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café da manhã

Sobre Cultura. Aceitação e Café da Manhã sem Café

Tenho vivido na ponte aérea do amor entre Brasil e Coreia do Sul há mais de 3 anos, e a pergunta que sempre me fazem é sobre como eu me viro com a alimentação.

Porque digamos assim que a culinária sul coreana não é apetitosa, ao menos para os meus padrões.

Sempre respondo que é fácil achar comida ocidental (mas não tem pão de queijo) e que me viro bem com saladas preparadas em casa – quase que impossível um self-service de folhas por aqui.

Pois bem, esta semana uma nova e desafiante experiência cruzou meu caminho, ao visitar a cidade de Wonju, localizada a menos de 150 km de Seul. Hotel bacana, absolutamente cercado por montanhas e deslumbrantes paisagens de pleno outono – aquelas nas quais as árvores nos presenteiam com folhagens vermelhas.

Wonju, Coreia do Sul
Oak Valley Resort, Wonju, Coreia do Sul

Único contratempo do resort – somente restaurantes coreanos e uma loja de conveniência – com centenas de produtos e suas embalagens ilegíveis. Já caí na cilada de comprar alimentos me orientando pelas imagens e não fui feliz!

Como tradição no local, as pessoas vão lá, escolhem o que querem, aquecem no micro-ondas e tudo certo. Sem conseguir ler as instruções isso me pareceu difícil demais da conta. Sem estresse.

Pacote de batata chips é praticamente universal. Desafio da janta aceito e superado.

Na manhã seguinte desfrutei daquele maravilhoso cheiro típico das regiões de montanhas, com uma temperatura de aproximadamente 11 graus (segundo meu sobrinho, para nós no Brasil isso é muitooooooo frio).

Entro no belíssimo restaurante com decoração local e uma vista estonteante. Decido me sentar bem próxima à janela, para tomar meu café da manhã apreciando aquela maravilha da natureza.

Noto o garçom em direção à mesa, segurando uma garrafa térmica. Hum, nada como um café quentinho numa manhã gelada.

Eis que pergunto “Café”. Não, não, responde ele. Café Coreano, o que pode ser traduzido por chá e outras especiarias as quais não sei nomear.

Por alguns segundos pensei em me levantar, mas lembrei que a tal da loja de conveniência só abriria suas portas depois de uma hora.

O típico café coreano, como a foto a abaixo nos mostra, é servido com chá, sopa, arroz. No cardápio tem até uma opção de sopa para ressaca.

Detalhe básico, o garçom não falava inglês e eu não falo coreano. Novamente, nada que um App de tradução automática não resolva.

Wonju, Coreia do Sul
Café da manhã no restaurante do resort Oak Valley, em Wonju, Coreia do Sul

Mesa montada. Chá servido. E eu louca de vontade de um café quentinho. Foi quando comecei a refletir sobre cultura e hábitos nessa imensidão de mundo em que vivemos.

Quem foi que disse que a refeição matinal tem que, obrigatoriamente, ser café com leite e pão francês torrado (apesar de que é bom demais da conta)?

Por que sempre encaramos como normais os nossos hábitos e anormal qualquer versão que fuja disso? O que soa como muito estranho para nós, é absolutamente comum para outros, e mesmo assim julgamos o que seria correto ou incorreto, com base no nosso ponto de vista.

Indo além da mesa do café, em vários acontecimentos do nosso dia a dia, seja na vida pessoal ou profissional, tendemos a achar que ‘sempre estamos certos’.

Eu me vejo super neste grupo. Como chegar a ser penoso aceitar o outro, suas opiniões, gostos, pontos de vista e hábitos.

Esta minha vida louca, sempre indo para lá e para cá tem me ajudado a observar e tentar aceitar outras culturas (especialmente, com relação aos hábitos que desfavorecem o empoderamento feminino).

A maneira que encontrei para lidar com tantas diferenças é treinar a aceitação. Veja bem, treinar (e ainda me encontro no nível iniciante).

Sinto uma tremenda dificuldade em avançar, mesmo que seja com passos curtos, e muitas vezes, tenho que retroceder para seguir.

A vista daquele canto do restaurante era estonteante o suficiente para me prender por lá, num momento apreciativo.

Se você está curiosa para saber como foi a experiência de tomar sopa de algas em pleno café da manhã, vou te dizer que foi um longo duelo interno – vencendo a tradição, aquilo que é conhecido.

Algumas colheradas de arroz e sopa e deixei o recinto. Era demais para o meu organismo, por mais que eu tenha tentado.

Caminhei lentamente em direção a tal lojinha e comprei produtos “conhecidos”, para um quase que tradicional desjejum. Como mencionei, o caminho é longo e a evolução tem sido gradativa.

café da manhã tradicional
Comprinhas básicas para o café da manhã tradicional

O pão de queijo quentinho com expresso fica para quando eu chegar no Brasil.

De volta ao quarto, continuei apreciando a linda vista enquanto tomava meu café da manhã sem café, respirando fundo com a sensação de ter aprendido algo.

Wonju, Coreia do Sul
Árvores com folhas avermelhadas – Vista da área de lazer do Oak Valley Resort, Wonju, Coreia do Sul

 

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Luciane Borges

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