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Pornografia pode?

Uma imagem aqui, um vídeo ali, um grupo que envia, o outro que se anima, tudo para entretenimento, brincadeira e um pouco de fantasia, e por que não?!

Trabalho com sexualidade masculina e feminina há mais de 16 anos e desde então não havia me detido ao assunto da pornografia, pois até achava normal na fase adulta e sem excessos a utilização de algumas imagens e vídeos para dar uma “apimentada” na relação ou até utilizada durante a masturbação masculina, principalmente.

Porém no início deste ano tive contato com um artigo que falava sobre os males da pornografia e o assunto passou a fazer parte das minhas observações e investigações.

Comprovei que pessoas que consomem de forma regular pornografia, apresentam baixa e até nenhuma intimidade sexual com seus parceiros, o que os leva a buscar na fantasia o que lhes faz falta na realidade e isto me fez compreender o porquê de tanto sofrimento e insatisfação com relação à sexualidade.

E observei que o mesmo não ocorria com pessoas com nível de intimidade entre médio e alto com seus parceiros, pois conseguem dialogar abertamente sobre sexo e seus desejos, têm liberdade de se expressar durante a relação e fora dela e possuem sintonia sexual com o outro.

“O que é Pornografia e quem a consome”

A pornografia existe há muito tempo, porém nunca como hoje foi tão consumida a ponto de estar envolvendo e modificando o comportamento da sociedade e o pior é que os números deste consumo não param de subir. O foco deste mercado sempre foi a mulher. E agora você deve estar achando que eu estou louca… Mas se observarmos a história da humanidade, desde mais ou menos sempre, a mulher é o alvo do pensamento obsessivo da dissolução da família e da sociedade.

Mas afinal o que é pornografia? É o estudo ou descrição da prostituição, relacionado a tudo que é devasso, obsceno, licencioso, indecente, que ataca ou fere o pudor, a moral e os bons costumes, mas que provoca excitação, seja através de imagens expostas em revistas, livros, filmes…

A etimologia da palavra vem do grego, aquele que escreve sobre prostitutas, mas o que sobre elas? Exatamente o que vemos nas telas… E o que é uma prostituta? Alguém que por algum tipo de necessidade precisa vender seu corpo, vê nele a moeda de troca, faz dele um objeto de desejo e satisfação do homem, principalmente.

Já na origem da palavra se percebe como é algo nocivo e que degrada a imagem da mulher frente ao homem, pois seu cérebro não consegue distinguir a imagem que tem acesso com a de sua parceira, o que acaba tergiversando seu verdadeiro papel em sua vida, pois ele passa a vê-la como a tela lhe mostra, nada mais que um objeto que existe com o maior objetivo de lhe proporcionar prazer sexual, imagina mulheres com corpos esculturais como nas imagens e filmes que costuma assistir, o que pode gerar dificuldades de ereção, pois o que vê e imagina, não é condizente com a realidade da maioria das mulheres, a pornografia cria a ilusão de perfeição, gerando insatisfação com o que sua parceira tem a oferecer, o que leva a relações mecânicas, sem demonstração de amor ou envolvimento.

Geralmente entre os amantes da pornografia se encontram homens com tendências machistas, conservadoras e egoístas, comportamentos que reforçam o retrocesso da sociedade. São pessoas que não estão satisfeitas com sua vida sexual, que não tem intimidade com sua (seu) parceira (o), e buscam o prazer artificial que a pornografia gera ao invés de solucionar a causa de seus problemas reais, por medo ou acomodação.

Já para a mulher além dos problemas já descritos acima o consumo de conteúdo pornográfico gera problemas de autoestima, justamente pela comparação com os corpos que vê ou assiste e acaba voltando sua atenção somente para seu aspecto físico, sua beleza externa, assume literalmente o papel de objeto sexual, de admiração, ignorando que sua missão frente a si mesma e ao sexo oposto é algo muito superior ao que a indústria dissolvente propõe. E para que serve um objeto sexual? Para dar prazer ao homem, abrindo, muitas vezes, mão do seu próprio. Assumindo este papel acaba aceitando e permitindo certos tipos de abuso que não condizem com sua natureza. A pornografia vende uma ideia errada da forma como deve ser uma relação, pois a mulher acaba esperando que o homem a penetre como o ator pornô faz, imagina que se a atriz geme como louca enquanto ele a estoca, dando a entender que está tendo muito prazer e orgasmos, exige o mesmo do parceiro. Tudo na pornografia é mentira, pois um homem não consegue ficar por longo tempo em movimentos frenéticos.

Há casais que para poderem se entregar ao sexo veem juntos a vídeos pornôs para entrar no “clima”, pois precisam de um estímulo externo para poder se excitar, somente o corpo e a presença do outro já não basta, a quebra da intimidade entre eles está tão forte que a possibilidade de ter prazer e se entregar de forma natural é praticamente impossível.

A pornografia é inimiga do romantismo, do amor, da confiança, do respeito e impede um desenvolvimento saudável dentro de um relacionamento, pois ela dá a falsa ideia de que é capaz de reproduzir os sentimentos que somente relacionamentos reais, com pessoas de verdade são capazes de fazer, com o tempo e quantidade de pornografia consumida, torna-se mais difícil a pessoa se sentir atraída por outra ou entrar num relacionamento real, pois imaginam que há algo errado com eles mesmos, com os padrões irreais que se construíram dentro da mente. Ela causa solidão, ansiedade e depressão, pois é uma mentira, um mundo irreal, desde a aparência de uma pessoa até a maneira como se relacionam.

Sabemos que muitas pessoas consomem conteúdo pornográfico e isto hoje é considerada uma ação mais que comum, porém nem tudo que é comum é normal ou gera normalidade.

É claro que quem consome este tipo de conteúdo não sabe o que realmente está colocando dentro de sua mente e de seu coração, não sabem a seriedade disto para si, para a (o) parceira (o), para sua família.

“Consequências da Pornografia”

Com as facilidades do mundo moderno a pornografia está literalmente nas mãos das pessoas, pois podem acessá-la diretamente em seus celulares em qualquer lugar ou momento, a tecnologia é fantástica, mas é um facilitador direto para o desenvolvimento e fortalecimento deste vício. Ops! Vício? Sim a pornografia é considerada um vício, tão grave como o uso de drogas ou álcool, pois ativa áreas cerebrais produtoras de substâncias viciantes, é como se o cérebro tomasse um banho de dopamina, gerando uma reprogramação das conexões cerebrais responsáveis pelo prazer, o que pode gerar o crescente desejo por mais pornografia, realmente como acontece com um usuário de drogas, o vício vai crescendo e os danos causados nas conexões cerebrais vão aumentando, pois a satisfação que a droga ou a pornografia desencadeiam no cérebro é momentânea, uma euforia artificial, que faz com o cérebro fique exausto, dessensibilizado, infantilizado, pois segundo estudos do professor de anatomia e fisiologia Gary Wilson há a erosão do córtex pré-frontal, área do controle executivo, o que gera perda lenta do controle sobre seus impulsos e domínio sobre suas paixões, levando a perder a capacidade de tomar decisões mais acertadas. É um retrocesso para o cérebro. “O entretenimento “adulto”, na verdade, nos torna mais infantis”.

O cérebro não sabe diferenciar o real do irreal, um homem que assiste a um vídeo com dez mulheres numa orgia imagina como se realmente estivesse no mesmo quarto com elas, é por isso que a cena excita tanto, pois o cérebro não reconhece aquilo como irreal, o seu corpo se prepara para uma interação sexual que não está acontecendo realmente e, em muitos casos, não acontecerá nunca…

Mary Anne Layden, coautora e diretora do programa de traumas sexuais e psicopatologia da Universidade da Pensilvânia, afirma:

Os que veem pornografia acreditam que sua vida sexual vai ser melhor, mas tem ejaculação precoce, disfunção erétil e problemas para se relacionar”

Além de fazer toda essa modificação cerebral, a pornografia faz com que a função erótica da pessoa fique comprometida, gerando uma hipossexualidade, pois tudo que vive na imaginação, na hora real não se consuma, em geral há quebra de gráfico sexual, o que faz com que homens e mulheres pulem etapas, principalmente as preliminares, tão importantes para uma relação saudável, além de gerar frustração para a vida da pessoa.

O consumo de pornografia e outras fontes de prazer artificiais crescem de forma assombrosa porque as pessoas amam viver as aparências e percebo isto na sociedade em geral, que possui suas bases apoiadas na ilusão.

Quantas vezes na minha prática clínica percebi essa ilusão dentro dos lares, parceiros cobrando amor, carinho e sexo do outro… Onde vamos parar?  As pessoas estão tão carentes de afeto, carinho e atenção em suas vidas a dois que acabam aceitando uma intimidade com pouca ou nenhuma qualidade. Muitas vezes o cônjuge cobrado faz o que o outro quer por ser mais fácil fazer mais ou menos, do que ficar ouvindo reclamação, quanta hipocrisia! E o pior, queremos uma sociedade forte e saudável…

Como um casal pode ensinar seus filhos a se respeitarem e se valorizarem se eles próprios não o fazem? Tenho visto crescer nos lares a competição entre o casal, maridos aceitando cada vez mais os caprichos de suas esposas, abusos morais se repetindo de forma veemente.

Como um casal pode ensinar as filhas meninas a cumprir sua missão de companheira e colaboradora do homem na Terra e não apenas um objeto de satisfação sexual se eles próprios não conhecem esta realidade para poder ensinar? As mulheres que estão lá nas telas, que vemos sendo um estereótipo de fantasia para os homens, principalmente, certamente não foram educadas para esta finalidade superior que a natureza feminina está destinada.

Como ensinar os filhos varões a tratar bem uma mulher, a ser cavalheiro, delicado, educado com sua parceira, se o casal não vive isto, se muitas vezes a mulher não permite esta realidade? Se realmente o homem vê uma mulher como um objeto sexual?

O casal é a peça chave para uma sociedade forte e saudável, pessoas que fazem de sua vida a dois uma prioridade, para então estendê-la com qualidade aos filhos e à sociedade estão unidos e a pornografia e outros prazeres artificiais não são necessários. Casais unidos possuem uma família apoiada no amor e na realidade.

A família é a base da sociedade humana e o lar deve ser o refúgio terno e insubstituível do homem e da mulher que, após suas lutas diárias, volta a ele para encontrar o afeto e o respeito espontâneos, pois muitas vezes não os conseguem fora, quando isto não acontece por parte de um dos dois, ou dos dois, quando o desrespeito, a falta de atenção , as cobranças, as queixas, a falta de liberdade, o pisar em ovos se torna hábito, a família vai se destruindo, o caos se instala e toda intimidade seja pessoal, interpessoal e sexual se perde, a paz e o amor se vão, dando espaço para toda a fantasia e artificialidade.

A família mesmo quando os progenitores não vivem mais juntos, devido as mais variadas situações, tem plenas e, às vezes, até melhores condições de sobreviver saudavelmente e ser a célula de uma sociedade forte e feliz, não sou a favor da separação, da dissolução do lar, simplesmente sou a favor de uma vida a dois satisfatória e feliz, sou a favor da verdade.

Que estejamos abertos para a virtude, para o amor, à entrega, à intimidade real entre duas pessoas, mantendo os vícios longe de nossos lares

Priscila Calil Hermann

Fisioterapeuta com formação em microfisioterapia, Uroginecologia e Fisiosexologia, especialista em treinamento cerebral.

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Priscila Calil

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