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Celular X Infância: necessidade, entretenimento ou o famoso ‘cala a boca’?

É inegável que atualmente a tecnologia e o uso do ambiente virtual da internet estão cada dia mais acessível. No ranking mundial, segunda a Revista Exame, ao final de 2014, o Brasil já ocupava a sexta posição no número de smartphones, sendo que já passou de 72 milhões o número de brasileiros que acessa a internet pelo celular. Com isso, não são apenas adultos e adolescentes que possuem celulares, baixam aplicativos e acessam mídias sociais. Neste número há uma grande quantidade de pequenos consumidores de horas de navegação, com visualização de canais no Youtube, jogos e acesso a mídias algumas, a priori, reservadas a maiores de 13 anos.

Neste número, claro, não podemos esquecer outro aparelho que ganhou lugar entre as crianças: os tablets. Com tamanhos maiores, proporcionam melhor visualização sem a necessidade de uso de operadoras de telefonia móvel. Ao contrário, muitos pais dão aos filhos celulares justamente para poderem se comunicar com os filhos em situações diversas. Assim, encontramos, segundo a Agência Brasil, que 82% dos jovens acessam a internet através de dispositivos móveis contra um uso de apenas 56% em dispositivos fixos.

Em meio a todas as possibilidades, e também perigos, que estar conectado oferece, encontramos alguns pontos importantes a serem refletidos:

  1. Quando não monitorada, a criança pode ser alvo fácil para pedófilos e assaltantes, já que em sua ingenuidade, nem sempre conseguem dimensionar o perigo que pode ser responder a perguntas como nome dos pais, onde trabalham, horários de saídas e chegadas, entre outros.
  2. O uso de redes sociais sem limitação de tempo de uso afasta a criança de atividades lúdicas próprias de sua idade, interfere na execução de tarefas escolares e responsabilidades em casa, assim como do mundo da leitura que trabalha não só o ler em si, como também a imaginação, desperta a criatividade e forma bons escritores (incluindo as redações escolares).
  3. Os jogos online são além da distração e do entretenimento, também uma fonte de desenvolvimento de algumas habilidades, cada uma de acordo com o jogo escolhido. O tão criticado Pokémon Go geralmente faz com que a criança passe mais tempo ao ar livre, movimente-se saindo da passividade e do sedentarismo comum aos demais jogos, inclusive de vídeo game; mas traz, caso sem supervisão, perigo já que muitas vezes a criança pode atravessar uma rua sem atenção ou entrar em locais que venham a representar perigo para ela.

Infelizmente o uso de celulares por crianças está assumindo hoje a mesma função que a televisão ocupou até aqui: a de hipnotizar por grandes períodos a criança para que não incomode, para que não faça perguntas, para que não faça bagunça – o famoso ‘cala a boca’. E este é o aspecto mais negativo dentre todos os levantados aqui. Alguns pais compram e oferecem o celular para entreter seus filhos e assim delegam a este aparelho a sua função de ser a companhia para a criança, buscando ganhar mais espaço para si, suas atividades e seu descanso. Neste espaço, perdem ambos, a interação pai/mãe-filho fica prejudicada em quantidade e em qualidade e cada vez mais ambos tornam-se desconhecidos já que os momentos de troca, de conversa, de carinho ou brincadeiras passam a ser substituídos pelo tempo com o novo amigo – celular. E há uma diferença aqui: há a criança que quer estar fazendo uso do celular da criança que acaba tendo que utilizá-lo como forma de passar seu tempo, ouvindo dos pais ordens como “joga aí no seu celular e não incomoda”. Criar um filho dá sim trabalho, precisa de dedicação – de tempo e de sentimentos, e delegar isso a uma pequena caixinha mágica é uma transgressão ao papel de pais.

Celular não é babá, não substitui pai e mãe, é diversão e tem que ter regras de uso e limite de acesso. Não adianta equipar uma criança com tecnologia e um mundo de possibilidades – conhecimento, entretenimento, cultura – se não se for capaz de dar a ela formação humana, atenção às suas necessidade e dignidade.

Toda criança precisa de diversão, mas toda criança precisa também de conselhos, de apoio, de atenção, de carinho, de contato pele-a-pele. Televisão, celular ou qualquer aparelho que se invente, jamais vai superar um abraço apertado de pai ou um colo acolhedor de mãe. Não há programa de aplicativo que traga mais ensinamento para a vida do que a conversa ao redor da mesa nem que proporcione maior acolhimento do que um cafuné antes de dormir.

Namastê.

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Adriana Cardoso

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