Entre criança e adulto: que lugar eu ocupo?

A adolescência é, sem dúvida, um difícil período de amadurecimento, mudanças e transição. Alguns adolescentes passarão por esta fase sem muitos problemas, outros enfrentarão inúmeras crises e conflitos, não somente internos, mas também com as pessoas que o cercam.

Muitos de nós já ouvimos que, aos 14 anos somos ainda crianças para irmos sozinhos a uma festa ou voltar para casa após às dez da noite, mas somos adultos o suficiente para irmos sozinhos para a escola ou para ajudarmos com as rotinas da casa.

“Adolescer” é pôr em cheque as certezas que a criança tinha. É uma fase de desconstrução e reformulação de valores da infância, assim como de assimilação de novos valores. Não se pode torcer para o mesmo time de futebol do pai ou gostar dos mesmos ritmos musicais que a mãe simplesmente por causa dos genitores. Isso é ser apenas uma réplica. É preciso, num primeiro momento, contestar se aquele time é realmente o que EU gosto, se me identifico com ele ou se é pelo qual eu vibro. De repente, o maior adversário parece ser bem mais interessante. O ritmo musical que a mãe ouve passa, da noite para o dia, a ser brega, cafona, ultrapassado, chato ou desinteressante. Isso tudo para, daqui a pouco, o adolescente sair torcendo exatamente por aquele time ou ouvindo aquele tipo de música, mas agora porque experimentou por si mesmo, ouviu outros estilos ou torceu por outros times e descobriu que, coincidentemente, seu gosto confere com o dos pais.

Isso não significa que o que os pais pensam, sentem, falam, indicam, ensinam não valha nada para o adolescente. Ao contrário, tem um peso extremamente relevante, e é justo por isso que ele precisa contestar tudo e redescobrir esse tudo por si mesmo. É construir a sua identidade frente às figuras de autoridade que possui.

Neste percurso, no entanto, o adolescente necessita de aceitação e esse processo se dá em meio a seus pares. Há uma necessidade de pertencimento a determinado grupo: os nerds, as patricinhas, os skatistas, surfistas, turma do fundão, punks e por aí vai. Essas relações são importantes e também necessárias no desenvolvimento de habilidades sociais e na idealização de seus projetos de vida. A não inclusão em um grupo, ou sua não aceitação, muitas vezes, pode levar o adolescente a maior “ensimesmamento”, retração social, isolamento, depressão e, em alguns casos mais extremos, tentativas de suicídio.

O pensamento mágico inerente ao período da adolescência corresponde à ideia de que nada de ruim vai acontecer comigo, independente dos comportamentos adotados. É desta maneira que adolescentes se lançam com facilidade à prática de atividades de risco, incluindo desafiar a lei, em pequenos delitos ou dirigir sem habilitação; desafiar a morte dirigindo em alta velocidade ou furando semáforos; na prática de sexo sem uso de preservativo que pode ter como consequência uma gravidez indesejada ou a aquisição de uma doença sexualmente transmissível. O melhor caminho para pais e responsáveis é tornarem-se espelho para estes adolescentes, através de suas condutas e exemplos.
Nesta fase da vida as respostas SIM ou NÃO dadas com êxito para as crianças precisam vir acompanhadas de explicações afetuosas, para que o adolescente não se sinta invadido em seu processo de crescimento e independência, assim como não se sinta sozinho nesta complicada fase em que se dorme criança e acorda-se num corpo de adulto. A presença e a supervisão do adulto de referência – pai, mãe ou outro responsável, ao contrário do que se pode pensar, é bem-vinda e muito necessária, para impor os limites necessários, ser um freio para toda a vitalidade contida neste momento e o amparo nos momentos de frustração e decepção pelos quais o adolescente irá passar.

 

“Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia,

eu não encho mais a casa de alegria.

Os anos se passaram enquanto eu dormia.

E quem eu queria bem, me esquecia.

Eu não tenho mais a cara que eu tinha,

no espelho, essa cara não é minha.

Mas é que quando eu me toquei achei tão estranho:

A minha barba tava desse tamanho.

… Eu não vou me adaptar, não vou me adaptar”

(Titãs – Não vou me adaptar)

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