A Lapa, como outras cidades do interior da província do Paraná, iniciou em 1873 um movimento cultural-associativo, culminando com a construção de um teatro e a organização de uma biblioteca
Associação Literária Lapeana: Fundada a 29 de julho de 1873 e instalada a 7 de setembro do mesmo ano, que na época tinha por finalidade o estudo da literatura teórica e prática.
A Associação Literária Lapeana foi uma das primeiras entidades culturais criadas no Brasil, fundada e instalada anterior inclusive à Academia Brasileira de Letras.
Ainda em 1873, mais precisamente no dia 4 de dezembro – Emydio Westphalen, Pedro Fortunato de Souza Magalhães Junior e o alferes Joao Domingues Garcia, na qualidade de “membros da comunicação das obras da Sociedade Literária Lapeana”, compraram um terreno do tenente coronel Antonio Manoel da Cunha e de sua mulher, dona Joaquina da Cunha Braga, por 500 mil réis. O terreno – que media noventa e três palmos de fundos – foi comprado para “nele ser construído o theatro”.
Os fundadores da ALL foram os responsáveis pela criação do Theatro São João, datado de 1876.
A tarefa mais difícil da Associação Literária Lapeana foi a construção do Theatro São João. Após adquirido o terreno em 1873, a construção teria sido iniciada no ano seguinte.
Um ano após sua criação, instalou-se a biblioteca da ALL. Alguns livros dessa Biblioteca encontram-se preservados na Casa da Memória e no Theatro São João da cidade da Lapa-Paraná, livros escritos em português, francês ou alemão.
Em 1880 teve a famosa visita do imperador D. Pedro ao Theatro São João II, guiada por Francisco Therezio Porto.
No Jornal do Comércio saiu à época uma nota: “O Imperador chegou à Lapa acompanhado apenas pelo conselheiro Buarque, presidente da Província, e pelos drs. Alves de Araujo, Pizarro e o Comendador Francisco Antonio Gonçalves. O Visconde de Tamandaré, conselheiro Andrade Pinto e os três representantes da Corte tiveram a infelicidade de perder-se nos campos logo ao escurecer. O Imperador descreve a ponte e o rio Iguaçu onde passou às 11,20, a Colônia Johannesdorf, o encontro com 1000 cavaleiros que foram recepcioná-lo”.
Relato do Diário do Imperador: “Seis e meia Casa da Câmara – boa e os padrões bem conservados devido ao secretário Pedro Fortunato de Souza Magalhães, português de nascimento que veio para o Brasil em 1836. A cadeia no andar térreo é boa; livros de assentos e de óbitos. Aulas acanhadas.
Na das meninas uma destas respondeu bem. O mesmo não sucedeu na de meninos – há duas – que visitei regida pelo filho do secretário da Câmara, aliás bom professor. Agência do Correio em casa do secretário da Câmara que é o agente e tudo tem em boa ordem. Perto da cidade há uma montanha de camadas xistosas onde existe uma lapa. Capanema esteve aí. Oito horas. Oração na matriz que é pequena. O vigário pareceu-me um pouco apatetado”.
Também no Diário: “Na Lapa também se começou teatro de que felizmente aproveitaram para pequena livraria pública que dá livros a quem os pede para ler. Lembrei que utilizassem o teatro para casa de aulas. A cidade tem ruas calçadas – algumas sofrivelmente – e durante certo tempo floresceu”.
David Carneiro em seus apontamentos biográficos do Cel. Joaquim Rezende de Correia de Lacerda, inserido nos Anais do Primeiro Congresso de História da Revolução Federalista atribui ao Teatro São João melhores requisitos técnicos que os do Teatro São Teodoro, como “poço acústico sob arcada, eixo visual dos camarotes ao centro do palco” e acrescenta à informação que o Imperador, em 1880, teria admirado o Teatro.
D.Lino, bispo de São Paulo, visitou a cidade da Lapa a 21 de fevereiro de 1882. Recepcionado pela Associação Literária Lapeana, assistiu a uma sessão “na casa de suas reuniões” e visitou a “sua importante biblioteca”.
Quando Taunay foi à Lapa instalar a Sociedade de Imigração também foi recepcionado pela Literária Lapeana, por seu presidente Francisco Therezio Porto, que lhe ofereceu um almoço na casa de sua mãe. Taunay pronunciou conferência na Câmara Municipal. Nova visita presidencial aconteceu no dia 13 de maio de 1887.
Faria Sobrinho, recebido festivamente com banda de música e foguetes e a Literária Lapeana, reunida em sessão, conferiu ao Presidente Provincial o diploma de sócio honorário. O título, colocado “num quadro ricamente emoldurado, foi-lhe oferecido por uma menina”. À noite houve baile em casa de D. Josefa, mãe de Therezio Porto.
Ubaldino do Amaral, natural da Lapa, visitou sua cidade quando era senador, no mês de outubro de 1890. Acompanhado de José Pereira e Vicente Machado, foi recepcionado pela Associação Literária que, “com música à frente vieram cumprimentar os hóspedes da Lapa”. Nesta ocasião, jantaram em casa de Joaquim Lacerda.
Espetáculos Apresentados no Teatro São João
Bastante difícil determinar os gêneros de espetáculos apresentados na Lapa. Mas, com segurança, podemos afirmar que o Teatro São João recebeu três companhias: Jules Bosco, em 1884; Souza Bastos, em 1887 e Companhia Dramática Fluminense, em 1888.
Os anos de maior glória, tanto para a Associação Literária quanto para o Teatro São João, foram os de 1886 (quando a Literária estava sob a presidência de Francisco Therezio Porto Neto) e de 1887 (gestão de Emydio Westphalen).
Sob a presidência de Francisco Therezio Porto, a Associação Literária levou à Lapa a Companhia Souza Bastos, com a famosa Pepa Ruiz. Foi o espetáculo mais empolgante que a cidade assistiu, persistindo na lembrança dos lapeanos, ainda hoje, pelos comentários de seus pais e avós a respeito da apresentação daquela companhia de Operetas. Pepa Ruiz, com sua juventude e graça espanhola, empolgou os lapeanos. Francisco Therezio Porto inspirou-se em versos para recebê-la. Escritos no dia 23 de janeiro de 1997 e dedicados “À eximia Pepa Ruiz”.
“É hoje que resplandece
Diante de nossa vista;
Aquela brilhante artista.
Hoje que este chão
Recebe da Grande Atriz
Da exímia Pepa Ruiz
Batismo e Confirmação. “
Seriam apenas arroubos poéticos ou significaria que Pepa Ruiz estaria inaugurando o Teatro confirmando oficialmente suas atividades? (Fonte: Livros autoria Maria Thereza Brito de Lacerda)
A atuação da ALL foi interrompida em consequência da Revolução Federalista (1894).
E, por iniciativa da diretoria do Instituto Histórico e Cultural da Lapa, em 2003, foi formada uma comissão responsável pela reativação e resgate da Associação. Na época essa comissão era composta por 11 pessoas.
Reinstalada em 21 de novembro de 2003 como instituição de caráter sociocultural, de caráter civil, no âmbito do direito privado, sob a tutela da lei federal 10406/02 e alterações imanentes do artigo 44 inciso IV, dispostas na lei federal 10825/03, de cunho social e cultural sem fins lucrativos e de duração limitada. Sendo reativada oficialmente em 7 de setembro de 2004.
A ALL hoje tem por finalidade: a promoção da cultura; a pesquisa; o incentivo a literatura local e geral; a preservação da memória histórica, literária, artística, folclórica e gastronômica; incentivo a preservação ambiental; criação, execução e apoio a projetos sociais.
Desde sua reativação a ALL participa e promove concursos literários; lançamentos de livros; exposições fotográficas, de artes e de literatura; apresentações culturais, litero musicais e saraus (inclusive com centenários de escritores, poetas e músicos de renome nacional), entre outras atividades visando principalmente a preservação e valorização da história e da cultura lapeana e paranaense.
Também, através da ALL, em 2011 criou-se o certificado “Ordem ao Mérito Histórico e Cultural”, outorgado na ocasião a Sra. Sophia Mariano maestrina (filha do saudoso maestro e professor de música Joao Francisco Mariano) pela relevante contribuição na área cultural da cidade.
Com o objetivo de dar continuidade à produção Literária em 2014 foi lançado o projeto e publicado o Livro: “Lapa em Prosa e Verso”.
Em 2015 a Entidade realizou um “Sarau Afrolapeano” onde foram homenageadas diversas entidades e personalidades de afrodescendentes da Lapa.
A Associação Literária Lapeana foi homenageada em reconhecimento ao seu relevante histórico de contribuição para a cultura lapeana em meados de 2015 pela Prefeitura Municipal da Lapa.
E também em 2015 a Associação lançou um novo livro intitulado: “Histórias que vi, vivi e ouvi”.
Em 2016 foi lançando mais um projeto de livro intitulado “Saberes e Sabores – Costumes e Histórias da Lapa.
E em 2017 foi publicado o livro: Fatos e Causos Pitorescos.
E em 2019 foi lançada mais uma coletânea sob a organização da ALL intitulada “Histórias que Vi, Vivi e Ouvi II”.
E ainda em 2019 a ALL, através de uma comissão especial, coordenou o projeto do Livro “Monsenhor Henrique Osvaldo Falarz – O sacerdote que viveu para Deus e com os lapeanos”. A organização deste livro foi através da Paróquia de Santo Antônio da Lapa e contou com apoio da Prefeitura Municipal da Lapa.
Em 2020 foi publicada mais uma coletânea, sob organização e idealização da Associação Literária Lapeana, intitulada “Saberes e Sabores – Costumes e Histórias da Lapa II”.
Em 2021 ingressaram novos membros na Associação Literária Lapeana em um evento especial com homenagens a centenários de personalidades de renome nacional dos anos 2020 e 2021 e também lançamento do livro “Saberes e Sabores – Costumes e Histórias da Lapa II”.
Em 2022 houve um evento especial em homenagem ao Tropeirismo e outro evento em homenagem a centenários de personalidades de renome nacional, bem como, homenagens aos músicos Gal Costa e Erasmo Carlos falecidos nesse ano.
Em 2023 em comemoração aos 150 anos da ALL promoveu-se o evento “Fazendo Arte com Arte” com Jogral em homenagem aos centenários de personalidades de renome nacional e também homenagem aos 15 anos do Grupo Teatral Mistura Lapeana.
Em 2024 alguns eventos realizados (150 anos ALL):
- Fevereiro – apoio ao evento especial em comemoração aos 15 anos do Mistura Lapeana;
- Maio – “Noite Cultural” – com participação de alguns membros da ALL (com declamações de poesias e apresentações musicais);
- Junho – “Evento especial alusivo aos 150 anos” (com lançamento de selo institucional, ingresso de novos membros e apresentações musicais);
- Julho – evento “Fazendo Arte com Arte II” (com participação de alunos das escolas municipais e alguns membros da ALL – abordando história da Lapa, lendas e os 150 anos da ALL);
- Outubro – reinauguração do acervo histórico da ALL na Casa da Memória; dezembro – evento ‘História e Memórias” com homenagens e lançamento da coletânea “Fatos e Causos Pitorescos II”.
Todas as coletâneas organizadas pela ALL contam com a participação de associados da Entidade e com a comunidade em geral e tem em média de 30 a 50 participantes por obra.
Em 2025 a Associação Literária Lapeana segue atuante com parcerias com Coletivos e Entidades Culturais diversas. Participando de vários Eventos, tais como: “Vozes em Ação”, “Ciranda Cultural” e ainda participará em outubro da FLAPE – Feira Literária Lapeana.
E ainda em 2025 está previsto mais um evento da ALL em homenagem a centenários de renomes nacionais, estaduais e/ou regionais.
Entre em contato para mais informações pelo Instagram: @valeriaborgesdas
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