Da despersonalização profissional do servidor público: teoria do risco da estagnação profissional.

Bons salários, estabilidade na carreira, salário sempre garantido no fim do mês, benefícios, ritmo de trabalho tranquilo: o sonho de grande parte dos brasileiros reunidos no funcionalismo público. Ser servidor público se torna muito atrativo pelas comodidades que oferece em contrapartida ao pequeno risco. Mas por que tantos servidores públicos entram em depressão, desenvolvem comportamentos obsessivos e doenças psiquiátricas? Se você é feliz como servidor público, este texto não é para você. Mas se você está infeliz na carreira pública e em busca de mudança, continue sua leitura.

Em breve análise interna da situação, os grandes problemas do funcionalismo público são:

  1. Carreira não competitiva – Basicamente, carreiras públicas não são competitivas, são políticas. Nos órgãos ou empresas públicas em que há cargos de chefia e afins, uma pessoa não os alcança por mérito, mas pela afinidade. Como assim? Simples, você nem sempre precisa saber muita coisa ou ter habilidades e competências específicas, mas você sempre precisa ser bem relacionado. Sua chance de ascensão está aí. Esse modelo de gestão ao longo do tempo gera insatisfação, pois aqueles que não têm a habilidade do “puxa saquismo” começam a questionar o sistema e desacreditar do local de trabalho. E a carreira desses, simplesmente estagna, mesmo que tenham grandes habilidades e possam contribuir efetivamente para a missão do órgão ou da empresa em que trabalha.
  1. Ambiente não criativo – Carreira pública não é criativa. Se você não for professor ou político, esqueça criatividade no seu dia a dia. Os órgãos e empresas públicas possuem padrão nas atividades que desempenham; não fazem captação de clientes, por isso não precisam desenvolver estratégias de marketing; prestam serviços de baixa qualidade e sem necessidade de ser criativos. Inovar não é uma necessidade para manter o órgão em funcionamento, desta forma, o trabalho se torna extremamente maçante.
  1. Despersonalização do empregado – Comparo o serviço público com trabalhar em uma linha de montagem: se você não tem cargo de chefia, você é só mais um número, você não tem expressividade e é difícil se destacar, pois o trabalho costuma ser o mesmo para todos da área. Então, é muito desmotivador para qualquer empregado ser apenas mais um, não ser visto de modo individualizado, é extremamente desanimador. E se tiver cargo de chefia, dependendo de em que área for, continua sendo um número também.
  1. Emburrecimento – É triste falar isso, mas o serviço público emburrece muita gente. A partir do momento que a pessoa entra no emprego público, ela sai do mercado de trabalho, deixa de se profissionalizar, de tentar se destacar, de estudar, de alcançar algo maior, porque julga que alcançou o que realmente almejava e fica por anos exercendo uma atividade pouco desafiadora. Essa noção de estabilidade acaba colocando as pessoas numa posição de comodismo, o que as conduz à inércia intelectual e profissional.
  1. Concursos específicos para carreiras específicas – Muitas pessoas entram no serviço público como profissionais de ensino médio, o chamado técnico administrativo. O problema é que muitas dessas pessoas cursam uma graduação, a qual só poderão exercer se aprovadas em novo concurso em cargo da carreira específica. Muitas dessas pessoas desistem porque quando concluem a graduação, são aprovadas e nomeadas no tal concurso, já se passaram mais de 5 anos e o salário inicial do novo cargo é menor que o salário do seu atual cargo. Eis um problema: diploma engavetado.

Seguir carreira pública exige perfil, em que, a maioria das pessoas não tem, o que conduz à insatisfação e consequentemente à depressão. Essas pessoas estão aprisionadas, não conseguem largar o serviço público e buscar novidade profissional, pois a estabilidade os aprisiona. Totalmente diferente do profissional do mercado privado, que quando está insatisfeito com seu emprego começa a buscar novas oportunidades. Apesar de todas as facilidades e benefícios do serviço público, se o seu perfil é dinâmico, você vai viver a síndrome do “eu não sirvo pra isto”. E quanto mais tempo ficar no emprego público menos interessante para o mercado profissional você se torna, afinal você desaprende o que o mercado precisa: o mercado precisa de clientes, propaganda, marketing, sangue e suor, coisas que o emprego público nem lembra que existe. Infelizmente o serviço público condiciona e estagna o empregado, de modo que ele perde sua criatividade e identidade profissional, ele não é especialista em nada.

E assim ocorre a despersonalização do profissional, afinal após 15 anos de serviço público, como técnico administrativo, se você precisasse gerir sua carreira, buscar emprego, que título daria à vaga de emprego que você busca? Técnico administrativo? Analista administrativo? Que cargos são esses na empresa privada? Em uma pesquisa rápida por vagas de emprego na internet, é fácil ver que hoje o mercado busca técnico em compras, analista financeiro, gerente de logística, demonstrador, gerente comercial, advogado sênior, advogado júnior, chefe de equipes, chefe de compras, gerente de relacionamento etc… Quem você é dentre esses?

Quem você profissionalmente é?

 

Rândyna da Cunha
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