O conflito que atinge indivíduos fragilizados pode insurgir diante ataques midiáticos explícitos
Alucinógenos do século 21 são sintetizados por mídias de valores sociais significativos, que criam cada vez mais sentimento de vazio interior e isolamento.
Dinheiro, sucesso, beleza e poder a um único click de distância.
Para o mundo virtual não basta ser “perfeito”, deve ainda obter o reconhecimento através de likes e se permitir comentários muitas vezes ofensivos, injuriosos e depreciativos.
Entregamos a direção da nossa autoestima nas mãos de indivíduos incapazes de aceitarem a si mesmos e que encontram prazer nas críticas a partir da projeção de si no outro.
Abrimos a guarda e damos permissão, para que indivíduos controversos façam parte do nosso dia a dia.
Esse desconforto é chamado de tensão e toda tensão deve ser repassada para um nível mais confortável.
Ocorre que confortável significa descarga de tensão, que muitas vezes se converte em insultos virtuais propositais.
Tal descarga psíquica é chamada de princípio do prazer que é consumido por 3 ícones psicológicos.
Id, ego e superego.
Toda a nossa existência não teria significado algum sem o compromisso com nossos princípios e valores que são guiados pelo superego.
O superego é o responsável por afirmar nossa moralidade, a moral ideal e busca reprimir de forma sempre severa as infrações morais do nosso meio.
É através do superego que o ego explora satisfazer as exigências do desconforto criado na realidade, que como viciados em alucinógenos, podem em muitas vezes, criar para si condutas virtuais ou reais mais satisfatórias impulsionadas pelo id.
Cria-se então a máscara social da felicidade inconteste nas mídias sociais, que se apoia no ego para articular planos de satisfação de tensões psíquicas eficientes para controlar funções tais sejam intelectuais ou cognitivas.
Tal qual na utilização de alucinógenos, a tensão psíquica é direcionada às estruturas conscientes ou não de desaprovação do ego.
Estrutura esta que muitas vezes se apropria da relevante abrangência social e consequentemente psicológica, para aderir aos alucinógenos do século 21 através das mídias sociais.
Obtemos então o ponto de equilíbrio entre a libido ou impulso e os valores éticos e morais.
Imagine por exemplo um indivíduo que possua uma enorme dificuldade financeira e que em um determinado momento se vê tentado através de mídias sociais específicas a vender fotos íntimas para que possa suprir sua necessidade atual
O que ocorre a partir desse momento é um aumento de tensão do id que ocasiona um relevante conflito interno entre o desejo de aceitar e o conceito ético e moral da recusa.
Essa mesma tensão pode ainda acessar princípios do ego que lançarão barreiras éticas intencionais para a propagação da moral ideal, de acordo com princípios éticos pessoais.
A partir desse momento, o ego passa a articular um plano para a satisfação da tensão, (em tela, a dificuldade financeira momentânea) por ações que sejam eticamente saudáveis.
Nota -se igual processo e consequente necessidade de liberação, em viciados por alucinógenos.
A mesma tensão surge por exemplo ao nos depararmos com estilos de vida interessantíssimos em nossas mídias sociais.
Viagens internacionais, mansões luxuosas, carros importados, corpos impecavelmente esculturais, relacionamentos sempre saudáveis.
O estilo de vida aparentemente interessante demais para se pensar em algo que não seja no mínimo satisfatório.
O que muitas vezes não conseguimos supor a partir de todas aquelas imagens belíssimas, é que vida virtual difere totalmente da real.
Assim como no alucinógeno, nos tornamos dependentes ou reféns de verdades forjadas e a capacidade de observar a realidade se torna cada vez mais escassa.
O relacionamento aparentemente saudável por exemplo, pode esconder nuances de violência que claro, jamais serão expostos.
A realidade que se busca ocultar a todo custo, surge como ferramenta de tortura psíquica.
Sorrisos que dissimulam tristezas, relacionamentos incríveis encobrindo em alguns casos torturas ímpares.
Se o contorno da realidade tivesse seu valor, teríamos um número muito abaixo das estatísticas lançadas frequentemente de suicidas em árduos períodos depressivos impulsionados pela mídia impositiva.
A mesma mídia que escolhe constantemente a cor do seu cabelo, a roupa que você deve usar, o corpo que você precisa ter para ser considerado belo, perfeito e consequentemente admirado.
A partir da obtenção da aprovação e admiração acessamos nosso sistema límbico, área do cérebro responsável por centros de recompensa, prazer e liberação de dopamina, o chamado hormônio do prazer.
Logo, a necessidade de se encaixar, de fazer parte de grupos sociais considerados “perfeitos” e o desejo cada vez mais intenso do prazer experimentado pós autoafirmação, pode gerar no indivíduo aquilo que entendemos por frustração.
Nasce a competitividade cega, desmedida, doentia, capaz de denegrir, manipular e em algumas vezes responsável por crimes brutais.
Alia-se ainda a facilidade dos relacionamentos sem compromisso, dos encontros casuais, a partir de impulsos desenvolvidos já esclarecidos anteriormente.
Criamos simbiose com o outro, quando deveríamos criar empatia.
Saturamos a nossa individualidade com ilusões fortalecidas pelo ego ferido, corrompido pelo desgosto em relação a nós mesmos e formamos redes autodestrutivas.
Nessa ordem de ideias, faz saber que os impulsos da personalidade determinam o temperamento agressivo, emotivo, agitado ou apático.
Assim, a compreensão de nossos mecanismos psicológicos, nos apresenta opções diversas não delimitando padrões únicos de comportamento ou pensamentos reflexivos.
Eis a importância de reconhecer nossos próprios defeitos, pois quanto mais nos conhecemos, menor a probabilidade de rotular defeitos alheios.
Isto porque a maioria de nós, vive em extremos, entre o ser santo e o serial killer.
Todos temos participação ainda que sem perceber, daquilo que chamamos de maldades do dia a dia.
Estamos sempre sugerindo que nossos objetivos, necessidades e estilos de vida, são mais importantes que a vida do outro.
Em nossos impulsos nos deparamos com indivíduos que possuem objetivos semelhantes, que lutam da mesma forma e muitas vezes de maneira intencional ou não, podemos prejudicá-los.
Possuir lados obscuros faz parte da condição humana, mas se manter neles, é priorizar desvios impossíveis de serem delimitados e até em alguns casos reparados.
Nota-se, portanto a necessidade de acautelar nossas ações para não adentrarmos naquilo que chamo de “simbiose estrutural”, aquela que delimita ou determina ações a partir de conceitos, normas e estruturas ideológicas de um povo, grupo ou tribo, que tem como traço original a repreensão do pensamento próprio, com o intuito de desestabilizar, abalar e sugerir incapacidade cognitiva ou moral.
Indivíduos acautelados em ausência de estímulos de afeição ao próximo, possuem necessidade maior de liberação da tensão e sua satisfação independe do meio ou do modo.
Psicopatas por exemplo possuem grande capacidade de reconhecer a incapacidade alheia, ao passo que grande também é sua incapacidade de detectar imperfeições neles mesmos.
Eis o motivo de desvalorizações atrozes através da inveja que sentem do outro e que criam pontos cegos de interações saudáveis com o mundo real ou virtual.
Sobretudo conclui-se que:
A dependência da satisfação experimentada a partir de liberação da tensão psicológica, pode conter intenções por vezes mais impiedosas e cruéis que supomos imaginar.
Satisfação esta que tal qual uma substância alucinógena, contamina, seduz e vicia indivíduos fragilizados na incessante busca de si mesmos.
Acautelar impulsos na medida em que se objetiva ações e desejos comportamentais alheios se faz tão necessário quanto aprimorar seus próprios conhecimentos, evitando por vezes fins desastrosos.