Quem nunca foi vítima de um gaslighter que atire a primeira pedra
Desvendando a mente Gaslight: O Gaslight é uma sutil técnica de abuso que te faz duvidar da sua própria capacidade de percepção da realidade.
Os identificamos por exemplo, naquele namorado extremamente “cuidadoso e envolvente”, que apenas tenta te proteger das maldades do mundo.
Naquele colega que sempre dá um jeito de ganhar os louros da vitória pelo trabalho que na verdade foi você quem fez.
Ou ainda naquele assediador que nunca tem responsabilidade pelos atos praticados e por isso age diante a comodidade de responsabilizar a vítima.
Controladores perspicazes, brincam o tempo todo desafiando a compreensão da realidade da vítima transformando-as em meras espectadoras da realidade manipulada e criada por eles.
Embora o termo Gaslight tenha se popularizado com a campanha presidencial Americana em 2016 e toda movimentação de fake news num clássico exemplo de gaslighting somente consolidou a partir da divulgação de casos de violência, ainda que não existam pesquisas conclusivas sobre o tema e nem descrição desse comportamento no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) da associação Americana de Psiquiatria.
O termo gaslight em inglês significa distorcer e demonstra perfeitamente o modus operandi desse manipulador que distorce a sua percepção de realidade.
Usam as palavras da vítima contra ela mesma forjando uma realidade inexistente que reforça seu suposto excesso de poder.
As tramas milimetricamente arquitetadas, fazem com que familiares e amigos se voltem contra você, tudo isso para presenciar o seu sofrimento e constatar a capacidade dele de usar as pessoas como peças de xadrez, consolidando cada vez mais o poder que exercem sobre o outro, fazendo com que você se torne cada vez mais dependente dele.
A manipulação para os Gaslighters é um estilo de vida, mas cabe a observação que a manipulação por si só não pode ser interpretada como algo extremamente doloroso, ou que traga muitos desapontamentos e decepções, haja vista a infinidade de manipulações positivas.
Terapias de desconstrução de crenças limitantes é um bom exemplo de manipulação positiva.
Mas ao se tratar da sutil manipulação gaslight, o despertar da realidade só ocorrerá quando o seu limite for confrontado com a percepção do outro sobre você ou a partir da sua própria observação e comparação com seu eu anterior.
Por obter características semelhantes a outros transtornos da personalidade, como a histriônica, narcisista, limítrofe e até mesmo a borderline, há uma certa dificuldade em comprovar tal personalidade.
Mas não se engane, pois não há cura para a personalidade gaslight, até porque o abusador não acredita que seus atos são muitas vezes perversos e ainda que acreditassem, eles não se importariam.
Mas prestem atenção, pois a diferença entre o que a sociedade entende como essencialmente bom ou mau, não quanto tipo, mas sim quanto grau, envolve ações de habilidades para traduzir impulsos totalmente obscuros e perversos.
Assim, pessoas essencialmente más, que já ultrapassaram todos os limites que conduzem a uma bondade ainda que pequena, possuem fantasias extremamente complexas do ponto de vista da intensidade e compulsividade que poucas pessoas têm.
Mas isso não significa que uma pessoa essencialmente boa não as possua em determinadas circunstâncias.
Claro que muitas pessoas têm dificuldade em aceitar tal ideia, mas isso não muda o fato de possuirmos uma existência que confronta diretamente com a agressividade de nossos antepassados naquilo que chamamos de herança evolutiva, na qual a agressão era garantia de sobrevivência ou no mínimo seja resultado de falhas nas conexões cerebrais.
A redução de determinados neurotransmissores como a serotonina por exemplo, costuma seguir em paralelo com um comportamento mais agressivo.
Agora vamos analisar o aspecto das associações entre condutas.
Imagine um indivíduo que possua como hábito a manipulação gaslight e que lida constantemente com o exibicionismo.
Todo exibicionista vive um sentimento de inapropriação que se manifesta em sintomas físicos como disfunção erétil, ejaculação precoce ou tardia.
Por manter suas relações e a satisfação de seus impulsos no âmbito da fantasia, uma vez não podendo exercê-la na realidade, o exibicionista trava sérios embates existenciais com partes obscuras de si, passando a assumir a personalidade do homem mau, aquele que agride e traumatiza em sua forma física e psicológica as mulheres que deles se aproxima.
Agressões estas que serão agravadas a partir da impulsiva necessidade de praticar o gaslight com suas vítimas.
A associação desses dois hábitos comportamentais poderá ser interpretada por profissionais destreinados, como transtorno da personalidade limítrofe ou em outras palavras, psicopatia.
Apresento aqui um clássico exemplo do poder da manipulação seja ela gaslight ou não, a partir de duas bárbaras figuras, Hitler e Stalin.
Sabemos que Stalin não foi o responsável por puxar os gatilhos, nem Hitler o responsável por abrir as torneiras nas câmaras de gás.
Então, baseados nessa informação, podemos dizer que todos aqueles que participaram ativamente dos assassinatos em massa, eram verdadeiramente doentes mentais ou sofriam manipulação independentemente da forma?
Seja ela através do medo, da consciência ainda que distorcida quanto função ou papel no exército comandado pelo Fuhrer, ou qualquer outro motivo.
Percebemos então, como manipulações aparentemente sutis, com distorções da realidade podem causar sérias e irreparáveis consequências.
Não busco aqui, a absolvição histórica dos atos cometidos por eles, pois jamais me caberia tal absurdo diante a gravidade delitiva dos acontecimentos.
Entretanto afirmo, que ainda que tenham sido autores de crimes imperdoáveis, alguns psiquiatras atestaram sua normalidade.
E isso nos faz seguir para um outro ponto de importante apreciação forense, Folie a Deux.
Termo utilizado pela primeira vez no século XIX e descrito por Baillarger em 1.860 e que vem sendo modificado a depender dos autores com nomes como: transtorno psicótico compartilhado, psicose simbiótica, transtorno delirante induzido, transtorno mental por contágio ou loucura comunicante.
Muito embora, o nome original tenha sofrido alterações, uma coisa é certa, no folie a deux, sempre existirá um indutor e o induzido, aonde teremos na figura do indutor o indivíduo com a nítida personalidade delitiva e o induzido a pessoa a qual foi verdadeiramente manipulada.
Em suma, estados mentais que vivem por aceitar tranquilamente perversidades, nascem de processos psicológicos identificados por comuns, ou seja uma atitude de aparente defesa psicológica poderá contribuir para os mais variados atos desumanos.
Uma frequente crítica gaslight pode revelar cruéis comportamentos ou personalidades de pessoas compreendidas por “normais”, a partir da negação de impulsos inaceitáveis.
Pensar que tais acontecimentos não possuem relação alguma com pessoas essencialmente “boas” é o mesmo que fechar os olhos para evidências que reforçam a tese que deveria ser aceita por todos: somos todos humanos e, portanto, capazes de assumir os mais variados comportamentos, sejam eles bons ou maus.