Refletindo sobre o dia do médico veterinário comemorado no último dia nove de setembro, dei-me conta de como é difícil falar de si mesma, especialmente num espaço como este. E ainda mais, passar em revista a história profissional, e porque não dizer, a vida.
Então, para puxar o fio de Ariadne que tece a teia do meu mundo íntimo, começo relembrando o momento em que decidi ser médica veterinária. Mas porque você não vai ser médica de “gente” menina? Perguntavam a mim, uma garota no início da adolescência com tantas transformações em andamento, e mais esta semente da dúvida.
Mas, com vocação não se brinca! E a minha era essa mesmo. O amor, o respeito, a compaixão e a proteção animal estavam, e sempre estarão, na minha essência.
Encontrei eco nos corações dos meus familiares que sempre compartilharam e vivenciaram comigo tais sentimentos, em especial com seus exemplos de afeto e acolhimento a todos os animais indistintamente.
Mas para cursar veterinária, era necessário cortar o cordão umbilical que no meu caso, era bastante apertado pela intensa ligação com os meus pais, e sair para o mundo.
Morávamos em uma cidade muito pequena, e que continua pequena, e que não me oferecia a possibilidade de uma formação colegial com a qualidade necessária para que eu conquistasse a tão sonhada vaga em uma universidade pública.
E eu fui! Não sem muitas lágrimas, é claro, mas com o apoio e o exemplo extraordinário de uma mãe maravilhosa que me ensinou a perseverar na conquista do meu ideal.
Morava em uma “república” com algumas garotas em uma cidade não muito distante da minha, e certamente credito a este início do viver a vida no mundo, como o ponta pé inicial na minha carreira profissional e de futura empreendedora. Sim porque, administrar um lar fora dos limites das asas maternas, e na adolescência, fatalmente faz emergir inúmeras habilidades.
Encontramos a perseverança como ingrediente vital, somada a gestão financeira, ao comprometimento no cumprimento de metas, a otimização do tempo dedicado ao estudo e ao lazer, a divisão de tarefas como realizar o jantar, faxinar a casa, ir ao supermercado, e acima de tudo, a compressão, o respeito e a aceitação das diferenças entre aqueles que compunham aquela equipe.
Pois é, a vida republicana foi o meu primeiro coach rumo à sedimentação dos meus propósitos de vida pessoal e profissional.
Saí vencedora na batalha do salve-se quem puder do vestibular, e entrei em uma universidade pública. Que consagração! Sentia que o meu investimento pessoal e emocional tinha valido a pena.
Aquele clichê de que a universidade é um dos momentos mais legais da vida, para mim fez todo sentido! Fiz amigos eternos, desbravei caminhos de autoconhecimento, mas conheci muito do mundo a minha volta também, e é claro, estava realizando o meu sonho.
Ouvindo o meu coração e seguindo a minha vocação, optei pelo clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, onde trabalhei por muitos anos e pude pôr em prática a técnica assimilada na universidade, mas sobretudo, aprendi a conhecer mais da relação homem – animal de estimação, treinando a escuta através dos relatos dos tutores sobre o compartilhar de emoções, sobre as dores pelas doenças e partidas, as alegrias, a dedicação, o companheirismo, sempre aprendendo com cada um e doando o melhor de mim para que os amados pets fossem atendidos nas suas necessidades.
Nesta época comecei a realizar trabalhos voluntários com animais em lares de idosos, e com crianças com necessidades especiais. Mas sentia que havia ainda mais a ser feito.
Quando a insatisfação aparece, o nosso olhar se amplia buscando outros caminhos. Sentia uma enorme inquietação, sentia que estava me afastando do propósito da minha vida, e que esta, perdia significado no âmbito profissional.
Ansiava por um insight que apontasse a direção e libertasse-me daquela encruzilhada, sem culpas e sem lamentações.
E é isto mesmo! Há momentos em que, olhar com maturidade para os acertos e para os insucessos, para os sonhos que não saíram da gaveta, para outros que nem foram sonhados, sem julgamentos nem crucificações, dói um pouco, mas não mata! Ao contrário, lhe devolve a vida.
E assim, deste momento de dualidade, as sementes do meu sonho começaram a brotar na minha mente – num insight – e esta profusão mental intensa inundou as minhas mãos que começaram a plantar, germinando e frutificando o meu próprio negócio.
Você, caro leitor, que anseia pelo desfecho da minha história, aplaque seu desejo pelo final e curta a jornada, ela é sempre mais proveitosa e educativa.
Sempre cozinhei muito bem – sem falsa modéstia – e tenho muito prazer em nutrir a alma das pessoas com uma comida de qualidade, feita com amor. Procuro, no meu dia a dia, optar por alimentos vivos e orgânicos.
Adoro a profusão de cores das feiras livres, com sua infinidade de frutas, legumes e verduras. O alimento vem carregado dos afetos que experienciamos desde o útero materno, trazendo emoções, cheiros, texturas, sabores que nos transportam a épocas remotas, nos fazendo revivê-las novamente.
Mas como aliar o meu talento para a culinária com a minha profissão de médica veterinária? Todos os dias, parodiando Santo Agostinho, olhava para os fatos vividos no dia pensando no que eu poderia melhorar para o dia seguinte.
Pedia, nas minhas orações, uma intuição que sinalizasse o caminho profissional a seguir para que a minha presença no mundo, deixasse pegadas de autotransformação que inspirasse outros nas suas jornadas.
“Que seu remédio seja seu alimento” disse Hipócrates. Para mim, esta afirmação faz todo sentido, e procuro vivenciá-la nas escolhas pelo meu “pão de cada dia”. Pois bem. Porque não montar uma empresa que ofereça aos cães e gatos, os nossos amados animais de estimação, uma alimentação natural, com ingredientes orgânicos e balanceados do ponto de vista nutricional?
Foi deste desejo, deste momento “eureca” que nasceu a Natturalle Per Cane. O animal de estimação é, para muitos, um membro da família e como tal, é cuidado e protegido para que viva cada vez mais e com mais saúde e bem-estar. E a saúde começa pela alimentação, o alimento é vida.
Dentro da medicina veterinária, este é um conceito relativamente recente, mas vem de encontro aos anseios dos cuidadores dos animais de estimação que adotam para si mesmos, uma vida mais saudável.
Lastimo, espero que você também, por chegar ao final deste breve relato. Releio e concluo que a beleza da vida é o seu dinamismo, oferecendo a aquele que tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, a oportunidade de recomeçar.
Não seja vítima do conformismo, ouse e lute por aquilo que faz sentido para você. Permita-se sonhar, mas não se esqueça de que, em algum momento, se faz necessário tirar os sonhos da gaveta e realizar. Faça o que lhe faz feliz!
Minha gratidão aos bichos que são a causa primeira da existência da Natturalle Per Cane e da minha carreira profissional, e que me inspiram dia a dia na busca de conhecimento para devolver a eles todo o bem que me fazem.
Gratidão pela leitura