Artista que contribuiu com a cultura curitibana
Regina Bostulim, homenageada de março porque faleceu em março de 2021, aos 58 anos, em Curitiba. Ela foi uma artista completa: escritora, artesã, bailarina, jornalista, tradutora, fotógrafa, atriz, mística e empreendedora.
Essa autora é tão importante para Curitiba quanto Paulo Leminski, Helena Kolody e Dalton Trevisan. Mas ela não é tão famosa quanto esses citados acima, apesar de ter a mesma importância.
Por isso, professoras do Paraná desejam trabalhar com as obras de Regina Bostulim em suas aulas de: Literatura, Língua Portuguesa, História e Geografia no mês de março.
Nos anos 80, ela ajudou a fundar a Feira do Poeta, localizada no Largo da Ordem, ao lado do bebedouro, em Curitiba.
Regina era entusiasta do movimento Beat, que relatava a Arte de artistas rebeldes, no início da década de 1960.
Essa artista escreveu mais de 40 livros de papel onde a maioria das edições foi paga com dinheiro do próprio bolso, além dos e-books.
Ela também teve textos publicados nos seguintes jornais: Memai, Cândido, Mallarmargens, Gazeta do Povo, Tribuna do Paraná, Bem Paraná, Paraná em Páginas e Jornal de Santa Felicidade.
Morou cerca de cinco anos na Europa onde estudou Letras e deu aulas em universidades de Portugal.
Lá visitou o túmulo de Edgar Alan Poe onde declamou poemas góticos de sua autoria.
Seu livro mais famoso chama-se, As Bruxas de Antonina, onde descreveu algumas lendas populares dessa cidade e do litoral paranaense.
Para montar essa obra, a autora entrevistou mais de trinta moradores, do litoral do Paraná, sobre causos folclóricos da região.
Entre as lendas, no livro da escritora, está o famoso causo contado por, Neguinho da Feira Mar, que é a história de um bebê que não engordava.
Então sua avó decidiu passar uma noite ao lado do seu berço e notou que uma fita rosada surgiu do teto. Mas a vovó pegou uma tesoura e cortou a metade da fita.
Na manhã seguinte uma mulher, com fama de bruxa, apareceu com a língua cortada.
Os minicontos dessa escritora são curtos, mas de grande impacto, como o texto abaixo:
“MAKE UP (miniconto) – Maquiagem? Nunca usei maquiagem na vida. Ao invés disso, li as obras completas de Shakespeare.”
No texto acima, ela fala que a Cultura é mais importante do que qualquer tipo de futilidade.
Mas, isso é uma expressão poética, pois quem conheceu Regina pessoalmente sabe que ela usava diversas maquiagens estéticas no rosto. Porém, também, era culta e lia vários autores.
Já os poemas, dessa artista, são repletos de lirismo e sensibilidade. Assim analisarei o poema abaixo:
HOKUSAI
(hai-kais sobre o mundo gueixa)
O sonho da mulher do pescador
Fagueira fogueira
Guelra de peixa, deixa
Gueixa e riquixá.
No poema acima existe aliteração que é a repetição de fonemas com sons sonoros na parte que diz: “peixa, deixa e queixa…”
A aliteração traz ritmo e musicalidade ao poema. Por isso é uma figura de linguagem rica.
Aqui, também existe a junção de dois lados diferentes, Oriente e Ocidente, como nos sonhos noturnos. Isso fica claro na parte que diz: “gueixa e riquixá”, que são elementos que existem no Oriente.
Regina Bostulim, também trabalhava com a intertextualidade, que é quando um autor dialoga com o texto de outro escritor como se fosse uma paródia.
No texto abaixo, a artista faz intertextualidade, um tipo de paródia com o texto O Corvo de Edgar Allan Poe e também com a Mitologia Grega:
“Raven-Never
(transcriação)
meia-noite
alguém raspa minha porta
dezembro
e soluços poe-Lenora
meu coração repetia
isso e nada mais
implorei
mas a raspada continuava
na porta do quarto
escuridão e nada mais
sonhando sussurrei “Leoa”
tudo isso e nada mais
alma ardente
vento e nada mais
som de flauta
e nada mais
pássaro de ébano
noite de plutão
disse o corvo
“nunca mais”
o pássaro acima da porta
diz um nome como “nunca mais”
sobe num busto
e o pássaro repete
“nunca mais”
dúvida, melancolia
nunca mais
roupa de veludo
nunca mais
lâmpada a gás
nunca mais
perdida Lenora
nunca mais
tempestade, casa assombrada
nunca mais
anjos e a donzela Lenora
nunca mais
minha solidão
nunca mais
o pássaro preto
sobre o busto de Pallas
diz pela última vez
nunca mais”
A obra de Regina Bostulim também é repleta de humor como no trecho desse texto abaixo declamado no evento, das Marianas, antigo grupo conhecido como Meninas Que Escrevem Em Curitiba, no Solar do Barão, no Dia da Mulher, onde indiretamente funciona como um grito contra a violência doméstica:
“Dia da Mulher
Dia da colher
Colher de pau
Só metem o pau na mulher
Colher-mulher, mulher-colher
Socorram a mulher!”
O mais interessante é que no evento, onde a artista leu esse texto, ela levou o poema escrito em colheres de madeira decoradas por ela mesma.
Assim ela uniu Literatura e Artesanato.
A autora também curtia artistas do gênero Pop, isso fica nítido em seu livro: A Mulher dos Olhos de Cher.
Seu gosto, para lendas e causos, também aparece nos livros: Na Boate Gato Preto e Maldições Curitibanas.
Poucos anos antes de falecer, ela ajudou a ministrar os seguintes cursos livres: Escrita Criativa e A Ansiedade de Cada Mês do Ano.
Na Moda, ajudou com o movimento da Vesteterapia, estudo da personalidade através das roupas.
Na Dança, era adepta do estilo chamado Dança-Poesia, onde o bailarino faz gestos interpretando a letra ou com os instrumentos da música.
Nos saraus artísticos, seus figurinos eram luxuosos e criativos. Pois nesses eventos ela dançava e declamava poemas.
Regina também confeccionava artesanato criativamente. Por exemplo: ela pegava uma lata de lixo velha, com flores rasgadas de pano e criava uma cartola parecida com o chapéu do apresentador Chacrinha.
Seu interesse pelo Misticismo era tão aguçado que a autora escreve uma tese sobre a religião Wicca, onde também analisou a relação do esoterismo com o empreendedorismo.
Aliás, para Regina Bostulim, empreender era um ato de magia e de transformação.
Hoje seu viúvo, Anderson, está recolhendo os melhores textos de suas obras para relançar em uma coleção especial.
Caso alguma editora tenha interesse no projeto, peço para que entre em contato com Anderson.
No livro, Conexão IX, uma antologia com textos de diversos autores, escrevi um poema em homenagem a essa artista:
Aprendi Com Regina Bostulim
Regina Bostulim foi muita mais do que uma escritora
Ela foi atriz, bailarina, cantora e pesquisadora
Na Feira do Poeta, ela foi uma deusa repleta de magia
Trazendo ao Largo da Ordem a mais doce harmonia
Aprendi com a professora Regina Bostulim
Que se a bailarina é proibida de dançar no teatro
Ela ainda tem a rua e a estrada de terra carmim
Porque bailar na praça não é um simples ato
Mas uma revolução que nasce dentro de mim
Aprendi com a mestra Regina Bostulim
Que a mulher pode andar vestida com fantasia
De bruxa, de princesa, de fada ou de querubim
Pois tudo faz parte do espírito nessa travessia
Até mesmo o lenço pequeno e delicado de cetim
Aprendi com a eterna Regina Bostulim
Que para escrever Poesia ou Prosa
Basta o dedo se ferir no espinho da rosa
Para o sangue do mais puro carmim
Cair no papel e formar palavras com ternura
Capazes de curar qualquer tipo de amargura.
Abaixo, há links para quem deseja conhecer melhor a arte de Regina:
- http://revistacazemek.blogspot.com/2016/08/regina-bostulim-poesias-e-minicontos.html
- https://wordcatpress.wordpress.com/
https://www.youtube.com/watch?v=7sncXDKeAHY
https://www.youtube.com/watch?v=tyopAgtSpik
https://www.youtube.com/watch?v=fITrta993yI
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