Amor demais

Amor demais não presta e muitas vezes sufoca

Quando amar pode anular o outro

Amor demais não presta. Aliás, nada demais faz bem. Vera, na ânsia de nutrir sua planta e vê-la florescer, aguou demais e a planta morreu.

Denise, desejosa de agradar seus convidados, acrescentou mais uma colher de açúcar na receita e o bolo desandou. Ana, na expectativa do “foram felizes para sempre”, amou demais, seu marido saiu comprar cigarros e nunca mais voltou.

Estes são alguns exemplos de que amar demais não faz bem. Amor além do necessário, sufoca, não deixa crescer, aprisiona e também mata. Assim como tudo na vida, também o amor, precisa ter limite. Aliás, também o limite deve ser visto como um ato de amor.

Muitos pais e muitas mães acreditam que amar incondicionalmente seus filhos inclui não dar limites, deixar fazer tudo o que querem, dar todos os brinquedos e coisas que as crianças pedem. Grande equívoco comete quem age assim.

Assim como o bolo desanda com açúcar demais, a criança cresce desgovernada com amor demais. Uma criança não amadurece sem limites claros e precisos. O ‘não’ dito na hora certa favorece o crescimento emocional, visto que a vida é composta, não apenas de vitórias, mas de pequenas (e também grandes) frustrações.

Certa vez vi uma charge que resume isso de forma espetacular: num quarto com armários repletos de brinquedos, livros, eletrônicos a mãe pergunta ao filho o que ele quer que ela lhe dê e a criança responde: um não!

que mas queres

Ou seja, o amor perpassa pelo carinho, pela atenção, pelo não, pela ajuda, pela chamada de atenção, pela correção do erro, pelo ensino de se assumir o que se faz. O amor que desencoraja estas ações, que deixa que o outro tudo faça, é o amor que ao invés de fazer crescer, empobrece o ser humano.

Amor demais sem colocação de limites geram pessoas dependentes, que encontram dificuldade em muitos campos da vida posto que não aprenderam a lidar com a falta, com a perda, com o não. Há ainda o risco de tornarem-se tiranos, achando que todo o mundo está a seu dispor e que todos estão à mercê de satisfazer suas necessidades.

No entanto, é preciso estar atento, porque nem todos precisam da mesma medida de amor. Uns tem maior carência de afeto, outros precisam de mais cuidados, outros preferem espaço. Ter esta noção e dar ao outro o amor na justa medida é um feito, que o olhar curioso de quem ama é capaz de captar.

Como amar também é cuidar, quem ama demais corre o risco de cercear o outro, exagerando nos cuidados. Leva a blusa. Não saia com o cabelo molhado. A que horas você volta? Avise quando chegar. Com quem você vai? Não dirija depressa. Não aceite nada de estranhos…

Marina ama animais. Certo dia, viu um casulo e a borboleta estava tentando quebrá-lo para se libertar dele. Como todo seu amor resolveu prestar seus cuidados e ajudar a frágil borboleta a se livrar de seu cárcere. Ao fazer isso, lhe tirou a possibilidade de adquirir força nas asas, para poder voar.

Assim como as borboletas, as crianças necessitam passar por experiências ruins, porque elas fazem parte da vida. Não há como fazê-las fortes se fizermos por ela o processo de amadurecimento. Adultos podem (e devem) auxiliar, amparar, ser apoio, porém não podem assumir para si a feitura do processo de amadurecer.

É evidente que todo adulto gostaria de poupar todas as crianças do seu entorno de passarem por momentos difíceis, de enfrentarem dificuldades – sejam pessoais ou familiares, na escola ou no grupo social que pertencem… Não podemos esquecer que amar não significa impedir que o outro se machuque, mas que estaremos ao lado quando isso acontecer.

Entretanto, não é só o amor entre pais e filhos que desanda. O amor demais entre casais também traz problemas, provoca brigas, incita ciúmes, impede o outro de ser em si. Ao invés de gerar frutos, apodrece as folhas, os galhos, o tronco e as raízes. E como a planta da Vera, sufoca a relação e o outro. Mas aí será outro artigo…

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