Mulheres formigas – A evolução da atuação feminina na sociedade.

O cotidiano da maioria das mulheres da atualidade pouco lembra o passado não muito distante, no qual eram consideradas pouco capazes, totalmente dependentes dos maridos e viviam mergulhadas nos afazeres domésticos. Sua inserção no mercado de trabalho, devido à revolução industrial na Europa do século XVIII possibilitou o abandono, definitivo em alguns casos, do status de apenas senhoras do lar, mas à custa de muito sofrimento, pelas condições desumanas de trabalho.

A partir de então até os presentes dias, muitos acontecimentos têm marcado a luta feminina contra o preconceito e a desigualdade de direitos, como o protesto contra a ditadura da beleza, o famoso Bra-Burning (queima de sutiãs) de Atlantic City, em 1968.  Nessa mesma época, com a popularização da pílula anticoncepcional, a mulher ganhou mais liberdade para seguir uma profissão e passou a acreditar que poderia ser a protagonista de sua própria história, o que possibilitou a evolução de sua atuação em várias áreas da sociedade.

E o homem, que antes possuía seus papéis pré-formatados e bem definidos, passou a dividir com a mulher as reponsabilidades do sustento e, consequentemente, do comando da própria família. Porém, a mulher, muito feliz com seu novo papel de profissional e chefe do lar, não percebeu que, na verdade, essas conquistas significavam na prática um acúmulo de tarefas para ela, uma vez que, a maioria dos homens cedeu parte do seu lugar de provedor, mas não assumiu nenhuma das inúmeras responsabilidades domésticas atribuídas à esposa.

E nesse cenário de grandes transformações na vida familiar, social e profissional das mulheres, surge o fenômeno da mulher formiga. Seguindo o belo exemplo das formigas, mestras em organização social, trabalho árduo, silencioso e contínuo, a mulher teve que se adaptar ao acréscimo de papéis que assumiu para si, em confronto com a parcial perda da soberania do homem da casa e com a inoportuna indefinição das funções masculinas.

A mulher formiga é tanto aquela que possui vida profissional, quanto a que cursou uma faculdade ou já teve uma carreira, mas, depois de casada, preferiu se dedicar apenas à família e acompanhar de perto a criação dos filhos. Como, o gosto pelo trabalho e pelo sucesso faz parte da natureza dessa espécie, mesmo as que não possuem uma carreira formal, estas assumem outras responsabilidades, que contribuem para que detenha, de certa forma, o comando da família.

A mulher formiga sabe da importância das relações interpessoais na vida em sociedade, por isso busca ampliar a rede social familiar, aproximando-se das mães dos amigos de escola de seus filhos e das pessoas influentes ou interessantes para os negócios dos seus maridos, graças a sua enorme capacidade de interação social.

Essa espécie feminina influencia diretamente no planejamento familiar, fomentando a participação de todos na economia do lar, ajudando o marido a ampliar os rendimentos, buscando oportunidades de estudos e viagens, incentivando o crescimento econômico, cultural e social de todos. Muitos homens reconhecem a importância dessas formiguinhas, pois, apesar de provedores da casa e profissionais de sucesso, muitos deles, jamais conheceriam a Europa, por exemplo, se não fossem apresentados ao mundo por suas esposas.

O dia a dia da mulher formiga é bem movimentado. A correria começa logo cedo, com muitas tarefas domésticas e com os filhos a serem realizadas antes de sair de casa. E ainda tem os cuidados pessoais com a aparência para se apresentar elegantemente no trabalho. As mais organizadas preferem definir na véspera as roupas, acessórios e calçado que usarão no dia seguinte, para poupar tempo e evitar imprevistos.

São tantos afazeres diários como o transporte dos filhos para a escola, cursos de línguas ou faculdade; idas à farmácia, ao banco, à padaria ou ao supermercado. Muitas vezes, a hora do almoço ou um tempinho extra entre uma tarefa e outra, são usados para resolver questões importantes, como consultas médicas e até mesmo ir à academia.

E depois de um dia inteiro de muito trabalho, quando essa mulher chega em casa, percebe que o segundo turno do seu expediente está apenas começando. Nada de descanso. Além de desmontar toda a produção feita de manhã, precisa preparar o jantar da família, supervisionar o dever dos filhos, tomar providências para o dia seguinte, como anotar as tarefas da empregada, se for o caso, organizar seu próprio material de trabalho e o dos filhos para a escola. Enquanto isso, alguns maridos, que também chegaram cansados do trabalho, descansam na frente da televisão, sem perceber que sua responsabilidade de sustento do lar foi reduzida, enquanto as tarefas da mulher só aumentaram.

Depois dos deveres domésticos cumpridos, algumas formigas ainda tentam ler o material que trouxeram do trabalho para terminar em casa. Outras conseguem assistir o último jornal, ou ler um pouco. É quando percebem as unhas descascando e têm que arrumá-las. Sem esquecer os cuidados com a pele do corpo e do rosto, finalmente, suspiram: mais um dia de mulher formiga vencido! Apressadas, elas se jogam na cama, na esperança de dormir por umas seis horas, se possível, pois sabem que no dia seguinte essa rotina se repetirá novamente.

Ant Ttales - Fantastic macro photography of ant by Andrey Pavlov
Imagem: Ant Ttales – Fantastic macro photography of ant by Andrey Pavlov

E muitas vezes essas formiguinhas podem se questionar se a atual situação feminina justifica a luta e o sacrifício de tantas mulheres ocorrido ao longo da história. Elas têm consciência das diferenças entre os gêneros: conseguem ver a vida em perspectiva, de forma estratégica e fazer tantas atividades ao mesmo tempo, diferentes dos homens. Mas além de independência e respeito, a mulher formiga, apesar de não precisar, também quer se sentir protegida. Deseja ter alguém que lute ao seu lado por objetivos comuns e pela sua família.

Mas, devido à desigualdade de direitos entre os gêneros ainda persistir, a mulher formiga não vai parar jamais de lutar por sua melhoria de vida. Não há como voltar atrás. Ela experimentou o quanto é gratificante conquistar independência financeira para chegar onde quiser. Compreendeu que pode desempenhar diversos papéis ao mesmo tempo e ainda assim, fazer de qualquer trabalho o motivo de seu prazer e felicidade.

Sejam felizes, formiguinhas!

 

Paula Maciel
Administradora, Advogada, Escritora e Auditora do TCE-PA

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