Há quase um ano e meio atrás, mudei para Jakarta, a capital das startups, de mala, marido e cachorro.
O trabalho do meu marido lançou o desafio e, como a nossa paixão é desbravar o mundo e conhecer novas culturas, aceitamos abraçar Jakarta como o nosso lar, por pelo menos três anos.
Como faço parte da mesma empresa, fui localizada no país, aonde continuo exercendo a minha profissão, na área de comunicação, porém com o desafio cultural, porque é completamente diferente de tudo o que eu já tinha vivido.
A história do país é complexa, e assim como uma startup, está em constante transformação.
Apesar de hoje ser maioritariamente muçulmana, Jakarta foi um dos reinos Hindus mais antigos do mundo, e após a sua decadência, tornou-se um importante porto comercial para a conhecida rota das especiarias.
A construção da sua identidade passa por povos milenares, e pelo domínio dos Portugueses, Ingleses e Holandeses, cuja independência é recente (1946).
Com isso, começamos a compreender a miscelânea de religiões, sabores e manifestações culturais que existem em uma única cidade.
Pratos Indonésios: uma mistura de temperos, herança da rota das especiarias
Hoje, Jakarta é uma das cidades mais populosas do planeta. A cidade, que foi planejada para comportar 800 mil pessoas, já conta com mais de 10 milhões de habitantes, desconsiderando a região metropolitana.
Os transportes públicos não são suficientes para dar vazão a tanta gente. E como a maioria das ruas é estreita, inchada de carros e rodeada de motocicletas, as poucas calçadas que existem viram extensão de faixa para os veículos.
Apesar do caos urbano, a criatividade impera em diferentes setores. Acredito que por pura sobrevivência, os Indonésios acabam por gerir o inimaginável.
Na falta de regras (e de empregos), o DNA comercial milenar da população os faz ocupar posições curiosas, em troca de dinheiro.São milhares de startups informais, fazendo bater o coração da cidade.
Por exemplo, para atravessar uma avenida movimentada, abrimos a janela e mostramos as moedas. Imediatamente um ou mais rapazes à paisana param os carros e motocicletas, e “abre-te Sésamo”, ganhamos passagem.
Como o out of pocket da população é baixo e não há dinheiro para encher o tanque, vende-se gasolina embalada manualmente em garrafas de vodca, em qualquer warung (pequeno armazém).
Cenário diário em Jakarta, e a gasolina vendida em garrafas pelos warungs da cidade
E quando se pensa que não há saída, em 2010, a startup Go-Jek trouxe ao mercado uma grande sacada: Um aplicativo para todas as necessidades, para uma vida sem limites (#lifewithoutlimits).
A empresa uniu de forma inteligente, a carência de tempo, o número de usuários de smartphones, o índice de desemprego e a disponibilidade de motocicletas no país.
Faz transporte de pessoas via mototáxi e oferece inúmeros serviços porta a porta, tais como Go-Send, Go-Food, Go-Mart, Go-Massage, Go-Clean, Go-Med, Go-Pay.
Pelo menos em Jakarta, todo mundo usa. Assim como não conseguimos lembrar como era a vida antes do telefone celular, por aqui, as pessoas não conseguem lembrar como era a vida antes do Go-Jek.
Os cidadãos dependem do aplicativo para tudo. Inclusive, para viabilizar os seus próprios negócios (as startups informais).
Todos os meus colegas – sem exceção, tem um negócio próprio em paralelo à vida corporativa.
Eu até ouso dizer, que a vida corporativa é apenas o “Plano B”. De novo, como não há regras, as pessoas montam pequenas atividades, publicitam no Instagram, e entregam com o Go-Jek, sem sair do escritório.
Ela vende os bolos e cupcakes que prepara a noite, de acordo com as encomendas recebidas via Instagram / WhatsApp (@meandsummercake).
A consequência desta veia empreendedora, é a organização de subculturas. Os amantes de cafés, os amantes de motocicletas, os amantes de tênis, os amantes de músicas, e aquela em que todos se encaixam, amantes de comidas.
Todos os nichos encontram-se no mundo virtual, e ali tudo é comercializado, sem complicações, sem formalidades.
Isso faz de Jakarta uma cidade extremamente dinâmica, criativa, viva, que vai além de arranha-céus e centenas de shopping malls, disponíveis nos guias turísticos.