Graças à adaptação cinematográfica do livro escondido em uma prateleira de uma pequena livraria, pelo cineasta François Truffaut, em 1962, é que este incrível romance intitulado Jules e Jim permitiu-se a ser conhecido por seu público.
Jules e Jim são dois amigos escritores, um austríaco e outro francês, respectivamente, que vivem uma vida boêmia em Paris, regada a encontros amorosos e de uma paixão compartilhada pela arte e pelos livros.
Até que ambos conhecem Kathe, a dona de um sorriso encantador que já os haviam hipnotizado quando encontraram uma estátua anteriormente com o mesmo atributo.
Ambos se apaixonam por Kathe, o que dá início a um triângulo amoroso dentro de uma narrativa cheio de reviravoltas e um final trágico.
Escrito por Henri-Pierre Roché, o narrador em terceira pessoa e onipresente, dá incríveis detalhes e ao mesmo tempo constrói uma narrativa elíptica, com frases curtas, mas de fácil absorção e leitura.
É interessante como a história se desenvolve e cada vez mais vai ganhando contornos sombrios.
Em um primeiro momento, na era “pré-Kathe”, há muito humor, felicidade, liberdade e um desprendimento de todas as convenções tradicionais.
Jules e Jim viviam os valores sociais franceses efervescentes da época que inspiraram mais tarde a revolução estudantil de Maio de 1968, na França, exatamente há 50 anos: libertação sexual, o fim de ideologias, dos direitos feministas, o reconhecimento da diversidade cultural entre outros direitos reivindicados pelos pupilos, compostos principalmente por jovens estudantes que se estabeleceram como a geração do baby boom, ou geração X, cujo intuito de suas manifestações se pautava em se desvincular de datadas e paternalistas tradições.
Jules, Jim e, posteriormente, Kathe, vivem tudo isso com muita intensidade, inclusive buscando satisfazer desejos imediatos. Nada possui um plano fixo ou ações são pensadas em algumas consequências, portanto, a impulsividade ganha destaque.
No decorrer da narrativa, no entanto, esse exagero começa a tomar forma de um sentimento potencialmente destrutivo.
Após se divorciar de Jules, Jim e Kathe assumem um relacionamento extremamente dependente e degradante, envolvendo infidelidades, mentiras, ciúmes e o desejo de vingança.
Em outras palavras, pode-se dizer em uma luta entre egos e uma busca de controle sobre o outro que termina, obviamente, em uma tragédia.
Assim sendo, se por um lado temos as relações amorosas como um potencial maléfico para as pessoas, por outro lado temos a amizade entre Jules e Jim que perdura por toda narrativa inabalada.
O medo expresso nos personagens de terem matado um ao outro durante a Primeira Guerra Mundial já demonstra uma fidelidade e um apreço imenso que ambos possuem pelo seu relacionamento construído.
As amantes, os amores, e demais fatores externos nunca foram motivos para questionar essa aliança, o que é muito bonito e um dos pontos principais pelo qual o romance se tornou célebre.
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Jules e Jim é, por fim, uma obra dedicada à toda uma geração de jovens, cujos valores libertadores persistem até os dias de hoje.