O amor que mata

Ser homossexual, ser transexual, ser heterossexual, ser negro, ser surdo, ser cego, possuir alguma síndrome ou qualquer outra ‘peculiaridade’ não é opção, pois não existe escolha. Simplesmente é. A violência sofrida todos os dias pela população LGBT e outras minorias viola todo e qualquer direito humano e isso é intolerável. Uma vida não tem mais ou menos valor do que a outra. Uma pessoa não tem mais ou menos direitos que a outra. Uma pessoa não tem mais direitos do que a outra.

Há alguns séculos uma relação homossexual era proibida, era um crime cuja punição era a forca. O amor chocava. Ficar pendurado pelo pescoço não. Amar era pecado.

Atravessamos o tempo e evoluímos… Será? A impressão que dá é que continuamos no passado esperando pela próxima forca. Lulu Santos já dizia, “assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade”. E para comprovar essa lenta caminhada, segundo dados da Associação Internacional ILGA (International Lesbian, Gay, Bisexual, Trans and Intersex Association) em 2006, os atos homossexuais eram crime em 92 países, hoje, dez anos depois, essa lista ainda é extensa e conta com 73 países, sendo que 13 deles preveem a pena de morte.

É um absurdo pensar que amar mata. É loucura pensar que um homem que beija outro homem ou uma mulher que beija outra mulher em praça pública pode estar assinando sua sentença de morte. É inaceitável que o afeto entre iguais cause nojo, cause medo, gere tanto ódio. Ser homossexual, ser transexual, ser heterossexual, ser negro, ser surdo, ser cego, possuir alguma síndrome ou qualquer outra ‘peculiaridade’ não é crime. Amor precisa gerar amor e só.

A família não vai deixar de existir porque pessoas do mesmo sexo se casam e adotam filhos. Não estamos falando de prova de concurso público onde uma questão errada anula uma certa, até porque não há nada de errado nessa união. No máximo teremos novas famílias cheias de amor, carinho e tudo aquilo que precisa para se formar um ser humano simplesmente humano, onde o preconceito não exista. No máximo teremos novos lares de crianças amadas e não mais abrigos de crianças abandonadas.

“Mas como eu vou explicar para o meu filho a cena de dois homens se beijando e andando de mãos dadas?” Simples. Não precisa explicar. Existem coisas que você não precisa explicar para uma criança. Elas sabem muito mais e sentem muito mais que nós adultos imaginamos. As crianças só acharão a situação estranha e só irão querer uma explicação se ouviram em casa que isso não é normal. No mais, é só amor, sem questionamento. Precisamos disseminar mais amor e respeito entre as pessoas. Preconceito é desamor.

Nunca subestime uma criança. Elas são a melhor parte, pois elas amam sem sexo e sem gênero, elas amam aquilo que elas enxergam e tudo é normal onde tem amor, carinho, alegria e respeito. Jamais adoeça uma criança com os seus medos, os seus preconceitos e a sua visão errônea e ultrapassada do amor.

Por isso, não se preocupem com as crianças, não se preocupem com as novas famílias. Precisamos nos preocupar em construir uma nova lista, onde em nenhum país amar seja crime, onde em nenhum lugar do mundo se morra por amar, se morra por ser quem se é. Precisamos substituir a aversão pelo bem-querer e rápido, caso contrário, nos perderemos ainda mais nesse mundo onde o amor é condenado e o ódio é estimado.

Termino com uma reflexão sobre a frase de Leonard Matlovich, militar americano que foi expulso do exército ao assumir sua homossexualidade:

Quando estive nas Forças Armadas, eles deram-me uma medalha por matar dois homens e uma dispensa por amar um”.

Leonard Matlovich
Leonard Matlovich – Sargento técnico Força Aérea dos Estados Unidos

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