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Violência Ginecológica – Palavras, ações e bisturi: as maiores feridas dos consultórios

Ela existe nas ruas, nas casas, nas escolas, nos ambientes de trabalho, nas igrejas, nos hospitais e em todos os lugares. Ninguém está livre dela, nem as maiorias e nem as minorias. Ela vem em maior ou menor grau. Ela é velada ou escancarada. Ela chega como verbo, como adjetivo, como sinônimo, como antônimo ou como ação. Ela vem na maioria das vezes por parte de quem mais se confia, de quem deveria proteger. Ela tem muitas formas e uma só consequência: a dor. Ela cala, ela machuca, ela mata. A violência existe.

Na verdade, ela sempre existiu, o que mudou foi a forma como ela é difundida e apresentada. A grande mídia e as redes sociais dão uma proporção assustadora desse mal que assola a sociedade e precisa sim ser discutido e combatido.

Se formos falar de uma forma geral, precisaríamos de muitas páginas, então, vamos nos ater a violência cometida por médicos ginecologistas e obstetras para com suas pacientes, sejam elas mulheres heterossexuais, lésbicas ou bissexuais.

Nesse âmbito a violência está presente nas palavras e na falta delas. Nas palavras quando são agressivas, desrespeitosas, jocosas e insensíveis. Na falta delas privando a paciente de entender o que realmente está se passando com ela e com seu bebê no caso de gravidez. Em ambos os casos, dispensando à paciente um tratamento nada condizente com a profissão, nem com a ocasião.

Muitos médicos (isto muitas vezes também se estende à equipe de enfermagem) cometem abuso de poder, desrespeitando suas pacientes dizendo que agora elas devem aguentar as consequências do trabalho de parto sem anestesia. Mulheres ouvem frases do tipo: “Na hora de dar (se referindo ao ato sexual) não doeu, né? Até virava os olhinhos e agora fica aí gritando de dor.”. Ou “Aguenta aí, não quis ter filho? Não abriu as pernas? Agora para de reclamar”. Entre outros absurdos que escutamos por aí. Violentam também transferindo a elas uma culpa que elas não possuem, por exemplo no caso de abortos espontâneos. Ou ainda ridicularizando a mulher que sente atração afetiva-sexual por outra mulher. Infelizmente o machismo e a opressão não acontecem apenas por parte de médicos homens, mas também por parte de muitas mulheres. O pior machismo ainda é o cometido pelas mulheres.

Outros profissionais acham que estão fazendo um favor a uma mulher lésbica mostrando a elas o que é um “homem de verdade” e usam seus consultórios como motel. Para evitar gritos e problemas, optam por sedar as pacientes antes. Talvez o caso mais conhecido é o do famoso médico Roger Abdelmassih, que teve seu registro profissional cassado em 20 de Maio de 2011, foi condenado em 23 de novembro de 2010, a 278 anos de prisão pela juíza Kenarik Boujikian Felippe, da 16ª Vara Criminal de São Paulo. Mas, histórias de abuso dos mais variados tipos acontecem todos os dias em todos os hospitais e consultórios em todas as partes do mundo. Um dos maiores problemas é o medo ou a vergonha que a maioria das mulheres tem de denunciar, tanto que os abusos por parte de Abdelmassih começaram em 1990 e as primeiras denúncias começaram a surgir em 2008.

Alguns casos de violência oferecem riscos às mulheres e aos bebês, outros apenas tratam-se de falta de sensibilidade e um certo despreparo dos profissionais para lidar com outro ser humano. Para se combater esse problema, do mais leve ao mais pesado é preciso além do debate – sem radicalismo – e da fiscalização, a educação e a humanidade. Com educação e humanidade todas as questões são facilitadas, pois há respeito, há bem querer e há consciência do papel de cada um. O profissional deve saber até onde pode ir e como agir e a paciente deve conhecer seus direitos e deveres.

A solução para estes absurdos é o diálogo franco, informação, e muitas vezes a denúncia. Não podemos nos acuar e achar que isso é normal ou que temos culpa pelo que aconteceu. Nenhuma vítima tem culpa de ter sofrido violência ou é responsável por ela. Precisamos ser fortes e não deixar que isto continue acontecendo.

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Bárbara Menêses

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