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Por trás das mídias sociais: quem é você?

Há duas semanas estávamos conversando sobre os usos e abusos das redes e mídias sociais – o quanto, por vezes, a noção do uso escapa o racional e o necessário, e torna-se vício? Esconde uma dificuldade de convivência do mundo real – timidez ou fobia social? Gera um problema ao afastar a pessoa conectada da convivência dos seus familiares ou é justamente para excluir-se desta convivência que a pessoa busca a conexão por um tempo excessivo?

Mídias sociais: seus usos e abusos
Mídias sociais

Estas são perguntas nem sempre tão simples de serem respondidas. O uso da internet como uma dependência ou vício não se dá tanto pelo número de horas que a pessoa passa conectada, mas pelo que ela deixa de fazer para ficar conectada. Ou seja, ela geralmente passa várias horas em conexão, mas o mais grave é que para permanecer online, visualizando, publicando, curtindo, respondendo ela deixa de estudar, atrasa trabalhos, perde ou desmarca compromissos, priva-se do convívio da família e amigos, descuida-se de si, da saúde, da alimentação e, em casos mais graves, pode descuidar da higiene pessoal e do local em que vive.

Conforme o sociólogo polonês Zygmunt Bauman já até alertou, “na era da informação, a invisibilidade corresponde à morte”. Isto equivale a dizer que estar online e ativo nas mídias sociais é manter-se vivo. Ou, como diz o ditado, “o que não é visto, não é lembrado”. E como temos pavor à morte, aquele que adere às redes sociais de maneira patológica ou excessiva, faz de tudo para permanecer conectado grande parte das 24 horas do dia, chegando mesmo a ter crises de ansiedade quando perde o sinal ou a conexão.

Se nem tudo são flores, nem tudo também são espinhos. Importante lembrar que a internet trouxe ao mundo a possibilidade das compras online, com entrega em domicílio de praticamente todos os gêneros de produtos, o que veio a facilitar a vida de todos e, em especial, daquelas pessoas que sofrem de algo que se denomina fobia social. Esta se caracteriza por ser uma síndrome ansiosa com manifestações de alarme, tensão nervosa e desconforto desencadeados pela exposição à avaliação social.

http://www.psicosite.com.br/tra/ans/anssocial.htm


Pessoas com esta síndrome temem a avaliação de terceiros. Logo, não conseguem comer, contar dinheiro ou assinar um documento em público, não falam com estranhos e muito pouco com pessoas conhecidas, sentindo-se mais seguros em suas casas. Poder contar com a internet para suprir suas necessidades e não precisar sair de casa para ir ao supermercado, a lojas ou shopping é especialmente útil e alentador. Desta maneira, a pessoa com fobia social consegue tudo o que necessita dentro da segurança da sua casa, sem desencadear crises de ansiedade – que ela pode julgar como desnecessária caso seja forçada a sair da sua zona de conforto e ir até um local público para adquirir o que precisa. Porém, importante lembrar que nem de longe esta se configura uma solução para o problema. Apenas é uma fuga da situação insuportável e que, a longo prazo, gera ainda mais isolamento e maior dificuldade para a resolução deste problema.

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Atrás das mídias sociais estão também muitas e muitos extremamente tímidos que conseguem, ao saberem não estar sendo vistos, uma coragem extra para se expressarem,  fazerem amigos e até mesmo buscarem relacionamentos com grau maior de intimidade e envolvimento. Para estes casos e de fobia social é possível também que opções de trabalho via internet sejam almejadas, já que se pode trabalhar sem ter que interagir diretamente com o público, que não o vê e não o conhece.

O fato de estar protegido no anonimato também permite à pessoa criar uma personalidade ao relacionar-se que pode não corresponder à realidade, já que uma imagem pode ser construída de acordo com o que a pessoa gostaria de ser sem que o seja realmente. Isso seria uma forma de ser aquilo que gostaria de ter sido. Por exemplo, uma pessoa tímida e reservada pode descrever-se como extremamente desenvolta, rodeada de amigos, eloquente e extrovertida.

Para Luciana Ruffo, pesquisadora do Núcleo de pesquisa de Psicologia em Informática da PUC/SP, “o uso das mídias sociais como Facebook e twitter podem proporcionar prazer e preencherem lacunas como a falta de contato com outros seres humanos. No entanto, contribuem para que a pessoa fique mais tempo isolada, transformando o ambiente virtual na sua fuga”.

Isso é bastante observado nas salas das casas de família, durante o almoço ou jantar, em que pais e filhos pouco conversam, mas todos estão interagindo com outras pessoas e, às vezes, até mesmo entre si, enviando mensagens via Whatsapp ou postando algo no Facebook uns dos outros, porém não estão falando uns com os outros. Não há sonoridade entre estes personagens, não há troca de olhares, não se compartilha as atividades do dia. Um fica sabendo o que o outro pensa sobre determinado acontecimento pelo que este outro critica, elogia ou apenas tece um breve comentário na sua rede social. As rodas de conversa, regadas a muito barulho, risadas, às vezes  uma cuia de chimarrão compartilhada, está sendo substituída pela roda de isolamento em que cada um, com seu aparelho celular, interage com um mundo de pessoas sem interagir com as que estão a centímetros de distância.

 

Imagem: https://cambiemoslaeducacion.wordpress.com
Imagem: https://cambiemoslaeducacion.wordpress.com

Também temos o inverso deste cenário. As famílias que tem um cotidiano conturbado, uma falta de diálogo ou de compreensão, em que um ou mais membros se sentem excluídos das conversas e decidem, deliberadamente, utilizar as mídias para justamente fugir deste cenário. Por vezes um dos atores escolhe jogar no celular ou conversar com pessoas amigas – às vezes até estranhas, para desligar-se, propositadamente, do seu ambiente com o qual não quer compartilhar ou do qual não se sente parte atuante.

Ambos os casos são motivos para serem revistos, repensados e remodelados pelos seus atores já que é a eles que compete a atuação diária e a convivência comum. Cabe ressaltar, por fim que aliado a pré-disposição ao desenvolvimento de transtornos como depressão e fobia social, o uso excessivo das redes sociais tornam-se facilitadores no desencadeamento destes processos.

Por fim, seja para o trabalho, seja para diversão ou para estar socialmente conectado, as mídias sociais devem estar a serviço de todos e não todos estarem à mercê delas. Da mesma maneira que podem ser facilitadores podem se tornar uma barreira e provocando ainda maior isolamento social.

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Adriana Cardoso

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