Ao me deparar com uma foto de Monalisa no Facebook, aquela musa do famoso Leonardo Da Vinci, esbanjando sensualidade.
Alguém postou a própria Monalisa com um celular na mão para um Self, levantando seus cabelos, mostrando seu pescoço desnudo, sensual, olhar de malícia, sorriso calado no rosto.
Fiquei a pensar como deveria ter sido a Monalisa em pessoa.
Seria ela uma garota traquina, como algumas que conheço na atualidade?
Seria ela uma garota recatada, escondendo sua virgindade, para não ser viralizada?
Seria ela uma garota sonhadora, romântica que carregava sua paixão pelo artista que a retratava?
Quantas perguntas suscitadas diante da foto da artista, modificada pela mão de algum (a) web design, que brincou com a foto do quadro tão famoso, guardado a sete chaves, no museu de Louvre, em Paris…
Veio à mente uma questão, sonhadora incorrigível que sou, romântica por natureza, corajosa, vamos dizer, pois ao se tratar de imaginar a vida adolescente, de uma artista mundialmente famosa e perpetuada num quadro, é arriscar a própria vida…
Penso na jovem Monalisa, de vestido florido, em voal, saia rodada que se levantava ao toque do vento, rosto afogueado por ter corrido pelo jardim florido e cheio de arbustos verdes, um riozinho corrente ao fundo, pássaros cantando melodias suaves, borboletas azuis, esvoaçando pelas flores. Céu de anil, poucas nuvens brancas, imitando formatos abstratos, sendo empurradas pela fresca brisa.
Um sol morno, já ao entardecer, querendo se retirar para o seu descanso noturno, dando lugar para a lua cheia, redonda e brilhante, que logo chegaria ao céu límpido, de dias primaveris, quando a noite fica recheada de estrelas que piscam no alto, cúmplice de alguns casais apaixonados, que se demoram nos parques ou jardins, admirando a beleza natural, namorando…
Volto a pensar na Monalisa que sai do estúdio, após mais uma seção de pintura, de mãos dadas com o artista que a retrata.
Seguem para o jardim, procuram um banco vazio para se sentar e admirar igualmente, o céu estrelado, o dia dando lugar à noite estrelada e clareada pela lua majestosa, traduzindo um murmúrio romântico ao ar morno de primavera.
Mostram-se apaixonados, olhares se cruzam cúmplices, logo vem o beijo a selar aquele sentimento escondido, proibido, sendo ela de uma família rica, e ele um simples pintor de quadros. Famílias eram contra naquela época, uma união entre pessoas de castas diferentes, e nesse caso, discrepantes. A classe social dos dois gritantes.
Tinham somente alguns minutos, antes que a carruagem viesse busca-la após mais uma seção.
Necessário se fazia não perder tempo, falas não haviam, somente olhares apaixonados e beijos mornos que se seguiam e esquentavam à medida do sentimento que aflorava dia a dia.
O artista era determinado, no local do trabalho dele não podia de jeito nenhum, demonstrar qualquer sentimento que não seja do próprio trabalho. O que ele fazia era sério, pintava para ganhar dinheiro, retratando exatamente o que via e sentia, traduzindo no quadro, sentimentos, emoções, além da imagem dos modelos que o procuravam.
Fora de lá, podia seguir para onde a paixão o levava. Ele era responsável, não queria prejudica-la, afinal um homem tem como dever, cuidar, defender e proteger sua escolhida, sua amada, musa de seus mais elevados sentimentos.
Como não podia nem cogitar pedir sua mão aos pais dela, ele nutria em silêncio, o seu devasso sentimento, elevando-o à loucura da paixão, quando sozinho no seu quarto, num sótão de um prédio, acima da padaria do centro.
De lá, tinha uma vista linda, ao longe conseguia ver o mar, bravio e agitado como o seu sentimento novo, que graças àquela linda criatura, havia adquirido nos dias que se seguiram após conhece-la…
No dia em que seu pai a levou até o estúdio, linda, olhar sonhador, rosto rosado, lábios perfeitos, cabelos sedosos e perfumados, cativando-o ao mais profundo sentimento, ele já sentiu de imediato que alguma coisa estava diferente no ar, o ambiente como que, ganhou vida nova, mais brilho, alegrando tudo à sua volta e por dentro dele também, ouviu uma música suave tocando dentro de seu coração, uma música nostálgica, porém avassaladora de paixão incontida. Doeu até, ao sentir que já a tinha visto e estado com ela, num tempo longínquo, num lugar qualquer, mas não lembrou quando… Que seria isso? Pensou.
Mal conseguia esconder seu êxtase, mal conseguia entender as recomendações e exigências do pai, concordando com quase tudo sem tirar os olhos daquela beldade.
Quando chegou o dia marcado e ela veio, deu-se início ao trabalho. Ele começou a retratar a mais doce criatura na tela, fez com o coração inflado de tanta doçura, um sentimento indizível no momento, não sabia o que era, nunca havia sentido isso antes.
Com o passar do tempo, já conseguindo dominar em parte o seu sentimento, foi analisando aos poucos até que um dia, a própria modelo, a garota que roubava suas noites de sono, tomou dianteira segurando as mãos dele, levando-a aos seus lábios rosados e quentes, emitindo um choque de 1.000 volts, tirando totalmente o fôlego e um mínimo de discernimento do sério, que ele ainda tinha dentro de si.
Ficou sem fala, mas não precisava, em silêncio ela o direcionou até a porta de saída, faltavam alguns minutos para a carruagem chegar, correu sem largar a mão tão querida, e o dono dela que veio atrás, chegando no jardim florido que àquela hora estava calmo e vazio, sentou-se num banco vazio e deu início à sedutora conquista.
Então, estabeleceram-se um critério, dentro do estúdio nem pensar em nada diferente do que o ambiente prometia, trabalho. Fora de lá, escolheria um local neutro, que não seja o quarto onde ele morava nem a mansão onde ela morava (o que jamais teria possibilidade real).
Enquanto estudavam um jeito de se encontrarem, num ambiente discreto e neutro, iam ao jardim, que já cúmplice de seu amor, guardava segredo da paixão proibida de dois enamorados.