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It ou Id? Os nomes possíveis para a coisa

It ou Id? Os nomes possíveis para a coisa

Uma análise sobre o personagem, o psiquismo e a diversão que aterroriza

It ou Id? Para entendermos melhor porquê esse personagem clássico de Stephen King se assemelha a uma teoria de Freud (id, ego e superego) será necessário compreendermos cada qual em suas especificidades.

It, é considerado um romance de terror. Escrito em 1978 pelo mundialmente conhecido como mestre do suspense, Stephen King, ele seria lançado apenas em1986 após revisões do próprio King, já com boas repercussões. ¹

O livro conta a história de sete crianças que são perseguidas por uma entidade cuja a origem não pode ser concretamente determinada, sendo inclusive por isso denominada apenas como It, ou em tradução ao português “coisa”.

A criatura demonstra predileção por crianças pequenas, se alimentando principalmente do medo que elas possuem, tendo a capacidade de se metamorfosear nesses medos, utilizando a imagem do palhaço para atraí-las, primeiramente.

A ideia de um palhaço demoníaco, contrastando com o que esperamos dessa imagem, normalmente associada a alegria e diversão, causava na época e até nos dias atuais muito espanto. Somando se ao fato das vítimas serem inocentes, ou seja, crianças.
Para vencer a criatura, que de tempos em tempos, após satisfazer seu apetite hibernava. As crianças deveriam não apenas superar os próprios medos como também sair de uma certa inocência para encarar a criatura que queria devorá-las. Guardem esses detalhes, retornarei posteriormente a eles.

Por incrível que seja, está história aparentemente chocante devido ao enredo e levando em conta o período social em que se lançou, não provocou aversão, mas interesse. Tendo tido inclusive várias adaptações cinematográficas, sendo muito recente a última (2019).

O que será que há em nós que se vincula ao conceito de um palhaço assassino em tantas gerações diferentes, tornando essa história de 1986 em algo tão atual e aparentemente imortal?

Para aprofundarmos um pouco mais essa análise, vamos entender agora o conceito de Id, proposto por Freud em suas pesquisas sobre o aparelho psíquico.

Segundo Freud, o Id é uma estância psíquica que contém em si sobretudo nossas pulsões de vida, nossos desejos e impulsos para a realização do prazer para além da nossa busca instintiva por sobrevivência através dos instintos.

Id, Ego e Superego: Três Partes da Mente Humana

O id se dilui no inconsciente como uma força, traz em si a libido que nos move em direção a diversas realizações. Nele também se encontram outras forças, mas focaremos nos desejos a título dessa análise.

Dentro dessa força, não existem negações, as ambivalências são aceitas e coexistem com tranquilidade. Você pode perceber isso facilmente quando sonha, por exemplo, que um falecido te visita sem que te cause no sonho estranhamento. A pessoa pode estar morta, mas também viva.

Freud exemplifica através do sonho, pois, segundo ele é o local onde boa parte do id se manifesta e se realiza. E muitas de suas características, como o entendimento através de imagens e quase nunca palavras ou linguagem também se assemelham a própria dinâmica do id.

Agora pensemos, quais seriam os nossos comportamentos caso pudéssemos apenas manifestar e fazer o que desejássemos? E se nos movêssemos apenas para a realização do nosso prazer, seja qual for, sem impedimentos?

Talvez a sociedade virasse um caos completo, pois, contrapondo ao nosso prazer existe toda a realidade que nos cerca. Posso desejar voar, por exemplo, mas a realidade da gravidade rapidamente me frustraria ou até mesmo mataria.

Por tanto, para evitar a nossa própria morte, literal ou subjetiva, temos duas outras forças psíquicas que nos protegem. Sendo o superego as censuras sociais, morais, religiosas introjetadas em nós e o ego que faz a mediação entre o que desejamos e como poderemos realizar de forma “adequada”.

Dependendo de como essas forças estão estruturadas em nós, podemos inclusive passar a temer inconscientemente nossos desejos, pois secretamente escondido até de nós mesmos, nosso prazer pode ser a realização de coisas extremamente imorais, perversas e antissociais.

Mas, como o Id só quer se realizar, mesmo que seja contido temporariamente pelo nosso superego e ego, ele consegue um jeito de extravasar, mesmo que mude, despiste ou maquie um pouco a roupagem do desejo.

Ele termina assim se manifestando em atos falhos (quem quiser pode conferir um outro texto meu a esse respeito aqui Queimando o sofá, uma análise da mudança comportamental, chistes, autossabotagens, sintomas e outros meios.

Pois bem, creio que lendo sobre cada especificidade, já ficou claro ao leitor o porquê do personagem It também poder se chamar Id.

A ideia de o personagem ser um palhaço já nos remete ao id quando pensamos nessa representação dos nos nossos desejos, na nossa pulsão por buscar o prazer e a satisfação.

Afinal, palhaços em sua essência representam nosso lado lúdico, trabalha com a imagem alegre, colorida, nos remetendo a um ser que possui apenas o prazer e gozo pela vida, como se os desprazeres não o atingissem.

São maquiados e nunca conseguimos ver com clareza seu rosto e os verdadeiros sentimentos contidos nele. Assim como a própria dinâmica do id, que através de imagens distorcidas, esconde de nós mesmos nossos desejos profundos.

Tanto o id quanto o It se apresentam de forma que podemos ver, mas sem enxergar de fato. E ambos representam a pulsão do prazer, mas em uma espécie de diversão que nos aterroriza.

No caso do it, aterroriza pelo medo de sermos devorados após as brincadeiras. No caso do Id, aterroriza porquê se realmente soubéssemos e realizássemos nossos desejos mais secretos, seríamos devorados pela nossa consciência e pela sociedade.

As coincidências não param por aí, o It ataca principalmente as crianças. Tem raiva quando elas crescem. Assim como o id que pode se realizar plenamente na infância, passando na puberdade e fase adulta a ser reprimido cada vez mais.

E, lembra do que eu havia comentado sobre a hibernação do it após satisfazer seu apetite? De forma análoga, após obter a satisfação que busca, o id tente a reduzir a pulsão, diminuindo a tensão gerada quando não há o escape.

No it a ambivalência também existe, e assim como no id convivem com tranquilidade. Ele pode brincar e adorar as crianças, ao mesmo tempo que deseja mata-las e devorar seus corpos.

Os locais em que o It surge sempre são secretos, obscuros, no qual não podemos ter exata noção da profundidade. Bem como também não sabemos a idade real da criatura, e nem a quanto tempo existe.

Ele transita como se não houvesse passado ou futuro definidos. Apenas o presente.

O Id embora não possua uma localização neural ou fisiológica, permeia um lado em nós também obscuro, que não podemos ver com clareza. E para essa força, também não existe a orientação espacial ou temporal. Apenas o presente.

E como são vencidos? No caso do It, as crianças devem sair da inocência, sair da anestesia da fantasia criada por ele vendo a realidade por trás, superando seus medos e o enfrentando.

No caso do Id, devemos também olhar para ele sob o prisma da realidade e confrontá-lo, principalmente em uma terapia, como a psicanálise. Olhando o que ele nos mostra sobre nós mesmos, sem medo.

Afinal, não se pode fugir do It, ele sempre te encontra. Assim como quando tentamos reprimir demais nosso Id… Ele sempre vai se manifestar.

¹ – https://pt.wikipedia.org/wiki/It_(romance)

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1 Comentário

  • Rudson+Maia
    22 de julho de 2021, 23:07

    Muito boa abordagem Nice Martins,muito espaço para reflexão sobre nós mesmos,o que somos,pensamos que somos ou fingirmos sermos.Parabéns!

    RESPONDER

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