Meninas, mão à obra! Empreender é divertido

Não faltou quem dissesse que estávamos enlouquecendo. Não, nada de loucas mansas. Doidas do tipo que queima dinheiro. Tudo porque minha sócia e eu resolvemos abrir um negócio. Com certo risco, sim, mas que novo negócio não tem riscos? O problema talvez fosse o momento. Estávamos no que até então se considerava a crista da onda de recessão econômica e confusão política de 2015. É claro que depois todos percebemos que a crista não era tão crista – o pior ainda estava por vir. Mas isso na época não sabíamos. E, se soubéssemos, provavelmente a decisão teria sido a mesma. Nós vimos uma oportunidade de negócio, investigamos a possibilidade de cima a baixo e nos apaixonamos pela ideia: íamos abrir uma casa de jogos de escape em São Paulo. E pronto. Estava decidido.

Bem, foi mais ou menos assim. Na verdade, à medida em que estudávamos o mercado e tudo que poderia dar certo – ou errado – as coisas foram mudando. Às vezes parecia missão impossível e, em outros momentos, era como se nada pudesse falhar. A maneira como colegas e até amigos recebiam as novas do andamento do projeto também foi se alterando. De “malucas” passamos a “corajosas” e até “visionárias”. Talvez o mais correto fosse uma mistura disso tudo – e de mais uns tantos atributos.

O que aprendemos nessa fase de criação do negócio é que empreender pressupõe ter os pés no chão e o coração acelerado. Quer dizer, planejamento, planilhas e avaliações por um lado e paixão (que é sempre meio cega) por outro. Interessante é que, a partir de algum momento, fica difícil separar o que é razão e o que só pode ser emoção. Vira uma coisa só. Essa é uma das mágicas que faz um negócio existir.

Partimos de um ponto racional: havia uma janela no mercado. Jogos de fuga não só eram uma tendência mundial forte como também um segmento ainda muito novo no Brasil. Esses dois aspectos se mostraram tentadores. O primeiro demonstrava potencial de crescimento. O segundo, que o investimento inicial poderia ser relativamente comedido, na medida em que não se tratava de mercado já consolidado.

Depois de uma longa romaria para encontrar o local certo, deparamos com um antigo edifício no bairro de Pinheiros, fronteira com a Vila Madalena. Localização incrível. E o prédio também. Mas tínhamos desde o início uma ideia nova – disruptiva, como diz a moda – para esse também novo mercado. Era criar uma casa de escape imersiva de verdade. Na qual o cliente pudesse ter uma experiência de “vida paralela” desde a calçada até ao último e mínimo detalhe interno. A imersão se daria em um hotel, com seus vários apartamentos fazendo as vezes de salas de jogos. Daí veio o nome Escape Hotel, já em si um título imersivo.

Mas imersiva mesmo foi a experiência de tornar isso real. Porque ter um prédio é uma coisa bem diferente de ter um hotel. Não vou nem perder seu tempo contando a dor de cabeça que nos deu criar um hotel cenográfico. Qualquer um que já tenha feito uma reforma no apê sabe o trabalho que dá. Imagine então refazer um edifício de 500 e tantos metros quadrados.

E foi aí que a brincadeira ganhou contorno heroico pra nós duas. Para começar, os investimentos. Por mais que se calcule o preço de dois tijolos, na hora-h acabam sendo necessários dez deles. Sabe como é? E nós desde o início tínhamos orçamento restrito: o investimento no negócio foi feito a partir da soma de nossas economias, FGTS e até o cofrinho de moedas da cozinha. Manter as rédeas não foi fácil. Ainda mais que tanto eu quanto minha sócia vínhamos do meio corporativo, e o mundo do entretenimento tem suas características bem próprias, diferentes de outros segmentos empresariais.

A força que recebemos de amigos e até de pessoas que passavam pela porta do Escape Hotel e paravam para bater papo foi um incentivo que mal dá para descrever. Essas pessoas nos ajudaram a acreditar ainda mais naquilo em que acreditávamos, nos deram dicas preciosas e elogios que, às vezes, são absolutamente importantes.

Quando a gente afinal inaugurou o Escape Hotel, em abril de 2016, nenhuma de nós sentiu aquelas coisas de que falam os filmes – você sabe, aquele momento relax por ter chegado lá, o Sol se pondo e a gente na contraluz com um sorriso de paz no rosto. Que nada. A gente ficou feliz a não mais querer. Mas só deu para suspirar durante cinco minutos. E, depois, mãos à obra que o show não pode parar. Na real, só estava começando.

E que começo!

 

Patrícia Estefano

Sócia do Escape Hotel 
Único escape room 100% imersivo do Brasil.
Site: www.escapehotel.com.br

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