Racismo, cultura, barbárie, civilização e selvageria disfarçados na pesquisa sobre a anatomia feminina de mulheres africanas, especificamente das mulheres da tribo khoisan.
Até onde vai a curiosidade e a exploração humana perante algo ou alguém considerado fora dos padrões?
O filme conta a história de Saartjie Baartman, uma mulher sul-africana da etnia hotentote, que deixa a África do Sul rumo à Europa, acompanhada por Caezar, seu mestre. Caezar promete a Saartjie um emprego fixo em um circo, onde ela facilmente ficaria rica, mas na verdade ela vê-se obrigada a exibir seu corpo para curiosos em Londres. Devido à sua aparência e seus traços corporais de uma hotentote, Saartjie é vista como uma mulher exótica pelos europeus.
Cenas do filme
Saartjie tinha sinus pudoris, também conhecido por “avental”, “cortina da vergonha” ou “bandeja”, em referência aos longos lábios da genitália de algumas Khoisan. Segundo Stephen Jay Gould, “os pequenos lábios ou lábios internos dos genitais da mulher comum são extremamente longos nas mulheres khoi-san e podem sobressair da vagina entre 7,5 e mais de 10 cm quando a mulher está de pé, dando a impressão de uma cortina de pele distinta e envolvente” (Gould, 1985). Em vida, Saartjie nunca permitiu que este seu derradeiro traço fosse exibido.
Na cena, uma aula de anatomia que acontece na Paris do começo do século XIX. Na ocasião, são comparados atributos físicos de uma mulher negra com a de macacos, uma prática corriqueira na época para defender o racismo.
Fisicamente, os khoisan apresentam – em média – estaturas mais baixas e esguias que os demais povos africanos; uma coloração de pele amarelada; prega epicântica nos olhos (tais como os chineses e outros povos do Extremo Oriente) e a esteatopigia, comum entre ambos os sexos, mas com maior incidência entre as mulheres.
Saartjie era alvo de caricaturas, mas chamou também o interesse de cientistas e pintores. O anatomista francês Georges Cuvier e outros naturalistas visitaram-na, tendo sido objeto de numerosas ilustrações científicas no Jardin du Roi. O corpo foi totalmente investigado e medido, com registro do tamanho das nádegas, do clitóris, dos lábios e dos mamilos para museus e institutos zoológicos e científicos.
Suas nádegas e seus órgãos genitais eram as principais atrações para o público europeu, que curioso, podia tocar em suas nádegas mediante pagamento extra.
Seu corpo foi dado a Georges Cuvier, que fez um modelo em gesso, tendo o cuidado de preservar suas dimensões corporais em termos das nádegas e dos órgãos genitais.
A réplica de seu corpo (em gesso) e o seu esqueleto ficaram expostos no Musée de l’Homme, até o ano de 1985, assim como também os seus órgãos genitais e o cérebro, conservados em frascos de formol.
O filme conta a história real de Sarah “Saartjie” Baartman que era apresentada no século XIX para divertir o público e levá-lo ao delírio. O “aspecto selvagem” dessa mulher deixava todos os presentes extasiados. Ela pertencia a uma categoria que não merecia destaque na sociedade a não ser pelos seus “atributos” físicos, que chamaram a atenção da sociedade europeia. Sarah era tratada como um animal e há evidências que ela usava uma coleira ao redor do pescoço.
Saartije – Deprimida, alcoólatra e prostituida
A mulher negra, simplesmente por ser mulher, já não tinha os mesmos direitos que os homens, esses evidentemente homens brancos, conforme o discurso das classes dominantes.
Saartjies ainda estão presentes no nosso cotidiano, onde a mulher fácil e gostosona, é a imagem vendida pela mídia que está sempre “disposta a realizar todos os desejos dos homens”.
Fontes: Wikipédia/Omelete/ Cinema UOL/A Casa de Vidro.com/ Geografia em foco.