Empreender se aprende

Empreender se aprende em casa e ao seguir o exemplo da vizinha

Crianças e adultos se mobilizam junto a uma mulher empreendedora

Empreender se aprende em casa e ao seguir o exemplo da vizinha, pois é pelo convívio, descobrindo como mobilizar os saberes, que todos podem crescer.

Dedicação ao agir, acolhimento de riscos, paciência para obter bons resultados, expansão do conhecimento com novos aprendizados… Esses são aspectos presentes nas ações empreendedoras.

Conheci, em grupo de condomínio, uma mulher com tais atitudes que criou uma rede empreendedora colaborativa em casa e com seus vizinhos.

Tudo inicia em 2020! A crise vivida na pandemia da Covid por todos nós, desperta nessa mulher, mãe de três meninas, o diferencial que ela percebe ter. É a própria Luciana Ivanike que nos conta:

“No dia 11 de março de 2020, o mundo todo recebeu a notícia de que estava instalada uma pandemia de um vírus ainda desconhecido da ciência, altamente contagioso e letal. Como Bióloga por formação, fiquei apreensiva. Sabia o que isso significava e como trabalhadora do setor de eventos sabia que em breve nosso trabalho seria paralisado.”

Luciana e seu esposo, Daniel Isolani, fotógrafo profissional, recebem a informação de que as atividades serão suspensas por 15 dias a fim de evitar o contágio em eventos.

Isso não ocorre em poucos dias, como já sabemos, e, o receio de que o casal fique sem renda faz com que ela crie formas de enfrentar a crise. Foi aí que se lembrou de “brutus”.

Mas o que leva o nome de Brutus nesta família tão gentil? É o apelido carinhoso dado por Lu ao fermento natural* Levain que vem usando para fazer pães, há dois anos.

Sua escolha justifica-se pela melhor qualidade de alimentação à família, comparado a outros fermentos industrializados, e, pela economia de recursos, ao produzir o próprio pão.

O fermento natural é conhecido por diversos nomes: levain (fermento em francês, se pronuncia “levãn”), sourdough starter (inglês), lievito naturale ou pasta madre (italiano), masa madre (espanhol), massa lêveda (Portugal) ou massa azeda. (Fonte: Google, captado em 26/09/2021). 

O vídeo abaixo do Canal Padeiro de Apartamento no YouTube, é um entre muitos, que ensina a fazer o fermento natural.

Ela enfrenta a crise, economiza recursos e toma algumas iniciativas: “Passei roupa “para fora”, vendi totens de álcool em gel (virou uma febre com a pandemia) e por fim, comecei a oferecer para amigos próximos e familiares meus pães.”

Começa a fazer pães “para fora” em processo manual. Por mais que ela se esforce, a capacidade de produção e os contatos para venda são muito limitados, apesar de imaginar novos produtos com o uso do “brutus”

Em seu aniversário, com o presente da mãe e da tia: uma batedeira planetária* percebe que poderia alavancar o seu trabalho, com mais produção e menos cansaço.

“…Possivelmente eu teria nas mãos um novo negócio (por que não? Afinal, tenho sangue empreendedor e amo esse universo de criação e planejamento).”

* Para quem não conhece o que é uma batedeira planetária, aqui vai a explicação. É o modelo de batedeira mais potente de todas, possui batedores que combinam movimentos de rotação com os de translação, ou seja, giram em seu eixo e ao redor da tigela ao mesmo tempo, resultando em massas uniformes com maior rapidez. (fonte: Google, captado em 26/09/2021)

Para avançar em seu projeto, sabe que é preciso organizar o empreendimento com a família. O marido fica responsável pela logística e pelos compromissos externos, o que traz proteção para ela e as meninas durante a pandemia.

As vendas aumentam a cada dia e o “grupo de compra, venda e troca” que Lu cria no condomínio começa a ter sucesso. Mais pessoas compram seus pães e isso empolga outras vizinhas que começam a anunciar outros produtos.

Relato meu próprio testemunho, em 2021, sobre o grupo. Estive 40 dias, em Curitiba, no mesmo condomínio, ao me hospedar com minha filha, desde a segunda quinzena de junho até agosto.

Jamais tive conhecimento de um conjunto de vizinhança tão ativo em que há produção de vários itens e muita generosidade. Vendem entre si, fazem trocas e doações (essas também para pessoas carentes). É um exemplo de case empreendedor pela quantidade e qualidade dos fornecedores entre os moradores.

Comprei da Lu vários pães ciabatta, outros integrais, focaccia e bolo “piscininha recheado de brigadeiro”, todos deliciosos e muito criativos. Recebi entrega pontual, tanto no condomínio, quanto na casa de meu filho em outro bairro da cidade.

 De outras fornecedoras, como d. Nancy e a Vânia, comprei canjica com coco, e, cápsulas de chocolate para o leite. A diversidade de produtos é imensa: alimentos, bijouterias, vestimentas, enfeites para cabelo, velas, entre outras coisas.

A velocidade das ofertas (das manhãs às madrugadas) e a agilidade do primeiro comprador, “trocador”, ou, receptor da doação, são avassaladoras. Algumas pessoas – um pouco mais lentas (como eu) – ficam à reboque, com sonhos de consumo insatisfeitos.

Percebo que o condomínio do Cabral acolheu, afetivamente, a história de empreendedorismo da família vizinha e conseguiu implantar o mesmo espírito em seu coletivo, com apoio da síndica.

Luciana prossegue no projeto: “Logo que criei o grupo de vendas do condomínio, comecei a sonhar, junto com a atual síndica, com uma feira em que os moradores pudessem expor e comercializar seus produtos. Em julho de 2021, consegui implantar em nosso condomínio a Feira que tanto sonhei!

Relembro que Empreender se aprende em casa e ao seguir o exemplo da vizinha. A cada semana, Lu faz o lançamento de um cardápio de pães e doces, e, se ampliam os produtos caseiros dos vizinhos.

A Feira permite maior conhecimento entre os moradores, e, também serve como vínculo de agradecimento, pois “eles amam a minha equipe de entrega”, segundo a expressão da Lu com orgulho.

Essa “equipe de entrega” surge graças a uma bela oportunidade para que o espírito da educação empreendedora comece a florescer em casa:

As filhas – Daniela de 15 anos, Alice, 11 anos, e, a caçulinha de 8 anos, Catarina – ganham uma viagem para a Disney.

Com o aumento das vendas, ela precisa de ajuda para entregar os pães no condomínio. Propõe, de acordo com o marido, um valor fixo de retorno para que as meninas façam isso.

Juntar dinheiro para a viagem (pós-pandemia) é bom, mas Lu queria “… que elas entendessem o valor do esforço, que quanto mais entregas fizessem mais receberiam, e, que, ao final do dia, elas teriam mais um pouco de dinheiro para colocar nos cofrinhos.”

Atitudes empreendedoras começam a ser desenvolvidas: apoio ao propósito do empreendimento, objetivos compartilhados, dedicação ao trabalho, organização do tempo, paciência para alcançar uma meta futura.

O retorno financeiro pela atividade individual é expandido para uma valorização da ação coletiva, ao ser reconhecido, pela equipe “oficial, através da ideia de Catarina, o trabalho dos porteiros do condomínio que fazem a entrega aos compradores.

O sentimento de valorização de um colaborador, através de oferecimento de produtos, é uma semente do empreendedorismo em co-participação, que está sendo plantada hoje para o futuro.

Uma ação de empreendedorismo é divulgar no Instagram os Pães artesanais Curitiba fazendo com que os produtos cheguem a um número maior de pessoas que começam a comprar pela rede social.

Além das vendas, surgem pessoas que apoiam o empreendimento, e, entre elas a cunhada Nicolle, do Canadá, que precisou desenvolver uma marca para um projeto no seu curso. Assim nasce a marca PIEC PÃES ARTESANAIS .

“Minha família acabava de ganhar um nome e uma identidade. Somos uma família de descendência Polonesa, e, PIEC em Polonês significa Assados, mas pięć significa CINCO. Somos cinco, sempre unidos, trabalhando pela nossa família, produzindo pães cheios de amor e gratidão.

Foi emocionante receber o estudo de nossa marca que, até dois meses antes não existia nem em sonhos.”

Agora, com a Marca, Lu se formaliza como microempreendedora individual – MEI – e se expressa assim: “Como boa empreendedora, não queria estagnar, fui batalhando com minha família o aumento gradual dos pedidos e vendas. As meninas se organizavam com bloquinhos para sair distribuindo os pães nos apartamentos e meu esposo rodava supermercados comprando os insumos.”

A empresa continua totalmente caseira, tudo é produzido na cozinha do apartamento. A geladeira se esvazia nos dias de fornadas, pois os pães fermentam a noite toda na geladeira.

Os equipamentos de panificação, recém adquiridos (comemorados pelos vizinhos no WhatsApp) alteram o uso de alguns locais no apartamento: o tanque é suporte para o novo forno e o balcão da lavanderia apoia a masseira.

A produção é realizada com salubridade e higiene e é prioridade de todos os cinco. “Não é fácil produzir em casa, com espaço e estrutura limitada, mas nossa família é maravilhosa e enxerga isso como nosso crescimento.”

Conciliar a rotina das aulas online das filhas, os momentos de lazer, e, o processo de delivery é um desafio, somado, recentemente, a outro: o marido voltou às atividades profissionais pois o setor de eventos reabriu.

Funções, antes compartilhadas, começam a ficar inteiramente com Luciana: organizar a rotina, distribuir os pedidos fora do condomínio, e, administrar as entregas no condomínio junto às meninas.

Hoje, a empresa investe em cardápio virtual, desenvolvido em plataformas que atendem MEI (microempreendedor individual). Há planos de inserir a PIEC em plataformas delivery.

Com alegria e segurança no presente, feliz com as conquistas a partir dos desafios, e, com uma visão de futuro promissor, Luciana demonstra todo seu entusiasmo.

“Em março fui aceita em um processo seletivo para um curso gratuito de três meses em que é obrigatório 100% de presença. O programa é denominado “Elas se empoderam empreendendo” do grupo Mulheres do Brasil.”

E arremata, com satisfação e orgulho pessoal: “Participei do curso, obtive meu certificado e com ele a certeza de que estou no caminho certo. “

A empresa, hoje, possui processos bem definidos, seu plano de negócios é bem estruturado o que tem possibilitado seu crescimento de forma equilibrada. Houve um aumento do faturamento em 5x desde o início do funcionamento.

A “família Piec” prevê novas aquisições de equipamentos para breve, e, o essencial: possui uma marca forte em toda a cidade. Acredito que no futuro, o estado e o país venham a conhecer muitas franquias dessa marca.

“Minhas filhas tem muito orgulho do que estou desenvolvendo aqui, elas participam de tudo, das vitórias e das batalhas perdidas, não deixam que eu desanime e estão sempre disponíveis e solícitas a ajudar, seja na produção, na entrega ou na rotina da casa.

A Catarina, minha caçula se autointitula minha sucessora.

Ela ama cozinhar, adora participar de lives produzindo quitutes comigo, além de ser apaixonada pela nossa empresa.”

Lu afirma que neste processo de crescimento, vivenciado com sua família, a forma de superar desafios é ter muita energia, paciência e sabedoria.

Ela demonstra muita satisfação – como se comentasse o sucesso de uma quarta filha – ao informar que a feira do condomínio começou com 10 expositores de vários produtos, desde semijoias a compotas.

E transborda em emoção: “Foi lindo, chorei vendo os vizinhos se relacionando, mas o que me emocionou de verdade, foi ver que a minha história mobilizou outras mulheres a ter uma renda, mesmo estando em casa.

Foram muitas histórias e agradecimentos, mulheres que perceberam que nós somos nossas maiores barreiras e, como elas diziam “- Se a Lu consegue com três filhas, eu também consigo”.

Todas as moradoras sabem que Empreender se aprende em casa e ao seguir o exemplo da vizinha. Descobriram que obter uma renda com seu talento pessoal e dedicação é valorizar-se na vida.

Lu as orienta: “Comece com o que você tem, fazendo o que você sabe. Não tem erro. Uma mulher que se percebe parte de uma sociedade, uma mulher que tem a segurança de uma renda, que atinge uma independência financeira, inspira e fortalece outras mulheres, que irão inspirar e fortalecer outras. Essa é a ideia principal do movimento entre nós.”

Concluo que o propósito maior da Lu é o de ajudar mulheres a se empoderar pelo Empreender ao mostrar a elas que todas podem e que conseguem.

“Hoje eu sonho com minha padaria, sonho com a fachada e, principalmente, sonho em ter apenas mulheres colaboradoras, mulheres que serão acolhidas, fortalecidas, mulheres mães que assim como eu, precisam correr atrás do pão nosso de cada dia!”

Uma notícia me deixou feliz, pois fiquei sabendo que nossa entrevistada está participando da terceira fase da seleção do Prêmio Empreendedora Curitibana, na categoria MEI.

Todos nós estaremos torcendo por mais uma vitória. Ela me disse que se inscreveu porque acredita no poder que está criando a partir das três filhas que acompanham os desafios e as soluções encontradas no caminho.

“Isso traz a elas a percepção de quanto as mulheres podem ser fortes e poderosas, e, que podem mudar o mundo como empreendedoras.”

Encerro com um lindo pensamento dessa jovem mulher que me emociona, pois sinto a luz e a energia que espalha a seu redor.

“Mulheres empreendem, em sua maioria, por necessidade e, logo transformam em amor. Não tem como o mundo não ser favorecido grandemente por isso.“

Se você é uma pessoa empreendedora, estimule um amigo ou uma amiga! Se você não se descobriu ainda, encontre alguém que possa ajudar na identificação de seu saber que trará a diferença.

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