidos na União Europeia.
Agora, volto a questão do início desta matéria: alimentar-se é um ato político ou não?
Onde está sua autonomia alimentar nesse processo?
Vou além, onde está sua ação perante está causa?
É só ir para rua e assinar abaixo assinado?
Quando escuto o tipo de questionamento feito pela ouvinte vem uma coisa muito clara na cabeça, vamos continuar cada vez mais sendo envenenados sim!
Não adianta lutar contra a PL do Veneno se do outro lado há consumidores que ainda acham muito caro um produto orgânico, se querem ter a comodidade de achar todo tipo de alimento, perfeitos e bonitos, o ano inteiro e ao lado de casa, obviamente precisaremos de cada vez mais agrotóxicos, monoculturas e industrias com “alimentos” ultra processados para suprir essa necessidade.
Não culpe o agricultor que recebe o pacote fechado de semente transgênica com os veneninhos de uma “mão santa” para cultivá-las para atender a sua necessidade, simples assim.
É uma retroalimentação e um ciclo que só será quebrado quando cada um começar uma mudança individual nas suas escolhas, no seu poder de ação, exercendo sua autonomia e desmistificar o pré conceito de que é caro.
Quanto vale a sua saúde? Quanto vale menos gasto com remédios e médicos? Quanto será seu ganho em produtividade e disposição para fazer suas atividades? Quanto maior será sua contribuição para a economia local?
Quanto maior será sua contribuição para diminuir o recurso público com a saúde, afinal você não precisar do SUS é economia do dinheiro público, não é?
Qual sua contribuição para a manutenção do planeta?
Qual a sua parcela em ajudar com que a terra se regenere?
Profundo, não?
O que impacta mais, assinar o abaixo assinado ou começar a mudar seu modo de consumo? Ou melhor, o que é sua autorresponsabilidade, e depende da sua escolha?
Para ajudar vou dar 4 dicas para iniciar:
- Pesquise locais, e existem vários, onde se encontrar feiras orgânicas (no supermercado o orgânico vai ser mais caro sim na maioria das vezes), grupos de compra coletiva de orgânicos direto com o produtor e hoje em dia por WhatsApp você faz pedido e recebe em casa (acha caro? O quanto você gasta de tempo e dinheiro indo até o supermercado para comprar um não orgânico?);
- Comece aos poucos, não precisa comprar tudo orgânico (seria o ideal), mas priorize os alimentos que você mais consome (diariamente ou até 3 vezes na semana) e aqueles que mais tem tendência a ter agrotóxicos (veja a listagem no site da Embrapa que frequentemente analisa e divulga a listagem desses alimentos e em outras fontes também);
- Se não for orgânico, priorize os alimentos da estação que com certeza terão menor quantidade de agrotóxicos, pesquisar quais são esses alimentos é muito fácil;
- Se puder, cultive seu próprio alimento, em qualquer espaço pode se colocar um tempero, ervas, uma folha que possa alegrar seu ambiente, dar sabor a sua comida e ainda servir como uma boa terapia.
Então, faça o que lhe compete, assine o abaixo assinado, mas faça valer seu poder de realmente agir pela causa pois só assim as coisas vão mudar da forma que queremos, caso contrário vamos continuar a colocar cada vez mais veneno no prato para atender à sua necessidade.
Boa semana!