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Benzedeiras e Benzeduras – Em Busca da cura ou da graça

Há quem diga que essa prática não é coisa boa, que não é de Deus.

Por outro lado, muitas pessoas ainda vão em busca dessa prática para a cura da dor, do mal físico, do mal da alma, ou mesmo para alcançar a graça de um emprego novo ou de um amor perdido.

Pesquisando em locais mais distantes, como roça ou povoado, onde essa prática e mais usual, encontrei a dona Maria, uma senhora de 82 anos, que decide contar sua experiência.

Ela conta que há 50 anos atrás, quando se casara, seu pai doou uma terra para iniciar uma vida nova com o seu esposo. Ela, moça de 32 anos, virgem, estava meio difícil encontrar quem a quisesse desposar, porém o Sr. José, vindo de outras paragens notou a beleza madura dela e se enamorou.

Era 02 anos mais jovem, sem dinheiro e sem moradia, porém o pai dela concordou em aceitar o matrimônio dos dois e ainda por cima ajudou a iniciar nova vida.

Sr. José era um jovem trabalhador, logo, aquela terra deserta e cheio de mato, foi criando vida. Uma casinha de dois quartos, cozinha e banheiro, um jardim em volta, cercada por cerca viva de manacás. Um caminho que leva ao lago com peixe, algumas criações e plantação de hortaliças para sobrevivência do casal.

A vida ia seguindo sua rotina, sem filhos, dona Maria costurava e cozinhava para seu esposo, tendo tempo livre, ajudava a vizinhança.

Um dia, Sr. José retornou do trabalho com febre alta e suor frio, desde então não conseguiu mais sair da cama, prostrado e sem vontade própria.

Muitos médicos foram chamados, sem solução, todos tinham a mesma resposta, não encontrava males físicos. O último desenganou-o dizendo que estava desnutrido e fraco.

Nesse meio tempo, Dona Maria que tinha muitas comadres, pois toda a vizinhança a convidava para batizar suas crianças. Preocupada ela confidencia para a comadre mais íntima, ao qual a comadre conta de uma benzedeira que estava na cidade vizinha para benzer uma criança.

A comadre conta que todos na redondeza acreditavam no milagre que ela tinha nas mãos. Dona Maria, sem titubear, com intuito de ajudar seu amado esposo, se arrumou e recomendou que a comadre ficasse na casa e tomasse conta de seu amado.

Ao amanhecer, ela pega única condução que ia até próximo do roçado, na cidade pega o intermunicipal e vai a cidade vizinha em busca de ajuda. Uma cura alternativa para a doença de seu esposo. Tinha fé dentro de si que essa benzedeira iria curar seu esposo.

Chegando na cidade, logo se informou e ficou sabendo que a chamam de Vó Dita, e vai até onde ela se encontrava.

Ao se aproximar, Dona Maria adivinhava que aquela casa era onde Vó Dita estava, tinha um jardim cheio de plantas aromáticas, e a cada passo o bem-estar substitua a angústia que sentia há muitos dias.

Quando bateu palma no portão, foi atendida pela simpática senhora que, com sorriso tranquilizante, a convidou para entrar.

Enquanto dona Maria narrava sua desdita, Vó Dita ia preparando o incenso, chumaço de plantas e uma vasilha. Era o preparo necessário para medicação de Sr. José.

Sem perda de tempo, rumaram direto para o sítio do casal, onde a comadre já preparava o ambiente, deixando a casa mais arejada, com janelas abertas. Na cozinha um café fumegante e um bolo de fubá, o tradicional da roça.

O quarto do casal também recebeu um trato, a comadre deixou a janela entreaberta, com o vento suave trazendo o cheiro de terra molhada pela garoa da manhã, esvoaçando a cortina levemente, trazendo um ar menos lúgubre ao ambiente. O Sr. José, porém, estava do mesmo jeito, febre alta e suor gelado molhando suas roupas.

Vó Dita, logo pede licença e vai à cozinha preparar o remédio, macerando as plantas separa um pouco para o chá e outro tanto para o banho. Coloca numa vasilha e pede panos limpos.

Acende o incenso, abana a casa toda sempre rezando, depois convida as duas para a cessão no quarto, onde pede que as duas rezem o Pai Nosso, enquanto ela vai molhando o corpo do doente sem camisa, desde o pescoço até a altura da cintura, nos braços, nas costas.

Ao terminar o banho, ele acorda como que de um transe, olha em volta e se assusta com tanta gente no quarto do casal, e questiona com o olhar à sua esposa, que amorosamente se chega e o abraça, contando aos prantos, tudo que se passou desde o dia em que ele veio doente, há dois meses. Vó Dita pede que ele tome o chá.

As três mulheres em volta da mesa do café, aguardava o Sr. José se banhar e se trocar, ao aparecer no limiar da porta da cozinha parecia rejuvenescido, com barba feita e colônia pós barba. Sorriu sem graça para as três, olhar agradecido.

Enquanto comia o delicioso bolo, Vó Dita contou que, ao chegar naquele solo abandonado, o Sr. José conseguira dar vida ao lugar, todos na vizinhança se alegraram menos um. Ele tinha inveja, então todos os dias olhava com raiva para tudo o que nascia na terra. Sem querer, amaldiçoava as mãos promissoras.

O Sr. José e Dona Maria não costumavam ir à igreja ou rezar. Isso facilitou o mal a se instalar.

Ela recomendou ao Sr. José, a tomar o chá por mais alguns dias, porém a verdadeira cura para qualquer mal, a essência é a oração. Ela recomenda rezar Pai Nosso com fé, pela manhã e ao anoitecer, agradecendo a Deus por tudo que Ele concedeu e a proteção pelos dias que se seguem.

Porque as benzeduras tiram o mal olhado, a inveja, o mal físico, porém se manter no bem, depende de cada um; e não permitir que o mal te pegue, depende da fé em Deus.

Atualmente, com 80 e 82 anos respectivamente, Sr. José e Dona Maria vivem felizes, continuam a plantar e criar bichos, distribuem tudo que não conseguem consumir, continuam a batizar crianças de todos os lugares, que os procuram.

 

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Heloísa Kishi

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