FIFA acreditou que a medida pudesse reduzir casos de assédio sexual durante a Copa do Mundo na Rússia.
Nessa última quinta 12, a FIFA fez uma exigência curiosa: que as emissoras de televisão reduzissem as filmagens de mulheres bonitas.
Segundo o chefe de departamento de responsabilidade da FIFA, Frederico Addiechi, a medida foi tomada porque houve muitos casos de sexismo na Rússia. Uma entidade parceira da FIFA registrou cerca de 45 denúncias sexuais durante a Copa.
Mas afinal, qual a definição de beleza e qual a relação da beleza com o assédio? Somente mulheres dentro do padrão aceito pela sociedade são assediadas? A culpa dos assédios é das mulheres, a ponto de termos que escondê-las? Medidas como esta da FIFA realmente ajudam em algo?
A beleza é conceituada como expressão da qualidade do que é belo e agradável. É um termo utilizado também para qualificar uma mulher formosa ou coisas bonitas.
São características agradáveis à vista, capazes de cativar o observador. A FIFA soube aproveitar muito bem as ‘mulheres bonitas’ nos estádios como uma vitrine.
Mas a noção do que é beleza é única para cada pessoa. Como a FIFA difere mulheres bonitas das menos bonitas?
A FIFA realmente acreditou que essa medida diminuiria os casos de assédio?
Segundo uma pesquisa realizada em 2016 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 37% da população concorda que “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas” isto é, mais de um terço da população do Brasil acredita que a vítima é a culpada por ser sofrido estupro.
De acordo com a pesquisa, é muito comum questionar o comportamento da vítima, com base no que acham ser a forma correta de “ser mulher” e “ser homem” na sociedade.
Essa análise indica que esse pensamento vem de um discurso socialmente construído, no qual considera que se a mulher é vítima de alguma agressão sexual, é porque provocou a situação, usando roupas curtas ou andando sozinha em locais inapropriados.
A pesquisa revela que ainda existe a ideia de que o homem não consegue controlar seus “instintos naturais”. Um ponto positivo dessa pesquisa é que 91% da população acha importante ensinar meninos a não estuprar.
Fica evidente que o Brasil e o mundo ainda têm um déficit civilizatório muito grande, de moralidade machista.
É preciso ficar atento a educação das crianças, ensinando noções de consentimento para que elas possam identificar a violência e que as pessoas parem de naturalizar violações de consentimento.
A educação é a forma mais eficaz de combater o machismo e demais preconceitos.
Quem é a FIFA para determinar os padrões e regras?
O assédio sexual independe de padrões de beleza ou da roupa da vítima. Essa medida só reforça aquela questão ultrapassada de que as mulheres são culpadas quando são assediadas. Os culpados são os assediadores.
Não será a FIFA que eliminará o assédio dentro ou fora dos estádios. Estupro existe em qualquer lugar. Assédio existe na família, no trabalho, na igreja, na rua.
As mulheres têm todo direito de vestir o que bem entenderem, e todos têm o direito de olhá-la. E é aqui que devemos traçar a tênue linha do respeito.
O direito de olhar não significa que o homem tenha o direito de assediar. Um olhar de admiração pela beleza, ou o desprezo, é algo suscetível a acontecer.
Mulheres que usam burcas em países muçulmanos conservadores também sofrem assédio. Esconder mulheres não é e nunca foi a solução.
Com isso, fica uma pergunta: O que protege mais uma mulher de assédio? A FIFA, uma burca ou a conscientização pela educação?
Referências: Estadão